— EDITORIAL —

A edição bimestral de agosto e setembro do Conectados apresenta um raio “X” da indústria de eletroeletrônicos e eletrodomésticos diante dos desafios da retomada econômica, em um contexto de alta nos custos dos insumos, além da inflação que invariavelmente afeta o poder de compra da população.

Com a vacinação avançada, o setor se prepara para o crescimento sazonal da demanda por conta da Black Friday e Natal, porém, em condições bem diferentes do ano passado, tendo em vista que com o fim das políticas restritivas de isolamento, o consumidor passa também a investir em outras atividades, como lazer e viagens.

Nesse contexto, para falarmos sobre este novo cenário que se desenha e compreendermos alguns gargalos projetados pela pandemia que ainda geram reflexos operacionais, entrevistamos os Vice-Presidentes dos quatro segmentos representados pela Eletros: Ar-Condicionado, Linha Branca, Linha Marrom e Linha Portátil, respectivamente Toshio Murakami, Eduardo Vasconcelos, Marcio Herman e Jacques Krause.

Ainda, nesta edição, também trazemos uma entrevista com João Zeni, Gestor de Sustentabilidade da Eletros para falar sobre as principais políticas e ações sustentáveis adotadas pelo nosso setor.

Por fim, apresentamos, um artigo ilustrando os projetos que versam sobre questões aduaneiras e de comércio exterior e que devem estar no radar das indústrias e dos empresários, por Francisco Negrão e Camila Tomimatsu, da Magalhães e Dias Advocacia.

Boa leitura!

 

O Conectados é uma publicação mensal da Eletros com o objetivo de reforçar, junto à opinião pública e formadores de opinião, a importância de nossa representatividade ao desenvolvimento econômico e social do país.

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SAIBA OS ÚLTIMOS ASSUNTOS QUE MOBILIZARAM A AGENDA DA ELETROS

3ª REUNIÃO DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA ELETROS

No dia 29.09, os conselheiros da Eletros, se reuniram, de forma virtual, para a 3ª reunião ordinária do ano. O Presidente do Conselho de Administração, Edward Feder, destacou que o setor está iniciando o 4º trimestre de 2021 com algumas preocupações como a crise energética, a alta da inflação, o aumento do custo do frete marítimo, além da reforma tributária e a abertura comercial. Mas, ao mesmo tempo, próximos à Black Friday e o Natal, datas importantes para o setor. As indústrias seguem acreditando e trabalhando. Os Vice-Presidentes, fizeram as tradicionais apresentações dos cenários e agendas de cada um dos segmentos e o Presidente Executivo, Jorge Nascimento, apresentou as atualizações dos temas que vêm sendo acompanhados pela Associação.

VISITA AO PRESIDENTE DA RECORD TV

O Presidente da Eletros, Jorge Nascimento e o Diretor de Linha Marrom, José Francisco Alvarenga, visitaram Luiz Cláudio Costa, Presidente da Record TV e Presidente do Fórum do Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), no dia 24.09. O objetivo do encontro foi estreitar a comunicação entre as partes, tratar da evolução da televisão, interatividade e tecnologia avançada.

27 ANOS DA ELETROS

No dia 29.08, a Eletros comemorou seu aniversário de 27 anos! E que venham mais muitos anos de colaboração para um futuro de indústrias ainda mais fortes e de grandes realizações!

REUNIÃO ELETROS COM ALEXANDRE LOBO DO SECINT-ME

A Eletros iniciou o mês de agosto realizando uma reunião virtual no dia 3, com a participação de Alexandre Lobo, Subsecretário de Negociações Internacionais (SECINT), do Ministério da Economia, que tratou o andamento dos acordos internacionais e a prorrogação dos regimes especiais, decisões CMC 25/15 e 26/15.

ELETROS RECEBE A EQUIPE DO INMETRO EM SUA SEDE

Seguindo protocolos de segurança sanitária, a Eletros realizou uma reunião em formato híbrido, no dia 27.09, com o Presidente do Inmetro, Marcos Heleno Guerson de Oliveira Júnior e sua diretoria, representada por Lenilton Corrêa, Paulo Henrique Lima Brito, Marcos Aurélio Lima de Oliveira e Marcelo Pagotti João. Na oportunidade, o Instituto abordou as importantes atualizações que estão trabalhando para atender de forma cada vez mais ágil e precisa as demandas do setor produtivo. Planejamento Estratégico, Modelo Regulatório, possíveis parcerias Público Privado e a nova Política Nacional de Infraestrutura do órgão foram apresentadas e detalhadas. O encontro também propiciou o intercâmbio de informações e propostas para o fortalecimento do setor eletroeletrônico e eletrodoméstico brasileiro.

