ÍNDICE
2. Balanço 2021 e Perspectivas para 2022
— EDITORIAL —
Chegamos à nossa última edição do Conectados de 2021!
Este foi mais um ano desafiador para o nosso setor, com a pandemia, obstáculos logísticos, inflação de maneira geral, entre outros desafios. Mas, que apesar de tudo, um ano que mostrou como superar barreiras e mais uma vez se reinventar.
Dentre os desafios, o aumento do frete marítimo e a disponibilidade de contêineres nos portos. Para falar um pouco sobre este cenário e mostrar os trabalhos que estão sendo realizados para mitigar o impacto na cadeia nacional, o Conectados convidou Flávia Takafashi, Diretora da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários).
Para fazer um balanço de 2021 e falar sobre as expectativas para 2022, tivemos a honra de conversar com quatro importantes porta vozes de nossas Associadas, um de cada segmento que representamos: Ar-Condicionado, Linha Branca, Linha Marrom e Linha Portátil, Fernando Cunha (JC Hitachi), Sergei Epof (Panasonic), Eduardo Brunoro (TPV) e Paulo Sanford (WAP), respectivamente.
Mais um dos temas na agenda do setor é o avanço das negociações sobre a abertura da economia do país para receber produtos importados. Por essa razão, o segmento de linha branca da Eletros, contratou um estudo, realizado pela 4intelligence, que analisou os impactos de um possível acordo comercial do Mercosul com a Coreia do Sul.
O Diretor da Linha Branca na Eletros, Renato Alves, mostrou os principais pontos desse trabalho em um breve artigo.
Boa leitura, e até 2022!
O Conectados é um informe periódico da Eletros com o objetivo de reforçar, junto à opinião pública e formadores de opinião, a importância de nossa representatividade ao desenvolvimento econômico e social do país.
FIQUE LIGADO
SAIBA OS ÚLTIMOS ASSUNTOS QUE MOBILIZARAM A AGENDA DA ELETROS
A Eletros e suas Associadas tiveram a oportunidade de dialogar, no dia 08.12, com Michel Neil, Sócio-Diretor da PATRI Políticas Públicas. Neil abordou sua visão sobre os cenários e relações políticas em 2021 e 2022.
Em encontro virtual, a Eletros e suas Associadas se reuniram com o Senador Angelo Coronel (PSD | BA) no dia 26.10, para debater o Projeto de Lei 2.337 | 2021, que altera a tributação sobre a renda no país. Em pauta, as contribuições do setor para que a proposta seja instrumento de estabilidade econômica, segurança jurídica e simplificação operacional.
ELETROS APRESENTA ESTUDO SOBRE ABERTURA COMERCIAL
Nas agendas do final de outubro e início de novembro a Eletros realizou reuniões com o Ministério da Economia, Secretário Especial de Produtividade e Competitividade, Carlos da Costa, Secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Roberto Fendt e com o Superintendente de Economia da CNI, Renato da Fonseca, para apresentação do estudo realizado pela consultoria 4Intelligence, sobre os impactos do acordo Mercosul – Coreia do Sul para a linha branca no Brasil.
Na semana de 18 a 22.10, a Eletros promoveu o Seminário online “A Imunização na Indústria” às suas Associadas. Foi uma semana de debates especiais, com convidados do Poder Público e do setor privado, que compartilharam seus conhecimentos e experiências, em suas áreas de atuação, sobre como lidar, hoje e no futuro, com relações de trabalho condicionadas à imunização individual, a ambientes de trabalhos seguros e à possível caracterização da Covid-19 como comorbidade ocupacional.
BALANÇO 2021 E PERSPECTIVAS PARA 2022
“Somos uma empresa muito proativa e muito focada na sustentabilidade”.
Fernando Cunha
Diretor Geral da América do Sul na Johnson Controls Hitachi
- Conectados – Como você avalia o ano de 2021 em relação a 2020 para sua companhia? Isso tendo em vista o contexto inédito e desafiador que tivemos devido à pandemia?
Em 2021, a JCH (Johnson Controls Hitachi) estava mais bem preparada para enfrentar a pandemia do que no início de 2020, momento em que foi realmente muito difícil para todos. Tivemos que aprender como se portar, como ter uma comunicação mais transparente, a fazer tudo virtualmente, o que se tornou um processo de aprendizado brutal.
Ao mesmo tempo, houve um grande esforço para adaptar as contas da empresa à realidade do mercado, que basicamente parou. Usamos de todos os artifícios possíveis e fizemos de tudo para não demitir.
Portanto, quando entramos em 2021, já existia uma bagagem em relação à forma de operar e nos preparamos para o pior cenário, o que não ocorreu. No fim das contas, tivemos o melhor ano da nossa história nos últimos 5 anos da fusão da Johnson Controls Hitachi, em termos de resultado e em termos de faturamento, com aumento de participação de mercado e resultado recorde.
Foi um mérito da empresa traçar uma estratégia coerente e realista para executar durante o ano. A ampliação de portfólio, por exemplo, foi muito importante para conseguir alavancar os resultados deste ano, assim como também a ampliação da área de serviços.
Agora, carregamos estes dois pilares que vão continuar garantindo crescimento pelos próximos 3 anos.
2. Conectados – Poderia falar mais sobre a ampliação de portfólio?
A JCH tem duas marcas que apresentam portfólios de produtos bem diversos. Uma delas é a York Internacional, nossa marca centenária, que tem um portfólio muito grande de equipamentos de água gelada comercial. Há 5 anos, a joint venture com a Hitachi, empresa com produtos mais voltados para a área comercial leve e residencial, complementou esse portfolio e abriu novos mercados.
Nesse período, tratamos de estruturar um processo de ajuste de estratégia, em termos de planta de fornecimento de produtos, para conseguirmos partir para novas oportunidades de negócios mundo afora.
Uma coisa é ter um portfólio lá fora, porém o Brasil tem certas peculiaridades, que precisam ser observadas. Por exemplo, não se pode importar uma série de produtos, a produção tem que ser nacional. Apesar de contar com uma base fabril muito forte, a JHC precisou se adaptar e o resultado foi a grande ampliação do portfólio de produtos.
De uma forma geral, crescemos por volta de 27% em 2021. Apesar da comparação com a base de pandemia não ser boa, considerando o período pré-pandemia, é quase como se a pandemia não tivesse ocorrido. Foi um ano sofrido, mais bem sucedido.
3. Conectados – Com um cenário econômico mais desafiador por conta do câmbio e inflação, quais foram os principais impactos na produção? Houve pressão de custos por conta de insumos e pelo custo da logística?
Houve diversos aumentos de importantes insumos, como cobre e aço. A variação cambial também foi um fator, assim como problemas com a cadeia de suprimentos. Tudo isso afetou muito a indústria.
Por essa razão, tivemos, necessariamente, que repassar parte dos preços absorvidos. Para que isso não fosse um choque, foram necessárias conversas muito abertas com parceiros comerciais, distribuidores e fornecedores. Essa comunicação franca foi necessária para conseguirmos minimizar os impactos.
