Fabricantes de eletroeletrônicos têm primeira queda de vendas em 4 anos

27/02/2022 – Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo | Economia & Negócios | Página: B1

 

Em 2021, no contexto de poder aquisitivo corroído pela inflação e produtos mais caros, o varejo comprou 94,1 milhões de aparelhos, 7,2% a menos do que em 2020

 

A indústria de eletroeletrônicos de consumo fechou 2021 com o primeiro resultado negativo em quatro anos. As fábricas venderam para o varejo 94,1 milhões de aparelhos, volume 7,2% menor do que o do ano anterior, segundo a Ele-tros, a associação que reúne os fabricantes do segmento.

A maior queda ocorreu nos televisores, de 15,8%, seguida pelos eletroportáteis (7%) e pelos eletrodomésticos da linha branca, como fogões, geladeiras e lavadoras, com retração de 4,9%. A única linha cujas vendas cresceram no ano passado foi a de aparelhos de ar-condicionado, que avançou 7,2%, somando 4,45 milhões de unidades. Mesmo assim, houve uma freada no ritmo de alta. Em 2020, as vendas do produto tinham aumentado 30% sobre o ano anterior.

“Foi uma frustração. Nem no primeiro ano da pandemia tivemos números tão ruins”, diz o presidente da Eletros, José Jorge do Nascimento Júnior. Em 2019 e 2020, o setor cresceu 5% a cada ano. E a expectativa era de avançar mais 5% em 2021 ou, numa perspectiva otimista, até 10%.

Esse prognóstico até parecia viável por conta do desempenho do primeiro semestre, que registrou avanço na casa de dois dígitos sobre o ano anterior. Mas o mercado virou no segundo semestre. Entre julho e setembro, as vendas caíram 16% em relação ao mesmo período de 2020. E um tombo de 28% veio no último trimestre, período que inclui Black Friday e Natal, as melhores datas de vendas para os eletroeletrônicos.

SEM PODER DE COMPRA. A queda nas vendas tem a ver com a disparada da inflação, que corrói o poder aquisitivo dos consumidores, e a consequente alta dos juros. Como boa parte das vendas dos eletroeletrônicos é financiada, esse foi mais um obstáculo ao consumo a prazo. Fora isso, com o avanço da vacinação e a reabertura dos serviços, passou a haver uma disputa pelo bolso do consumidor por outros setores, como turismo, segundo o presidente da Eletros.

A forte pressão de custos de produção – com forte alta no preço do aço, aumento da tarifa de energia elétrica e a questão do câmbio – também deixou os eletroeletrônicos mais caros. Isso inibiu vendas.

Neste início de ano, o mercado continua fraco. “O varejo está bem estocado, e estamos numa situação bem complicada para vender nossos produtos”, diz Nascimento Júnior. Segundo ele, houve indústrias da linha de áudio e vídeo que deram dez dias de férias coletivas em janeiro para enxugar a produção.

Essa frustração das vendas aparece nos estoques acumulados. Conforme a Sondagem da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o saldo de empresas do setor que declararam ter estoques excessivos em janeiro deste ano foi de 36,6%. É a maior marca desde dezembro de 2019 (37,7%) e também superior ao número de dezembro de 2021, de 314%.

Quando um setor está com um número maior de empresas com estoques elevados, o passo seguinte é a redução ou a estabilização da produção, explica Cláudia Perdigão, pesquisadora da FGV e responsável pelo estudo. De dezembro para janeiro, o nível de utilização da capacidade instalada das fábricas de eletroeletrônicos e itens de informática, por exemplo, caiu mais de quatro pontos percentuais: de 74,4% para 70%, aponta a pesquisa. “Isso significa que o setor deu uma desacelerada na produção”, afirma a economista.