DIÁLOGO SOBRE COMÉRCIO EXTERIOR

A reunião ordinária virtual do grupo de comércio exterior da Eletros, ocorrida em 14.09, teve a participação do Chefe da Divisão de Modernização de Operações de Comércio Exterior (SECEX/SUEXT), do Ministério da Economia, Vladimir de Macedo Souza. Foi uma ampla conversa sobre o Projeto de Mapeamento e Definição de Atributos, que definirá características para produtos importados e fundamentará um novo processo de importação, através do catálogo de produtos, da Declaração Única de Importação (DUIMP) e do Portal Único de Comércio Exterior (PUCOMEX). Foi uma ótima oportunidade para esclarecimento dos temas às Associadas.

DIÁLOGO COM O SECRETÁRIO JORGE LIMA

A Eletros realizou um evento híbrido no dia 13.08, com a presença de Jorge Luiz de Lima, Secretário de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério da Economia. O encontro representou um importante avanço no diálogo entre a indústria de eletroeletrônicos e o Governo Federal sobre temas de grande relevância como as Reformas Estruturantes, Processos Produtivos, Ex-Tarifários e atualização de ações para redução do Custo Brasil.

O SETOR ELETROELETRÔNICO E O 2º SEMESTRE

AR-CONDICIONADO

“Estimamos fechar o ano com um crescimento de 6% a 13%. Esse é um diagnóstico muito positivo, fechar o ano muito melhor do que 2020 e até mesmo 2019”.

Toshio Murakami, Vice-Presidente de Ar-Condicionado da Eletros

  1. Quais foram os principais desafios do segmento de Ar-Condicionado ao longo desse período de pandemia?

Em princípio, foi a estimativa de tempo, pois ninguém esperava que a pandemia se prolongasse tanto. Eu acho que todo mundo imaginava, talvez, seis meses, que para nós já seria um prazo longo, porque nunca tivemos algo parecido. Agora, estamos falando de quase um ano e meio, então o principal desafio ainda é sobreviver, realmente transpor a crise e se adequar a este novo normal.

E, além disso, não querendo ter uma visão pessimista, olhar o copo pelo lado mais vazio, mas nós precisamos seguir alertas, de que na verdade a gente pode ter, não um tsunami, mas um efeito retardado de algumas coisas, como o desemprego, que está numa taxa altíssima, já que muitas empresas fecharam. Há ainda, o tempo de endividamento da maior parte da população. Isso na minha opinião pode trazer efeitos daqui para frente, o que preocupa bastante. Quando se fala, por exemplo, de inflação, é uma coisa absurda, porque no dia a dia é possível sentir o aumento exagerado de algumas coisas, principalmente aquelas essenciais como comida, e remédios. Tudo subiu absurdamente.

 

2. Ainda ante a estas preocupações, o desempenho do segmento de Ar-Condicionado no 1º semestre de 2021 teve um crescimento expressivo de 41%, comparando com o mesmo período do ano passado e até mesmo com o período anterior à pandemia. A que se deve esse crescimento?

O crescimento significativo no segmento de splits, foi puxado pela forte demanda do segmento residencial. Houve também a ajuda do clima, porque foi um início de ano com um calor bastante forte. Ainda, pelo efeito de uma aposta dos revendedores ao aumentar os níveis de inventário, até porque o produto ar-condicionado, no ano passado, já havia desempenhado bem, então muitos revendedores apostaram não só na venda, mas também na antecipação de compras para evitar aumentos de custos.

Por isso, o primeiro semestre foi muito bom. Agora, é claro, a gente tem que entender que a base do primeiro semestre de 2020 tinha sido afetada no segundo trimestre, pelo início da pandemia, mas, mesmo assim, quando se compara esse primeiro semestre de 2021 com o primeiro semestre 2019, observa-se um aumento ainda significativo de 32%.