Por outro lado, temos uma base fabril muito forte, somos a única fábrica voltada para equipamentos pesados, e nossa engenharia foi ágil o suficiente para trocar componentes quando precisavam ou quando faltavam suprimentos. Essa agilidade contribuiu para baratear alguns itens sem perder a qualidade.
Nós também fazemos importação e exportação, por isso, considero que estávamos em uma situação melhor de não sofrer tanto quanto na média, parte do mercado sofreu com a variação cambial.
Não tivemos interrupção da produção, o ano passado foi um dos primeiros que não tivemos férias coletivas. Operamos com dificuldades, mas sem parada.
4. Conectados – O setor eletroeletrônico como um todo teve que investir em canais alternativos de venda, mesmo os já inseridos antes da pandemia. Como foi isso para JCH?
Tivemos que intensificar nossos esforços no aumento de diversificação dos canais de venda, principalmente na parte de produtos comerciais leves, residencial e peças. As vendas de peças via site praticamente triplicaram.
Além de a fonte de receita com as vendas online ter sido muito importante, a consolidação de nosso sistema de vendas foi uma fonte de tranquilidade para os clientes. Na parte dos canais de equipamentos, os nossos distribuidores de produtos comerciais leves (para lojas de ruas e residências de alto padrão) tiveram que se apoiar muito no e-commerce, o que contribuiu de forma importante para a ampliação do market place
Todos tiveram muita dificuldade com as lojas físicas e precisaram investir nessa transformação. Como fornecedores, a parte que nos coube foi fornecer a eles material digital e facilidades de financiamento para ajudá-los a passar por esse período da melhor forma possível. Apesar disso, acredito que tivemos uma migração, tanto no residencial como no comercial leve, entre a loja física e a online de em média 80%.
Em termos de canal de venda a área comercial (equipamentos para shopping, hospitais, supermercado) mudou muito pouco pela engenharia envolvida. É uma venda muito técnica, as pessoas compram muito mais no presencial.
5. Conectados – Quais serão, na sua visão, os principais desafios para 2022?
Na minha visão, o maior desafio será a pressão das empresas, principalmente as multinacionais, de se recuperarem desses últimos 2 anos difíceis. Todas querem voltar mais bem posicionadas e capitalizar o mais rápido possível o que não ganharam nos últimos anos.
A JCH tem um plano estratégico de crescimento a realizar nos próximos 3 anos. Dois dos pilares fundamentais serão os já mencionados anteriormente: ampliar o portfólio com foco no residencial, onde ainda não temos uma penetração relevante e o outro é vender menos commodities e mais serviços com valor agregado, como contratos de manutenção; trocas de equipamentos, com financiamento, manutenção embutida, aluguel.
Estamos tentando diversificar o máximo possível na área de serviços, porque, além de contribuir para aumentar a margem agregada da empresa, esse processo possibilita criar um mix e contribuir para um crescimento saudável da JCH como um todo. A expectativa é que essa estratégia possibilite que a empresa dobre de tamanho até 2024.
6. Conectados – O que esperar do setor produtivo para o próximo ano? Retração, estagnação ou progressão?
É difícil prever. Trabalhamos com alguns cenários e apostamos em um crescimento, não tão grande quanto esperávamos há alguns meses, até por conta das eleições que estão por vir e trarão um cenário um pouco conturbado no segundo semestre, além do perigo de uma 4ª onda de Covid-19, como está acontecendo em alguns países.
No entanto, esperamos um ano melhor do que 2021. Espera-se que o mercado de ar-condicionado deva crescer em torno de 10% a 12%. Esse mercado sempre cresce um pouco mais do que o PIB do país. Há segmentos, como o residencial, que cresceram durante a pandemia. O segmento representa 70% do nosso mercado, a indústria cresceu junto para alimentar esse volume.
O que temos de risco e que acho que a indústria deve ser cautelosa, é que as vezes ocorre aquela euforia coletiva, de querer recuperar em 1 ano o que não conseguiu nos últimos 2 anos, o que pode ocasionar um aumento exagerado da oferta de produtos da indústria nacional e que talvez o mercado não absorva. Isso gera consequências muito críticas para o mercado em termos de “guerra” de preços, e também impacto nas demissões. Um dos riscos é a empresa pecar por um otimismo exacerbado neste momento em que estão se planejando para 2022.
7. Conectados – Em um cenário de ano eleitoral e desafios importantes na economia, você acredita que o Auxílio Brasil pode ter impactos positivos para os incentivos para consumo?
Acreditamos que o Auxílio Brasil pode contribuir para uma melhora geral de consumo, em especial, na indústria de ar-condicionado. O outro lado da moeda é que quando se ultrapassa o teto de gastos se provoca um efeito negativo entre os investidores, que também acaba dificultando a atração de novos investimentos para áreas comerciais e industriais, devido aos investidores externos estarem mais receosos.
De uma forma geral, o residencial deve melhorar e o comercial pode sofrer um pouco, com alguns projetos maiores, pelo menos até a bolsa e o dólar melhorarem. Independente do impacto na indústria, o auxílio é bem-vindo e precisa ser um auxílio que seja contínuo, pois a situação em que nos encontramos não é sustentável.
Uma indústria precisa de previsibilidade para fazer planejamento. Com esse momento instável, estamos a todo momento com muito receio, calculando os riscos, tendo que remanejar despesas. Não é um mercado ideal para a indústria e queremos que passe logo porque são muitas famílias e cadeias que dependem disso. Temos que olhar muito para essas pessoas que no fim das contas fazem o produto chegar ao mercado.
Eu torço por uma estabilidade que a indústria não tem há algum tempo, tanto pela pandemia, quanto pelas mudanças de alíquotas repentinas, comunicação entre governo e indústria, que acabam afetando toda a cadeia produtiva e parceiros comerciais.
8. Conectados – A crise hídrica e energética trouxe à pauta a importância dos investimentos em eficiência energética. O que sua empresa tem feito a respeito disso e a respeito de sustentabilidade de forma geral?
A JCH tem um pilar global de sustentabilidade muito forte. O CEO, George Oliver, participou, em novembro, de reuniões com o Presidente e Vice-Presidente dos EUA para aprovar mais emendas em relação a eficiência energética e emissão de gases.
Somos uma empresa muito proativa e muito focada na sustentabilidade. Um dos produtos destaque da empresa é uma automação em nuvem que tenta unir todas as informações de prédios comerciais visando a otimização de insumos, redução de gases etc.
No Brasil, A JHC lançou produtos mais eficientes. Nossa nova linha de VRF tem uma eficiência muito grande, o sigma splitão e chillers. De maneira geral, temos investido muito em equipamentos de maior eficiência, selos ”A” e refrigerantes menos agressivos. Isso do lado do produto. Nossa preocupação é sempre trabalhar sustentabilidade com a responsabilidade social de forma integrada. Um exemplo é a logística reversa para descarte adequado e ações como “o papel fora da mesa”, transformando tudo em digital.