Em 2020, tivemos um segundo semestre com um consumo muito grande, puxado principalmente pelo efeito home office. Muitas pessoas começaram a ficar em casa e, portanto, trouxeram coisas que tinham no escritório para dentro da sua casa. O efeito home office foi um dos principais nas vendas do ano passado e na saúde do primeiro semestre desse ano. O home office foi o grande legado dessa pandemia, ressignificou o modo de trabalho, o valor dos produtos e mudou hábitos de consumo.

E como nós tivemos, no início dessa crise, uma redução em tudo, pois não sabíamos o que iria acontecer, partimos de um mercado que projetávamos queda e cortamos muito da produção futura. Porém, o mercado reagiu e acabamos tendo problemas até em fornecimento de matéria-prima e componentes para suprir as demandas. Reagimos com a produção no último trimestre 2020 e no primeiro o trimestre desse ano. Por conta disso, nesse primeiro semestre houve esse crescimento tão grande quando comparado à base de 2020 e até mesmo quanto à base de 2019.

3. Você acredita que as vendas se mantenham aquecidas como foi na primeira metade do ano, tendo em vista a retomada das lojas físicas, reforçando as vendas online? Já se tem uma previsão de como deve se comportar o verão deste ano? Neste sentido, como o segmento está se preparando?

Agora, falando de segundo semestre, temos uma previsão menos otimista em relação ao clima. Nós estamos trabalhando com um verão normal, sem a ocorrência do efeito el niño, que é bem benéfico, pois esquenta muito quando acontece esse tipo de fenômeno. Mas, trabalhamos agora, com a hipótese da ocorrência do la niña, que tem efeito contrário, que seria o verão mais ameno na região Sudeste e Centro-Oeste, sendo mais seco. Com isso, esse crescimento que verificamos no primeiro semestre não deve acontecer no segundo. Neste momento estamos atravessando uma das piores crises hídricas dos últimos tempos, que já gerou um impacto no custo de energia e um risco grande de uma crise de energia que pode afetar o mercado de ar-condicionado no último trimestre de 2021 e no primeiro trimestre de 2022.

De qualquer forma, estimamos fechar o ano com um crescimento de 6% a 13%. Esse é um diagnóstico muito positivo, fechar o ano muito melhor do que 2020 e até mesmo 2019. Porém, é importante ressaltar que estas previsões de crescimento de 2021 não estão considerando uma crise de energia, um apagão.

4.Houve alguma mudança no perfil do consumidor?

Acredito que o que mudou foi a cultura de uso do ar-condicionado. Na medida que o consumidor consegue ter renda, ele começa a consumir esse tipo de produto. Por que eu falo da cultura de uso? Porque hoje você vai em qualquer lugar ou até mesmo dentro do carro, e todos os ambientes têm ar-condicionado, isso fez com que a cultura crescesse bastante, mas, ainda assim, o ar-condicionado tem um pouco do efeito da renda, porque o produto apesar de ter tido uma redução proporcional de preço se comparado a outros produtos, ainda tem um custo de utilização e de operação relativamente alta, que muitas vezes não está dentro do orçamento das pessoas de menor poder aquisitivo.

Não acredito que essa mudança de perfil, tenha atingido ainda a classe C, por exemplo, mas o fator principal é o crescimento do produto dentro das classes A e B que, apesar de serem sempre bons consumidores, ainda podem vir a ser melhores.

5. Em termos de inovação, quais são, atualmente, as tecnologias de Ar-Condicionado que mais economizam energia? Como a indústria deste segmento trabalha para que o produto seja ainda mais atrativo ao consumidor?

Considero que a principal tendência, não só no Brasil, mas a nível mundial, é a busca de aparelhos cada vez mais eficientes. Não só com a tecnologia inverter, mas junto da tecnologia inverter a utilização de gases refrigerantes que chamamos de baixo IGWP, gases mais benéficos ao meio ambiente e com melhor performance energética. Além disso temos a eletrônica, onde falamos da internet coisas, dos aparelhos conectados, como o celular, aos equipamentos de ar-condicionado.

Acredito que agora as novas tendências são os sistemas de purificação e filtragem de ar, pois tem surgido a oferta de equipamentos com sistemas de filtragem e purificação, eliminação de vírus e bactérias e isso deve crescer bastante em consequência da pandemia. Já existiam em alguns equipamentos, mas agora os fabricantes estão se aprimorando ainda mais para agregar esse valor ao consumidor, porque todo mundo vai ficar com uma lembrança bem complicada da pandemia.

6. O desabastecimento de insumos foi um fator de muito impacto para as indústrias de Ar-Condicionado?

Todo o setor, principalmente da indústria eletromecânica, sofreu muito com a falta de insumos. No caso do Ar-Condicionado é um pouco mais grave, porque é um produto sazonal, ou seja, temos uma produção feita com certa antecedência para atender o verão e no momento que precisamos, tivemos dificuldades.

O mercado reagiu e a indústria conseguiu atender a produção, mas eu diria que a somatória de matérias-primas como aço, plástico, entre outros componentes, como os eletrônicos, fez com que em 2020 perdêssemos por volta de 10% do que poderíamos ter produzido e vendido a mais. Isso é uma análise, a partir de conversas com diversos fabricantes. Não só pela escassez, mas também pelo custo. A maioria está localizado em Manaus-AM, cujo frete é mais caro, pois não há um porto marítimo para escoar a produção, mas sim um porto fluvial, exigindo mais um deslocamento, e essa foi mais uma coisa que acabou encarecendo bastante os nossos custos.

7. Houve impacto dessas condições no preço do consumidor?

Sim, houve um impacto, mas foi muito menor que o aumento dos custos. Porque nós tivemos que absorver parte desses aumentos com melhora de eficiência ou até mesmo um pouco de perda de margem. Mas, isso tudo por melhora de eficiência interna, que acredito que todas as empresas trabalharam muito para se manterem eficientes. O repasse na íntegra dos aumentos em nossa avaliação, inviabilizaria o volume de mercado.

8. Quais são os principais gargalos do segmento?

Como já dito, a questão da logística é um grande desafio, devido a maioria das indústrias estarem concentradas em Manaus-AM.

O outro ponto é a política industrial da Zona Franca de Manaus, que chamamos de PPB (Processo Produtivo Básico). As indústrias instaladas na região têm benefícios, mas para isso acontecer deve cumprir esse PPB que contém etapas, como a obrigação de comprar um volume mínimo de um componente. Por exemplo, hoje somos obrigados a comprar 50% de motores elétricos e 30% de compressores, todos fabricados no Brasil, mas muitas vezes não tem um custo competitivo a nível internacional, não tendo a mesma qualidade em alguns casos.

E por outro lado, também temos outras obrigações assumidas, cumprimos com o que propomos, como por exemplo, com o programa brasileiro de etiquetagem, atendendo os níveis de eficiência energética assumidos com o Governo.

O tema do PPB vem sendo discutido, pois precisamos de alterações, como por exemplo, para a compra de componentes eficientes, estamos em busca de maior flexibilidade nas etapas exigidas. Portanto, considero que esse é um dos desafios que ainda temos pela frente.

O SETOR ELETROELETRÔNICO E O 2º SEMESTRE

LINHA BRANCA

“Algumas categorias de produto estão hoje com volume de vendas no patamar de 2019 e outras ainda não se recuperaram totalmente, essa questão é muito segmentada”.

Eduardo Vasconcelos, Vice-Presidente de Linha Branca da Eletros

  1. Quais foram os principais desafios do segmento de Linha Branca ao longo desse período de pandemia?

Têm sido vários, mas acho importante voltar a março de 2020, para contextualizar o primeiro e mais importante desafio que as empresas do setor têm enfrentado: como cuidar das pessoas, os nossos colaboradores, garantir a sua segurança e saúde. Se hoje nós já temos consolidado uma espécie de manual de operações, se já sabemos como as fábricas devem operar, com utilização do álcool em gel, distribuição de pias e torneiras para as pessoas lavarem as mãos, distanciamento mínimo no transporte e nos refeitórios, em 2020 nada disso existia e teve de ser desenvolvido, muitas vezes em conjunto com o Poder Público. Então, eu penso que o primeiro desafio que o setor enfrentou foi realmente como cuidar dos colaboradores. Também seguimos com o desafio de garantir a disponibilidade dos nossos produtos aos consumidores, assim como a disponibilidade de assistência técnica, partes e peças.