Além disso, a sensibilidade do consumidor e investidores sobre empresas sustentáveis mudou muito. Não é só uma questão de obrigação social e sim de sobrevivência, todas as empresas têm que investir e até usar isso como um pilar de estratégia.
Sergei Epof
Vice-Presidente de Appliance da Panasonic do Brasil
“A Panasonic, como empresa centenária, pensa muito a longo prazo, então não haverá mudança no que diz respeito a investimentos, vamos manter nossa política. Com relação ao tema de eficiência dos produtos, acredito que o consumidor vai continuar investindo em produtos com melhor performance”
- Conectados – Como foi o ano de 2021 em relação a 2020 para sua companhia?
Não temos como falar de 2021 sem falar de 2020. Infelizmente, em 2020 houve interrupção na produção devido a pandemia, fomos obrigados a parar pelas movimentações dos estados. Contudo, não tivemos nenhuma demissão, e com isso, retornamos bem às atividades fabris.
Se formos falar em vendas, 2021 foi um ano de desenvolvimento, então vemos isso e nossa previsão de crescimento é trazermos novamente 2 dígitos para 2022.
2. Conectados – Com um cenário econômico mais desafiador por conta do câmbio e inflação, quais foram os principais impactos para a produção? Houve pressão de custos por conta de insumos e pelo custo do transporte?
Todos entramos em 2021 com pensamento positivo devido à redução de casos por Covid-19, mas, infelizmente, em janeiro já começamos a viver picos da doença novamente. Aí vieram os desafios diferentes dos vividos no ano anterior.
Em 2020, faltaram produtos, porque não conseguíamos atender as demandas, devido à falta de matérias-primas. Neste ano de virada, tivemos um desafio logístico muito grande com semicondutores afetando toda a cadeia. A logística internacional também foi muito afetada nesse processo todo. Mas, tivemos que nos adaptar – a adaptação é um dos nossos valores – a este novo cenário de escassez da matéria-prima e logística, fortes aumentos de commodities, aumentos excessivos nos custos das bases de contêineres e outros.
3. Conectados – Você vê impacto da inflação no ânimo do consumidor?
Fazendo um balanço do ano (2021), no 1º semestre não tanto, havia um certo impacto, mas ainda havia consumo. Em casa, com as lojas fechadas, as pessoas estavam investindo mais. Já no 2º semestre, claro que a base comparativa não é boa, porque o 1º semestre de 2020 foi baixo e o 2º foi muito forte, mas esse ano, nós conquistamos um expressivo crescimento versus 2020.
4. Conectados – Como você enxerga 2022?
Enxergo mais um início de ano desafiador, a inflação na nossa cadeia é bem maior que a inflação média do país, e infelizmente o consumidor tem perdido o poder de compra. O crescimento da inadimplência e a não geração de empregos também deve ser um desafio para todos nós.
5. Conectados – A produção está atrelada a isso? O que espera da parte de produção?
A Panasonic, como empresa centenária, pensa muito a longo prazo, então não haverá mudança no que diz respeito a investimentos, vamos manter nossa política. Por exemplo, com relação ao tema de eficiência dos produtos, acredito que o consumidor vai continuar investindo em produtos com melhor performance, devido ao alto custo de energia elétrica, e temos isso a oferecer. Nosso refrigerador BB71, por exemplo, com os novos índices de eficiência A+++, pode gerar uma economia de R$ 300,00 a R$ 400,00 por ano. Nessa linha, os planos da Panasonic é que as vendas de 2022 sejam maiores que 2021.
6. Conectados – Com relação ao Auxílio Brasil já implantado, com possibilidade de ser permanente, acredita que pode ter impacto positivo para os negócios da empresa?
Sempre que é injetado dinheiro no mercado, independente da classe social, se tem um benefício de consumo. Isso é evidente em todas as políticas feitas para estimular o consumo em qualquer país. A demanda do ano passado foi grande porque mundialmente se injetou muito dinheiro nas economias. Tudo isso faz a “engrenagem girar”. Qualquer incentivo ajuda. Mas, claro, cabe a cada país analisar sua política de teto de gastos.
7. Conectados – Como foi a Black Friday da Panasonic?
Foi uma Black Friday com um crescimento em valor de vendas (devido ao preço dos produtos). Passamos a data esperada e obtivemos um resultado bastante positivo referente a 2020. O produto mais vendido foi nossa geladeira A+++.
8. Conectados – A crise hídrica e energética trouxe à pauta a importância dos investimentos em sustentabilidade e eficiência energética dos produtos eletroeletrônicos. O que sua empresa tem feito a respeito?
Devido à escassez de chuva, o custo de energia está bem mais alto em algumas regiões, na ordem de 50% a 60%, acima da bandeira vermelha. Entretanto, esse é um assunto que nos beneficia neste momento. Isso porque, recentemente, o Inmetro divulgou as novas regras para a classificação de produto, prevendo a adoção de novos níveis de eficiência energética a partir de um processo de atualização do Programa Brasileiro de Etiquetagem. Portanto, os produtos mais eficientes são os com selos A+, A++, A+++. Neste sentido, produzimos uma linha de produtos com excelência em eficiência, 90% das geladeiras são A+++, que significa melhor consumo de energia, impactando direto no bolso do consumidor.
Temos mantido as nossas vendas muito focadas no tema, é a nossa bandeira de comunicação para este momento que o mercado está precisando tanto.
Inclusive, eu diria que ESG (Environmental, social and corporate governance) já estava em nosso DNA há muito tempo. Todo o tema ambiental, sustentabilidade e governança já faz parte de nossa pauta, e está em melhoria constante. O aprimoramento contínuo também é um de nossos valores, então a gente projeta que cada novo produto seja melhor que o anterior.
Outro exemplo é que este ano, começamos a comercializar uma lavadora de roupa de 12kg com o menor consumo de água e uma melhor eficiência de lavagem. Nosso diferencial está no desempenho geral: eficiência energética, consumo de água, eficiência de lavagem e eficiência de centrifugação, com isso, a economia chega a 20 litros de água em um ciclo de lavagem.
Nós acreditamos na escassez de recursos, que inclusive já vivemos, por essa razão, continuamos investindo em produtos de melhor performance, com níveis acima de “A”.
“Seguimos rigorosamente o nosso cronograma. Só que ao invés de ter os eventos presenciais, que era o grande mote dos lançamentos, fomos nas feiras online.
Lançamos, por exemplo, uma linha nova de TV Android e monitores gamers com uma super velocidade e uma super resolução”.
Eduardo Brunoro
CSO na TPV Vision
Conectados – Como você avalia este ano de 2021 em relação ao ano de 2020, o que vivemos de diferente este ano tendo em vista este contexto de pandemia?