2. E do ponto de vista econômico, quais foram os desafios?

Em abril de 2020, o mercado praticamente parou. O nível de ociosidade das nossas empresas na Eletros foi a 60%. Então, isso significa que, virtualmente, as fábricas pararam porque não tinham demanda. Uma parte disso em função do comércio fechado, porque sabemos que o setor depende muito do varejo tradicional. Porém, havia também a insegurança do consumidor. Nós sabemos que o consumidor é muito movido por expectativas, se ele não tem confiança, dificilmente vai fazer uma compra, especialmente falando dos produtos de linha branca que têm um valor mais alto.

Apesar disso, vimos em 2020 uma recuperação ao longo do ano, no terceiro e quarto trimestre principalmente, o que nos surpreendeu muito. A recuperação continuou em 2021, mas num nível menor do que nós gostaríamos. Fechamos os números do segundo trimestre recentemente e óbvio, tivemos uma recuperação muito significativa, se compararmos o segundo trimestre de 2021 com o segundo trimestre de 2020. Quando falamos das dez principais categorias que representam a linha branca na Eletros, que têm desde fogão, geladeira, máquina de lavar, que são os três principais, até micro-ondas, freezer horizontal, adega, cooktop, na média, tivemos uma recuperação de 54,8% em termos de volume de vendas. É um número bem relevante, mas é preciso lembrar que a base era muito depreciada, se olharmos o segundo trimestre de 2020: foi ali que a pandemia bateu mais forte em nosso setor, por isso, esse número tem que ser visto com parcimônia, porque ele está em comparação com uma base muito desgastada.

3. E 2021 comparado ao 2º trimestre de 2019?

Algumas categorias de produto estão hoje com volume de vendas no patamar de 2019 e outras ainda não se recuperaram totalmente, essa questão é muito segmentada. Mas, vimos um movimento importante de recuperação. Estamos em vias de consolidar na Eletros os dados de mercado do terceiro trimestre de 2021 e começamos a ver um certo arrefecimento do mercado, o que nos indica cautela em relação ao futuro.

4. Olhando para o Brasil e o mundo, o que devemos esperar do chamado “novo normal”?

Temos acompanhado com muita atenção as tendências fora do Brasil para entender o que tem acontecido na Europa, nos Estados Unidos, que têm enfrentado uma terceira onda, exigindo o retorno de algumas restrições. Acredito que é um pouco cedo para falar de um novo normal, mas existem algumas tendências: uma delas é que a casa das pessoas foi ressignificada na pandemia.

Esse período extenso de permanência em casa fez com que as pessoas, de fato, reavaliassem a estrutura que elas têm, e óbvio, que uma parte disso deve permanecer depois da pandemia. O home office, por exemplo, é uma delas. Têm várias empresas adotando o modelo permanentemente ou pensando em adotar em alguns dias da semana. Tudo isso vai fazer com que a casa tenha um novo sentido, um novo significado para as pessoas e esse fator joga a favor do nosso setor.

Outra tendência é a chamada servicificação. Os nossos produtos têm o ciclo de vida mais longo, diferente de um celular, por exemplo, que a pessoa troca a cada dois anos. As pessoas não fazem isso com uma geladeira, fogão ou máquina de lavar. Isso faz com que as empresas invistam em servicificação, que é o oferecimento de soluções ao consumidor muito além da venda do produto, acompanhando a jornada do consumidor, provendo facilidades como a manutenção e outros serviços.

Outra tendência é a verdadeira revolução que temos observado no varejo, acelerada pela pandemia. O e-commerce, sem dúvida nenhuma, teve um estímulo extraordinário nesse período e se desenvolveu muito. Penso que esses temas são tendência para o nosso setor.

5. A Indústria de Linha Branca teve um forte impacto quanto ao desabastecimento de insumos. Este problema ainda permanece? Quais estão sendo os principais desafios do segmento com relação ao tema?

Essa dificuldade vale para toda a cadeia de valor do setor. Falando de logística, por exemplo, o custo de contêineres e do frete marítimo foram para o espaço. Tivemos, além da pandemia, eventos globais como o fechamento do canal de Suez, que fez um engarrafamento de navios que gerou um atraso gigantesco, tudo isso é custo, porque a indústria precisa do insumo para produzir e se não conseguimos produzir, temos o custo fixo sem gerar receita.