Em 2020, no começo da pandemia, tivemos aquele boom que parou tudo, e também um segundo semestre muito forte, porque todo mundo ficou em casa e começou a renovar os eletroeletrônicos, mobilhas e reformar a casa, para melhorar o ambiente. Por isso, teve essa explosão de consumo, principalmente de eletroeletrônicos de forma geral.
Desse modo, o ano de 2020 acabou fechando bem, na sua grande maioria para a indústria. E todo mundo entrou em 2021 bastante empolgado, achando que iria ‘nadar de braçada’. Mas, tivemos a segunda onda da Covid-19 e o problema sério de Manaus, onde se fabrica praticamente quase tudo no Brasil, e, em paralelo, um problema de crise institucional no Brasil de maneira geral. Então, começaram as crises de bolsa, a descrença na economia brasileira, e, logo, uma diminuição de consumo. Há um detalhe importante, pois no ano anterior o país teve a ajuda do governo, que injetou na economia por volta de R$ 50 bilhões, que é um valor estratosférico. Pessoas que não ganhavam aquilo começaram a ter uma renda diferenciada e começaram a consumir. Já este ano, não temos essa renda.
São aspectos negativos, e que se consolida agora com inflação muito acima do que esperávamos. A inflação, obviamente, vem no bojo de um contexto mundial, pois tivemos aumento da cadeia inteira. A matéria-prima mais básica teve aumento. E a cadeia começa a ter que repassar isso, porque não consegue absorver a totalidade. Tem aumento logístico, de componentes e outros. Por exemplo, o preço dos painéis de Televisores aumentou por volta de 40%.
Conectados – A composição do preço é muito complexa porque tem toda a cadeia; a logística, o frete marítimo, ou seja, uma série de fatores.
Sim. O frete marítimo é um exemplo perfeito. O preço de um contêiner da China para o Brasil subiu, em média, seis vezes em dólar. Isso tem um impacto brutal dentro de um contexto de produto no qual a matéria-prima é toda importada.
Conectados – Como foram as movimentações na Black Friday?
Analisamos algumas movimentações legais, mas no nosso caso, principalmente em televisões de tela alta. Nas telas mais de giro, não se identificou uma movimentação muito forte de preço, até porque não tem muito espaço. Já nas telas de 60” para cima, houve uma movimentação um pouco maior. Agora, nas telas de 32” até 50” houve movimentação de preço, mas nada muito intenso.
Conectados – Por conta da inflação, problema na renda e outras questões, a Black Friday deste ano deve vender menos volume e o valor deve ser mais interessante. Acredita que isso seja por ser mais consumida pela classe média e classe alta?
Isto é um fator, mas tem um outro, porque o próprio preço dos produtos subiu bastante. Olhando o mesmo produto no ano passado, se identifica que o preço este ano tem uma diferença bastante significativa, porque houve um aumento natural por causa de todo o contexto mundial. Estamos falando de covid, de matéria-prima, logística, tudo isso. Os preços subiram de uma maneira bastante significativa em todos os aspectos, por isso, a cadeia de produção teve que aumentar o preço. Uma parte, foi absorvida, mas infelizmente não deu para absorver tudo.
Conectados – Em relação à produção, como vocês sentiram esse impacto?
A produção sofre por uma conjuntura. Se falta matéria-prima, afeta a produção. Há ainda, a questão da logística desbalanceada que também afeta o cronograma de produção. Todo produto importado vem em kits, ou seja, em partes. Essas partes não vêm num contêiner só, vêm em mais de um contêiner.
Então, um exemplo, um kit com 3 contêineres, 2 vão e 1 fica, devido ao gargalo da América do Sul, principalmente o canal do Panamá. Um navio grande chega até o porto do México, lá tem um transbordo para cruzar o canal, porque ele não aguenta navio muito grande. Por isso, chamamos de kit desbalanceado.
Outra coisa: tem o desbalanceamento da logística interna, que é a descida de Manaus para os centros consumidores. Há uma limitação de navio saindo de Manaus, tem limitação de balsa, limitação de carreta, há todo um o contexto, desde a falta do silício lá fora, que produz o componente eletrônico, o desbalanceamento na entrega da carga, a produção em Manaus extremamente afetada por causa da covid, a saída de Manaus de logística também por causa de gargalos, ou seja, a cadeia inteira sofrendo.
Conectados – Como foi a migração ou intensificação dos canais digitais e canais de vendas?
Isso acabou ocorrendo de maneira relativamente natural, porque os nossos grandes clientes naturalmente foram para o canal digital. O canal digital tem prós e contras. O pró que é uma venda mais rápida e mais fácil e, por outro lado, margens mais apertadas. O canal online entrega uma margem um pouco menor do que o canal físico. Hoje, vemos as grandes redes com 40% digital e 60% físico. Isso era muito menor. O físico caiu bastante. Por volta de 60%, mas já chegou a ser muito mais, 90%, por exemplo.
Conectados – Vocês têm venda direta para o consumidor?
Lançamos um canal especial de venda direta, B2C, em nosso site da loja Philips e o site da AOC. Mas, a nossa estratégia no online não é concorrer com o nosso próprio cliente. Isso é importante deixar claro. Eu não tenho a precificação do online do meu cliente. Até por conta dos volumes e estratégias de vendas.
Conectados – Como foi a ampliação de portfólio nesse período de pandemia? Vocês fizeram alguma antecipação ou seguraram algum lançamento?
Seguimos rigorosamente o nosso cronograma. Só que ao invés de ter os eventos presenciais, que era o grande mote dos lançamentos, fomos nas feiras online.
Lançamos, por exemplo, uma linha nova de TV Android e monitores gamers com uma super velocidade e uma super resolução. Além dos monitores feitos em parceria com a Porsche designer, um produto hiper diferenciado.
São duas linhas: uma linha normal que já tínhamos, que era monitor de consumo e agora o lançamento desse monitor gamer com uma resolução altíssima e pedestal que imita o chassi da Porsche.
Conectados – A linha de TV Android tem algum diferencial?
Tem um processador que chamamos de P5, que é um superprocessador, e tem uma resolução e refresh da imagem muito perfeita. O grande potencial é o processador P5 que é uma tecnologia exclusiva da Philips.
Conectados – Como é que você enxerga 2022? Há alguma projeção de crescimento?
Imaginamos um cenário extremamente desafiador, porque algumas variáveis estão ficando um pouco mais claras agora, principalmente, por exemplo, um dos fatores importantíssimos, o preço do painel.
O preço do painel está caindo, mas os estoques estão altos. Por isso, o consumidor vai sentir a queda de preço do painel no produto final, por volta do fim do ano que vem.
Em janeiro, temos um rescaldo da Black Friday e do Natal. Mas, o próprio varejo não tem como ser extremamente agressivo, porque não tem mais margem para isso. Imaginamos alguma estratégia, mas, nada extremamente agressivo.
A economia vai estar restritiva. Há dois fatores, que na minha visão são um pouco conflitantes. Primeiro será um ano de Copa do Mundo, e isso é bom. Só que teremos um ano de eleição também. Por isso, são forças contrárias. Há um terceiro fator, a Black Friday junto com a Copa do Mundo. Então é um liquidificador e, na hora que bater, não sabemos direito o que vai sair.