Todos esses fatores trazem pressão para o setor. O setor tem sofrido com aumentos de custo de componentes como aço e plástico, que têm um impacto grande, mas tem também com os componentes eletrônicos, microchips, microcontroladores, que têm um problema global de escassez. No ano passado, o mercado caiu muito, alguns fornecedores pararam de produzir, revisitaram as suas programações de entrega e aí, quando voltamos a demandar, aconteceu uma desorganização na cadeia.

Ainda no caso particular do aço e do plástico, como há monopólios ou oligopólios no Brasil explorando esses mercados, o efeito é ainda mais grave, porque o impacto de custo nacional é bem maior do que o internacional. Várias empresas Associadas também compram esses insumos fora do país, com isso, observamos claramente, a diferença de equilíbrio. Tudo isso traz impacto e pressão de custo.

No contexto macroeconômico, a inflação não vem do nada, o Real está depreciado. Apesar do alto índice desconhecendo local nos produtos da Linha Branca, alguns insumos são importados, o que traz pressão de custo.

As empresas têm um limite, precisam repassar esse custo para o preço dos produtos. Isso gera inflação lá na ponta. Somam-se a esse cenário os juros ascendentes, desemprego ainda elevado e o cenário conturbado do ponto de vista político, ou seja, tudo isso traz instabilidade, como falei anteriormente, é preciso cautela.

6. Alguns produtos da Linha Branca, assim como os carros chefes do segmento, os fogões, lavadoras de roupas e geladeiras, tiveram um bom desempenho nas vendas da indústria para o varejo no 1º semestre, comparando com igual período de 2020. Você acredita que esse aumento seja o início da retomada do segmento? Quais fatores podem ter auxiliado a impulsionar o setor?

Faço uma comparação que mostra um pouco de tendência, que é comparar o primeiro e segundo trimestres de 2021. Nessa comparação vemos que houve queda de 5,5%, na média de todas as categorias da Linha Branca. Logo, essa recuperação que começamos a observar no ano passado, já começa a perder um pouco a intensidade. Pode ser um efeito de sazonalidade? Pode, porque sabemos que historicamente o mercado tem maiores volumes no último trimestre do ano, com a Black Friday e o Natal. Ainda está cedo para dizer isso, porque não sabemos qual é a tendência, se vamos ter um quarto trimestre excepcional como tivemos no ano passado ou se ele vai andar de lado, porque voltamos a disputar o mercado com outras categorias, outros serviços e produtos que, com a reabertura, naturalmente dará ao consumidor um leque maior de opções em seus gastos. Eu diria que hoje o momento é de atenção, cuidado e sem euforia. Estamos acompanhando, mas não dá para cravar se estamos em movimento de recuperação sustentada e existem dúvidas sim.

7. Por fim, o e-commerce é uma tendência? Veio para se solidificar na compra do consumidor?

É uma tendência que veio para ficar. Óbvio que o Brasil é um país continental e tem muitas diferenças culturais entre as regiões, isso faz com que o varejo físico ainda tenha uma importância ímpar no setor, mas vemos uma tendência em algumas regiões. O consumidor muitas vezes usa a loja física como uma espécie de showroom, ele vai ver o produto, mas não necessariamente fecha o negócio ali, ele vai pesquisar o melhor preço, a melhor condição, já viu o produto e já conheceu.

Isso acontece no país inteiro, não? Mas é uma tendência, o consumidor está mostrando que gosta disso, se interessa por esse modelo e isso faz com que as empresas tenham que se adaptar. É o que eu vejo hoje na linha branca. As empresas têm buscado melhorar os seus canais de venda online, fazer parcerias, para garantir essa experiência para o consumidor, para que o consumidor consiga conhecer o produto e fechar negócio pelo meio que for mais conveniente para ele.

E isso passa também por uma série de investimentos em cadeia logística, porque, de novo, o Brasil é um país continental, você entregar produtos como os da linha branca, que têm o volume físico maior é um desafio. Vou comprar uma geladeira, será que ela chega em vinte e quatro horas? Tem de ter uma cadeia que consiga entregar esse nível de serviço e eu vejo a indústria e o próprio varejo trabalhando muito para isso, para melhorar o nível de experiência. A entrega é rápida, as vezes acontece antes do previsto, possui rastreabilidade, o consumidor acompanha tudo pelo celular, tudo isso faz parte da experiência.

O SETOR ELETROELETRÔNICO E O 2º SEMESTRE

LINHA MARROM

Foi surpreendente a forma como a indústria nacional se reinventou durante todo esse período de pandemia”.

Marcio Herman, Vice-Presidente de Linha Marrom da Eletros

  1. Quais foram os principais desafios do segmento de Linha Marrom ao longo desse período de pandemia?

Foi surpreendente a forma como a indústria nacional se reinventou durante todo esse período de pandemia. Tivemos um primeiro trimestre até que bom no ano passado, mas chegou na metade de março e começo de abril, o Brasil todo parou, ninguém sabia o que ia acontecer ou o que viria pela frente.

Fazendo um levantamento histórico, tivemos dois grandes desafios, o primeiro foi nosso relacionamento com o consumidor que mudou substancialmente. Todas as empresas, obviamente, já trabalhavam com plataformas online, já tinham esse engajamento com os seus consumidores, mas a maior parte das vendas eram feitas de forma presencial. Na hora de adquirir uma TV, por exemplo, o consumidor faz questão de ver o produto, olhar a imagem do aparelho, comparar o produto do fabricante “A” com o fabricante “B”, quer entender qual a diferença de uma TV que tem uma qualidade de imagem melhor, 4K ou 8K, comparadas com uma TV normal.

Esse era o dia a dia que tínhamos para a maior parte dos negócios, por isso tivemos que migrar de uma forma muito rápida para plataformas online, prestar todo o atendimento, recursos e segurança, para que o consumidor pudesse entrar nessas plataformas, analisar os produtos, fazer a escolha correta e ficar satisfeito com o que iria receber em casa. Esse foi o primeiro grande desafio, a mudança muito acelerada que tivemos na parte de interface com o consumidor.

E o segundo grande desafio foi a parte de produção em si. Tivemos que trabalhar muito, e para isso contamos com a ajuda e suporte de várias entidades do Governo, principalmente do Amazonas. Porque muito rapidamente tivemos que implementar uma quantidade impensável, até então, de itens e protocolos de segurança dentro de nossas fábricas, para conseguir garantir a saúde dos nossos funcionários e manter a produção no nível mínimo para abastecer a demanda do mercado. Além disso, tivemos que mudar os horários de trabalho, alterar as linhas de produção para ter o espaçamento necessário e suficiente para garantir a proteção à saúde dos colaboradores. Várias empresas tiveram que abrir mais um ou dois turnos, trabalhar de sábado e até de domingo, isso era necessário para conseguirmos manter o distanciamento adequado aos funcionários e garantir a segurança e a saúde deles durante o processo de produção.

Esses foram os dois grandes desafios que enfrentamos e fomos vitoriosos. Toda a nossa indústria saiu vitoriosa desse período, porque conseguimos manter ao longo de 2020, números muito próximos e alguns até superiores aos que conseguimos em 2019.

2. O que devemos esperar de um “novo normal”?

Vimos no Brasil que o consumidor mudou a forma de ver a sua casa propriamente dita, o que ele esperava dela, o que ele realmente demandava, assim, a partir do momento em que esse consumidor praticamente foi obrigado a trabalhar e se manter dentro de casa em regime de sete por vinte e quatro, começou a desejar e demandar outros produtos. No caso do segmento de linha marrom, era ter uma TV melhor, uma tela maior, ter uma segunda ou terceira TV, porque as pessoas em uma casa podiam querer ver programações diferentes no mesmo momento.

Tivemos um cenário onde as pessoas ficavam 24 horas dentro de casa, aí algumas querem em determinados momentos utilizar a TV como monitor para trabalhar, essa nova função ficou muito comum, pois quase 100% das TVs são smart hoje em dia. Da mesma forma, os jovens queriam ter uma TV para assistir séries, jogar online, trazendo a necessidade de se ter mais um aparelho em casa, isso acabou acelerando o consumo e não foi só no Brasil, foi no mundo todo.

Uma coisa que eu percebo hoje é que na minha geração a família se reunia dentro de casa, na sala, para assistir TV, mas pela condição econômica havia apenas uma TV para atender a todos da casa. Hoje não, cada vez mais as pessoas estão buscando novas atividades e funcionalidades para utilizar na sua TV. O aparelho passa a ter um uso similar ao de um notebook ou de um celular onde se tem uma tela maior com melhor qualidade. A pessoa quer usar essa tela para tudo aquilo que ela tem quando está com o celular na mão, para acessar podcast, plataforma de música, jogos, uma demanda que se tornou muito grande. É claro que algumas pessoas ainda usam a TV somente na sua modalidade tradicional, mas o uso se diversificou bastante.