Sobre a projeção de crescimento, não prevemos que será alto, mas alguma coisa vai aparecer com certeza.
Conectados – Hoje vemos um esforço no Congresso para a aprovação da PEC dos Precatórios. Caso aprovada, ela pode viabilizar o Auxílio Brasil. Você acha que esse dinheiro pode impulsionar o consumo assim como foi o Auxílio Emergencial em 2020?
Ajuda, é claro. Mas o contexto mudou. Porque antes ainda tinha um rescaldo e algumas pessoas ainda estavam empregadas. Na primeira onda de covid, as pessoas não tinham tanta preocupação com coisas mais prioritárias, hoje já está diferente. Além de ser um valor menor.
Apesar disso, o impacto sempre é positivo, mas não vai ser tão forte igual aconteceu da primeira onda. Outro fato é que a inflação comeu muito dessa capacidade das pessoas de comprar, até alimento que é o básico do básico.
Conectados – Em relação à sustentabilidade, quais são as políticas de vocês em termos de sustentabilidade, o que vocês fazem nas fábricas em relação isso?
A TPV é muito preocupada com toda a questão de ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa). O primeiro exemplo é que temos uma estação de tratamento para a saída de efluentes da fábrica.
Também, estamos trocando significativamente o isopor pelo papelão, pela polpa, que é muito mais correta do que o isopor. Temos projetos, para que a caixa da TV seja reutilizável. Irá com “picote” e com manual para que o consumidor monte uma fruteira ou porta treco, por exemplo.
Também estamos trabalhando muito forte na fábrica de Manaus para instalar grandes painéis para energia solar. Como somos uma empresa aberta em bolsa, também compactuamos com todas as melhores práticas de governança, principalmente em ESG.
Além desses pontos, trabalhamos fortemente nos projetos de logística reversa no âmbito da política nacional de resíduos sólidos, para descarte correto dos produtos eletroeletrônicos.
Paulo Sanford
CEO na Wap
“Apesar de todos os desafios, este ano a WAP teve um crescimento forte, de mais de dois dígitos. Em grande parte, fomos favorecidos pela questão geográfica de compra no mundo online”.
- Conectados – Como foi o ano de 2021 em relação a 2020 para sua companhia? O que esperar para 2022?
Há cerca de 5 anos, a WAP vem fazendo um trabalho intenso de transformação digital, com um direcionamento de grandes esforços no aprimoramento da tecnologia e produção de conteúdo. Com isso, a companhia ganhou força nas plataformas digitais e, quando a pandemia chegou, estava preparada para atender o rápido crescimento da participação dos canais online no consumo.
No período anterior à pandemia, a nossa cesta era equivalente à cerca de 20% de sell out no online. Após a reabertura das lojas físicas, o desempenho do ambiente online mais que dobrou na comparação com o período pré-pandemia. A WAP foi muito beneficiada por causa dessa mudança de hábito, principalmente pela preparação anterior que nos possibilitou atender a essa demanda.
Analisando a conjuntura econômica, em 2020 houve um primeiro momento de pânico e insegurança no consumo. Na sequência, houve uma recuperação do consumo, principalmente de bens duráveis e reposição de produtos. Muitas pessoas compraram novos equipamentos para se adaptar e lidar com a nova realidade trazida pela quarentena. E o primeiro semestre de 2021 foi um momento de inércia, uma continuação do ano de 2020.
Em julho de 2021, com a reabertura gradual de alguns setores da economia, aumentaram as alternativas de consumo de renda. Outros produtos e serviços, como viagens, restaurantes, cinema, atividades de lazer em geral passaram a competir com a aquisição de eletroeletrônicos, o que provocou um certo declínio nas visitações de produtos.
2. Conectados – Com um cenário econômico mais desafiador por conta do câmbio e inflação, quais foram os principais impactos para a produção? Houve pressão de custos por conta de insumos e pelo custo do transporte?
Pelo lado operacional, desde o início da pandemia vem acontecendo um grande desequilíbrio de suprimentos (matéria-prima e logística) em todo o mundo. Esperava-se que isso perderia força logo no início de 2021, o que não ocorreu.
Para se ter referência, antes o custo médio de frete de um contêiner era de U$ 2 mil. Atualmente, paga-se U$ 13 mil pelo mesmo contêiner, o que provoca um grande impacto na inflação para bens de consumo e insumos.
Em um cálculo básico, o custo unitário de 2 mil insumos para produção, que antes era de U$ 1,00, passou para U$ 6,50.
Toda a cadeia produtiva está sofrendo com o aumento dos custos logísticos. Em paralelo, também houve um ciclo de valorização das commodities, principalmente dos metálicos e dos derivados de petróleo. Algumas inclusive ainda estão no ciclo de alta. Já outras commodities ainda irão iniciar esse ciclo. O fato é que todos os insumos estão muito mais caros na comparação com um ano e meio atrás.
Além disso, há o impacto da alta do dólar no período, que é a base de cálculo de todos esses custos. Saímos de um ambiente anterior à pandemia em que o dólar estava entre U$ 4,00 e U$ 4,20 para a taxa de câmbio atual que permeia U$ 5,50, trazendo um choque inflacionário enorme.
Há também o efeito da disponibilidade de transporte e de insumo, provocado pelo grande desequilíbrio instalado nos portos do mundo todo, que operam com uma capacidade reduzida na ordem de 40%. Por isso, as filas para se conseguir contêineres e navios mais que duplicou no período analisado.
Esses fatores causam um grande impacto operacional. Se antes havia um prazo de 120 dias para fazer o provisionamento, esse prazo passou para 240 dias, ainda com o risco e a insegurança de não receber o produto de fato nessa data. Por enquanto, a solução é planejar com a maior antecedência possível para manter a cadência.
3. Conectados – O que na sua opinião poderia minimizar os desafios dos contêineres?
Na minha visão, como não é possível controlar o ambiente global, existe uma ferramenta que se poderia utilizar para diminuir esse gargalo logístico do Brasil, que seria reduzir o imposto sobre Marinha Mercante (taxa sobre o custo nominal do frete).
Se trata de uma alíquota de 25% sobre o custo nominal do frete dolarizado. Um ajuste nessa taxa seria uma ação de curto prazo viável a ser aplicada para amenizar todo o impacto inflacionário que está por vir.
Essa taxa impacta tudo. Antes ela era marginal, mas 25% de uma base de U$ 13 mil é totalmente diferente de 25% de U$ 2 mil.
4. Conectados – Há algum tempo a indústria brasileira convive com questões burocráticas na questão logística, como você citou, isso piorou na pandemia, mas qual a contribuição desse custo burocrático no Brasil em relação a isso?
O principal gargalo não é local, mas sim mundial. Cada país e cada baía tem sua política. Por exemplo, a baía de Roterdã está operando com 50% da mão de obra instalada e a grande maioria dos cascos passam por lá. Então, um casco que era operado em 3 dias passou a ser operado em 6 dias. Isso acaba provocando um efeito cascata que acumula em todos os equipamentos, contêineres, cascos e tripulação. Além dessas restrições, a China está sofrendo com a redução de jornada devido ao racionamento de energia.
Esses fatores causam efeitos significativos na cadeia logística, chegando até a cadeia de suprimentos do Brasil. Por isso é um complexo mundial.
Toda essa desorganização leva a um ambiente que não é o ideal para os negócios e pode, consequentemente, elevar os custos e a inflação.
5. Conectados – Quais os principais desafios para 2022? Quais as expectativas para o cenário econômico? O que esperar do setor produtivo para o próximo ano? Retração, estagnação ou progressão?
Acredito que os principais desafios são lidar com a inflação e o desequilíbrio de suprimentos, pelo menos no 1º semestre. Ainda contaremos com uma inércia de inflação nos próximos meses, mas medidas para controlar a inflação, retomar a organização fiscal, por meio de uma reforma tributária, e a implementação do Auxílio Brasil podem oxigenar a base, mantendo os níveis de consumo atuais.
Apesar de todos os desafios citados, este ano a WAP teve um crescimento forte, de mais de dois dígitos. Em grande parte, fomos favorecidos pela questão geográfica de compra no mundo online. Conta muito a questão de onde o conteúdo é consumido. Hoje o brasileiro passa mais de 7 horas nas redes sociais e no mundo web, portanto está consumindo conteúdo nessas novas plataformas.
Ocorre uma inversão da soberania entre o mundo online e o mundo físico. Eu vejo isso com bons olhos, pois atrai players fortíssimos no mercado nacional cada vez mais robustos em termos de logística e tecnologias fundamentadas em dados.
6. Conectados – Como é a relação da WAP com inovação? Como ocorrem as parcerias com startups, com esse mundo que apesar de já estar há alguns anos em andamento, ainda tem muito a desenvolver?
A WAP é uma startup que nasceu de uma indústria. Em nossa cultura de startup, prezamos muito por velocidade. Nos organizamos em uma estrutura de três camadas, todas com autonomia e empoderadas com dados.
Com essa estrutura de apenas três camadas, sabemos que estamos sujeitos a mais riscos. A forma de mitigar esses riscos é pelo nosso intenso trabalho de basear as decisões tomadas sempre em análise de dados. A WAP preza pela transparência. O nosso colaborador tem acesso a todo e qualquer dado da companhia, sem nenhuma restrição.
A política da WAP é deixar claro que todos fazem faz parte de um contexto e o efeito dessa política é uma máxima inclusão e uma enorme autonomia. O mundo digital demanda essa dinâmica pois tudo é muito rápido.
E essa autonomia e inclusão tem como objetivo enxergar o cliente e ser guiado por ele. Os dados do cliente iluminam nossa estratégia. E adaptamos a estratégia sempre que preciso. Por isso, conquistamos destaque no mundo de consumo nos últimos três anos.
7. Conectados – Em um cenário de ano eleitoral e obstáculos importantes na economia, você acredita que o Auxílio Brasil pode ter impactos positivos para o consumo?
O Auxílio Brasil será uma ferramenta necessária não apenas para oxigenar a camada mais necessitada do Brasil, mas para contribuir no reforço do consumo.
No ano que vem haverá uma instabilidade política, mas, mesmo assim, esperamos um ambiente melhor. Não penso em um ambiente de downgrade comparado ao que nós temos hoje, independente do cenário futuro.
Talvez tenhamos um ambiente mais controlado na cadeia produtiva de suprimentos, uma melhora na organização e o consumo se mantendo a níveis adequados. A WAP está se posicionando para um crescimento robusto, porque ainda enxergamos que essa troca de soberania do ambiente online e o ambiente offline ainda está em maturação.
8. Conectados – A crise hídrica e energética trouxe à pauta a importância dos investimentos em sustentabilidade e eficiência energética dos produtos eletroeletrônicos. O que sua empresa tem feito a respeito?
Desde a sua origem, a WAP demonstra uma preocupação muito forte com a sustentabilidade. Nossa tecnologia, nosso core business iniciou com a lavadora de alta pressão, que virou sinônimo da categoria, proporcionando economia de até 80% de água, quando comparada à mangueira de jardim comum.
À medida em que fomos avançando para produtos complementares, sempre procurou-se reforçar essa ótica de otimização de recursos, com produtos que entregam mais ao consumidor e consomem menos.
Com relação à crise hídrica, temos um problema maior, que é a crise elétrica. A hídrica não é a mesma que vivemos em 2015. Atualmente, os mananciais de São Paulo estão superiores a 38%, enquanto em 2015 estávamos contando com 5% do volume morto.
Porém, agora temos uma crise energética, que é uma consequência da nossa matriz hídrica, que dependem dos reservatórios das hidrelétricas. Como o período de chuvas está chegando, tudo indica que teremos um ambiente favorável. Com isso, acreditamos em um ambiente mais normalizado no 2º trimestre de 2022.
9. Conectados – Gostaria de destacar algo que não tenhamos abordado em nossa conversa?
O Brasil é um país super resiliente, uma população de mais de 220 milhões de habitantes, é um mundo de consumo a ser alimentado e contamos com um ambiente tecnológico e logístico em evolução.
O país também conta com grandes players nacionais investindo, otimizando as operações. Com isso, tenho certeza de que teremos um ano próspero em 2022. Apesar de todo o ruído, não podemos ficar paralisados, temos que “arregaçar as mangas” e entregar o melhor ao consumidor brasileiro.
FRETE MARÍTIMO
Flávia Takafashi
Diretora da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) do Ministério da Infraestrutura
“Ser competitivo é isso, investir em infraestruturas e melhorias nos serviços, para que o país consiga atender a demanda. O aumento da demanda também beneficia o importador e o exportador brasileiro, mas é necessário ter condições para recebê-la. E essas condições passam necessariamente pelos terminais portuários brasileiros.”
- Conectados – Foi criada uma força tarefa na ANTAQ para tratar do aumento do frete marítimo. Poderia nos contar um pouco sobre esse trabalho?
A ANTAQ começou a acompanhar o assunto, inicialmente, através de notícias e reuniões em que se tinha como pauta o aumento do frete e dificuldade na logística em relação aos números de contêineres vazios para fechamento da escala.
Importadores e exportadores, começaram a relatar dificuldades para exportar suas cargas. O que antes era apenas um problema com omissão de escala (quando o navio atrasa a sua rota e omite um porto) passou a surgir, também, a questão de que o navio faz sua escala, mas ao invés de levar o produto, leva o contêiner vazio, não espera para fazer o carregamento porque precisa escalonar sua rota.
Além dessas questões, entrou o valor do frete, que aumentou muito, as vezes gerando um desincentivo ou até uma perda de atratividade para exportação da carga brasileira, impactando no custo do produto final para quem está importando o produto exportado do Brasil.
Por estas razões, a ANTAQ decidiu acompanhar mais de perto o assunto. Até para saber se estava recebendo mais denúncias de sobre estadia. Assim como a omissão de escala gera um ônus maior para o exportador, o fato de escalar e não carregar o contêiner também, porque é preciso esperar uma nova linha para que o contêiner seja exportado.
Há 14 unidades regionais da agência reguladora fiscalizando os estados. Para tanto, a ANTAQ solicitou identificarem como estavam os portos de cada uma das regiões, no intuito de conter os problemas de maneira mais sistematizada. Para isso, foi criado um grupo de trabalho, coordenado pela Diretoria, composto por representantes de cada uma das Superintendências da área de estudos. Essa área acompanha os números de movimentações de contêineres, que mensalmente, os terminais encaminham para a ANTAQ. A agência também tem acesso aos sistemas mercantes, onde é possível perceber, se o número de omissões de rolagem de cargas está aumentando. Dessa forma, de maneira mais direta, através dos números, identificou-se o aumento das movimentações de carga, e também, o crescimento do número de contêineres.
No início da pandemia houve queda na importação, em contrapartida, a exportação já estava mais alta, houve uma virada nas rotas, sendo muito mais exportação do que importação. Atualmente, grande parte dos terminais de contêineres brasileiros estão operando com um alto volume de ambos (importação e exportação). Então, em termos de eficiência, os terminais estão dando conta, não estão com ociosidade e sim movimentando intensamente. Porém, há muito mais carga a ser movimentada, porque o consumo do mundo aumentou significativamente, devido a facilidade da compra online. Esse não é um fenômeno só do Brasil e sim do mundo.
O levantamento de dados indica que a baixa oferta de contêineres se dá pela alta movimentação de cargas. Paralelo a isso, a ANTAQ acompanha se os números de denúncias de casos de sobre estadia também tem aumentado por conta dessa alta demanda. São esses números que dão um mapeamento do setor para a agência.
Fonte: ANTAQ, Estatístico Aquaviário | Dados de janeiro a setembro 2021 x 2020.
2. Conectados – Alguns fatores, como o aumento do dólar e da demanda global pelo frete marítimo, afetaram muito as importações de diversos segmentos, inclusive o nosso, principalmente na importação de matérias-primas. Como a ANTAQ tem tratado esta questão na força tarefa? Há alguma proposta de ação para amenizar esses impactos?
A ANTAQ tem conversado com terminais, associações que representam os terminais, representantes dos armadores e com os usuários, para entender os impactos.
Inclusive, foi realizada reunião com a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e algumas empresas que importam e exportam. A intenção foi levantar as percepções e dificuldades das empresas, para que diante desse mapeamento de cenário, a agência identifique se há algum ato ou algum alcance da regulação que possa mitigar o impacto para a cadeia nacional.
3. Conectados – Considerando que o valor do frete marítimo comumente integra a base de cálculo das taxas de capatazia, e considerando ainda o aumento no custo do frete decorrente principalmente da desvalorização do real e do próprio mercado global de transporte marítimo, como a ANTAQ poderia equalizar o cálculo destas taxas de modo a mitigar os efeitos da volatilidade do frete?
Dentro da competência da ANTAQ (Lei de criação) está o acompanhamento dos valores dos fretes. Porém, a composição desses fretes é do modelo internacional. Não será uma atuação da agência que vai impactar diretamente nesses valores.
Isso tudo também está ligado à alta do petróleo, às questões do dólar e aumento da demanda, por exemplo. De fato, a agência tem acompanhado esses aumentos, mas, em relação aos fretes internacionais, essa relação do importador da exportação brasileira é negociada diretamente com os armadores internacionais, por isso, a agência tem pouco, ou quase nenhum alcance.
A ANTAQ controla os terminais, em termos da logística de recepção e de entrega da carga, para não gerar prejuízos ao importador e tão pouco ao terminal. Para que ambos consigam gerar a eficiência mais adequada possível, para que diante desse novo cenário não se tenha impacto maior.
Os terminais têm aumentado a capacidade de recepção, eficiência de movimentação e investimentos. No dia 26.11, por exemplo, a Santos Brasil inaugurou a extensão do terminal de contêineres no porto de Santos. Este é um terminal que vem quebrando recordes de movimentação e expandindo sua capacidade. O Brasil possui terminais eficientes que dão conta de receber o crescimento da movimentação, mas, suas linhas de navegação não estão tão integradas na logística de cadeia internacional, então é muito mais um interesse dos armadores virem para o Brasil e aumentar a frota para que haja, eventualmente, maior competição e diminua o frete. Para isso, o Brasil deve ter uma costa equipada, com portos eficientes que recebam navios cada vez maiores que também trabalhem com uma eficiência de movimentação. Isso naturalmente gera maior atratividade para que o Brasil seja cada vez mais inserido nessas rotas internacionais de transporte.
4. Conectados – No contexto da força tarefa criada, como também para além dele, qual a visão da ANTAQ quanto à necessidade de oferecer aos importadores e exportares condições que lhes permitam ser mais competitivos no comércio internacional?
O trabalho da ANTAQ é permitir que do ponto de vista estrutural, o Brasil consiga absorver a movimentação que é natural da demanda do mercado.
Ser competitivo é isso, investir em infraestruturas e melhorias nos serviços, para que o país consiga atender a demanda. O aumento da demanda também beneficia o importador e o exportador brasileiro, mas é necessário ter condições para recebê-la. E essas condições passam necessariamente pelos terminais portuários brasileiros.
5. Conectados – Poderia citar algumas medidas que a ANTAQ tem trabalhado para melhorar a infraestrutura portuária nacional, bem como modernizar sua gestão, processos e procedimento?
– Licitações e regularização dos terminais: quando se licita mais terminais, se põe à disposição mais infraestrutura de transportes. Mas, entre aqueles existentes, se for dentro do porto público, se este quiser investir em aumento de capacidade e em novos equipamentos, por exemplo, a ANTAQ atua reequilibrando os contratos de forma célere, para que se faça a repactuação e o porto obtenha maior segurança jurídica para investir.
Funciona da seguinte forma nos portos públicos: é solicitado o investimento no poder concedente, este envia o processo para a ANTAQ que reequilibra o contrato público e, posterior a isso, o poder concedente autoriza a realização do investimento. O papel da ANTAQ nesse reequilíbrio de contratos dos arrendamentos é importante, porque é isso que vai fechar o ciclo para atrair investimentos e deixar os portos públicos mais aptos.
– Outorga de TUP (Terminal de uso privado): a ANTAQ faz parte do programa de concessão de outorga de TUP, então o processo de outorga mais eficiente e mais rápido, passa pela agência, que tem feito isso com muita celeridade. Apresentando o pleito de obtenção de outorga e tendo a documentação em dia, é uma aprovação muito célere, não tem gargalos de manifestação da agência, o que precisa é estar com a complementação da documentação.
– Contêineres: a ANTAQ atua de perto para mitigar as abusividades da cobrança dos preços. Os preços dos terminais são livres e podem pactuar livremente nos contratos, mas a agência tem o papel de atuar no controle da abusividade, e isso mediante denúncias levadas à agência ou porque se identificou que um determinado terminal aumentou significativamente os seus preços.
No caso de cobrança de omissões de escala ou cobranças abusivas de sobre estadia, a ANTAQ também atua para solicitar a devolução dos valores pagos, eventualmente indevidos, ou coibir a postura dos terminais que estejam fazendo isso de maneira inadequada.
6. Conectados – Um pleito antigo de parte do setor privado é o funcionamento dos portos 24h por dia, 7 dias por semana, seguindo os padrões internacionais, a ANTAQ tem alguma análise quanto à viabilidade deste regime de funcionamento?
Hoje, muitos portos e terminais privados do Brasil já funcionam 24 horas. Na verdade, a restrição dessa operação não é da gestão, pode ser uma questão de calado ou de segurança da navegação. Os portos operam 24 horas, mas, as vezes, a entrada e saída do navio não pode ser a noite, por exemplo, por questões da maré.
De maneira geral, não existe restrição de funcionamento imposta, isso está mais ligado às condições da marinha ou até de iluminação, pois alguns portos não conseguem dar um acesso terrestre seguro (roubo de carga). É uma questão mais de sistema de operação, do que de atuação da agência reguladora.
Diferente do porto de Los Angeles, por exemplo, uma das primeiras ações nesse momento de aumento do frete foi a solicitação de autorização para o funcionamento 24 horas, porque antes não funcionava. Mas, no Brasil já funciona. O problema do Brasil não é a questão das horas de funcionamento, mas que eventualmente, para funcionar mais tempo, o porto vai precisar de mais dragagem. E, para dragagem, existe o problema clássico que é a falta de recurso público, mas se o recurso for privado, pode dragar. Os TUPs que são investimentos todos privados, funcionam sempre 24 horas, os portos públicos também, mas a saída e entrada de navios é que dependem de autorização da marinha.
7. Conectados – Como a ANTAQ tem visto as discussões acerca da AFRMM, considerando o contexto da BR do Mar e o aumento, ainda que indireto, desta taxa decorrente do aumento do preço do frete e da desvalorização do Real?
A BR do Mar (PL 4.199 | 2020 – Programa de Estímulo ao Transporte por Cabotagem) entrou na pauta para votação no plenário do Senado. É uma proposta que está dentro da decisão de fomentar a política de transporte aquaviário, mas é uma decisão muito mais da política pública ministerial do que, especificamente, de uma atuação da agência em relação ao fundo. Mas, a ANTAQ entende que fomentar a marinha mercante, foi, ao longo do tempo, e continua sendo, uma política pública do Brasil, e a melhor gestão desse recurso é o que sempre foi solicitado. Mas, fica muito mais na esfera do poder concedente dentro da atuação da liberação dos recursos desse fundo, sempre tentando buscar o equilíbrio do que aumenta a arrecadação e como faz esse recurso voltar dentro do sistema logístico da multimodalidade.
8. Conectados – Há alguma questão que não abordamos e que gostaria de complementar?
A ANTAQ está realizando reuniões isoladas com os usuários, mas em janeiro de 2022, deve realizar um evento maior para inserir mais usuários e setores nas discussões para que todos fiquem na mesma mesa e seja possível identificar os melhores encaminhamentos dos problemas. Os trabalhos estão e continuarão a ser acompanhados para melhor entendimento dos números do mercado. Isso é até uma questão de previsibilidade para os importadores. Em breve, a agência deve noticiar essa informação.
Em evento ocorrido em Dubai, o Investe Brasil, o assunto dos contêineres também foi levantado, inclusive pelas próprias empresas dos emirados Árabes, por isso, houve a certeza de que esse é um problema global. Tudo indica que em 2022 o Brasil ainda deva sofrer com essas questões.
Os aumentos constantes são um fenômeno mundial, não é a ANTAQ que vai baixar o frete, a agência precisa conhecer, estar à frente das discussões e saber o que está acontecendo para tentar mitigar os problemas para a regulação dentro do Brasil.
ARTIGO ELETROS
ABERTURA COMERCIAL E SEUS IMPACTOS
Por Renato Alves, Diretor de Linha Branca da Eletros
A pauta de ajuste do posicionamento brasileiro no contexto do comércio internacional se aqueceu, e segue aquecida, desde o início do atual governo federal. Tem sido constante na pauta econômica as discussões acerca de acordos comerciais com diferentes países e blocos e a revisão das tarifas alfandegárias do Mercosul, movimentos que buscam uma maior inserção do Brasil no mercado global.
Atenta a este movimento no campo da economia, ao elevado Custo-Brasil e a outros desafios de competitividade que o setor enfrenta, a Eletros, por intermédio do Setorial de Linha Branca e em conjunto com a 4intelligence, consultoria que emprega tecnologia e inteligência artificial para a confecção de modelos econômicos, construiu um estudo para analisar potenciais impactos que uma maior abertura comercial traria ao setor.
Para pautar o estudo foram estabelecidos três cenários: um acordo de livre comércio com a Coréia do Sul; o corte linear das tarifas do Mercosul em 50%; as duas situações anteriores ocorrendo concomitantemente.
Os resultados chamam a atenção. Em qualquer um dos três cenários o setor de eletrodomésticos nacional é o que tem a maior quantidade de linhas de produtos com potencial de encolherem com o implemento destas políticas de abertura, ao passo que, outros setores como o agronegócio, por exemplo, carregam consigo mais efeitos positivos do que negativos.
Paralelamente a esta constatação, outro importante insight trazido pelo estudo está nos multiplicadores de produto e emprego dos diferentes setores da economia, ou seja, do poder que cada setor tem de gerar riqueza e empregos no país. Neste particular, nota-se que o setor eletroeletrônico tem o potencial de gerar até 11 postos de trabalho na cadeia produtiva para cada emprego direto que possui, a título de comparação, setores da atividade agrícola geram em torno de 2 postos.
Nota-se, portanto, que acordos desta natureza demandam um olhar equilibrado quando da distribuição das posições menos ou mais vantajosas na negociação, de modo que não haja uma penalização àqueles setores que carregam consigo maior poder de contribuir com a economia brasileira, gerando empregos e renda.
No mais, ficou evidente a necessidade de um aprofundamento e especial atenção às regras de origem a serem aplicadas aos acordos, em especial com relação a países asiáticos. Dados mostraram que muitas vezes estes países funcionam como hubs de distribuição de produtos chineses, com pouca ou nenhuma agregação de valor local.
Os cenários estudados e os dados auferidos com o devido rigor técnico-acadêmico por ocasião da realização do estudo, ajudam a Eletros a se posicionar e defender os interesses de suas Associadas nos debates sobre abertura comercial, discussão que deve permanecer em evidência na pauta econômica do ano de 2022.