3. Analisando o desempenho dos Televisores, carro chefe do setorial de Linha Marrom, observamos uma estabilidade nas vendas da indústria para o varejo. Você acredita que com a retomada da economia, abertura das lojas físicas por um período maior e datas festivas da segunda metade de 2021, as vendas possam se aquecer?

Houve uma pequena queda até momento, percebemos este efeito em alguns segmentos já ao longo deste ano. Estamos analisando qual vai ser o desempenho, principalmente nas datas mais importantes para o nosso segmento, que ocorrem agora no segundo semestre, a Black Friday e depois o Natal, estamos apostando muito nisso.

Mas temos alguns desafios paralelos. O principal deles é a falta de insumos globais, isso acabou encarecendo bastante a nossa produção, a mesma TV, com as mesmas características que fazíamos há um ano e meio, por exemplo, se formos fazer uma similar hoje, o custo seria muito maior por conta do aumento desses insumos. Ainda, tivemos um aumento absurdo nos custos de logística, parte destes insumos são importados e o frete aumentou de forma impressionante; a falta de insumos é global, não é só no Brasil, fazendo com que tenhamos que brigar com outros mercados para garantir o abastecimento local. Isso tem nos preocupado bastante.

Além disso, a economia no Brasil vinha dando sinais de melhora interessantes, principalmente em Q1 e depois manteve índices estáveis em Q2, porém, agora, já percebemos uma certa desconfiança do mercado de forma geral, ou seja, as pessoas começam a olhar com pouco mais de cautela na hora de fazer a aquisição de um novo produto.

4. É possível estimar algum percentual para o segundo semestre? O que o segmento espera para este novo período do ano?

A tendência seria tentar manter os números que tivemos no ano passado, tanto na parte de TV que é o nosso carro chefe, quanto nos outros produtos de áudio e vídeo. Penso que se conseguirmos isso em termos de quantidade, será uma grande vitória para o nosso setor, embora saibamos que será muito difícil. Estamos vendo um mercado complicado, com o aumento no custo de produção, quer dizer, se eu fosse apostar, apostaria numa leve redução do mercado este ano, mas vamos buscar manter o mesmo volume de vendas do ano passado. Já para o ano que vem, temos um horizonte bem diferente, por ser um ano de Copa do Mundo, pensando positivamente, e a pandemia vai ficar para trás!

5. E quanto aos demais produtos de áudio e vídeo, o que se observa e qual foi o desempenho?

O desempenho foi bom, mas não tão bom quanto de TV. Aqui podemos levantar os mesmos pontos e as mesmas dificuldades que citei sobre TV e o novo normal. Soma-se também o fato de que alguns nichos de produtos de A&V deixaram de ter a sua relevância para o consumidor. Vários consumidores, principalmente o público mais jovem, que acaba migrando e concentrando muitas das funções de áudio e vídeo dentro de um smartphone, por exemplo, então, parte da nossa indústria de áudio e vídeo vem se reinventando para fornecer outras opções de produto ao consumidor, complementando e agregando qualidade nas plataformas utilizadas por esse público.  Observamos que alguns produtos não têm mais tanta demanda e com isso vamos migrando o portfólio, saindo desses nichos e focando em outros. Há um crescimento grande, por exemplo, do setor de câmeras de segurança, assim como no segmento de soundbar, que são atrelados às TVs.

Por essa razão, digo que não foi ruim a performance do setor de áudio e vídeo, pois este é um setor que vem se reinventando e mantendo a sua relevância na indústria nacional, mesmo sendo um setor muito afetado pela entrada de produtos importados, seja de forma legal, sejam importações ilegais. Os processos para importar TVs com tela grande, são complicados, caros, o produto demanda muito mais cuidado. Porém, para importar uma caixa de som ou um fone de ouvido, por exemplo, é algo muito mais simples. Nós temos uma série de dificuldades nesse campo. Algumas empresas que fabricam autorrádio vêm sofrendo com a adoção de ex-tarifário que permite a entrada de produtos importados com impostos reduzidos e, com isso, impactam a nossa produção local. Considerando essas questões, além do cenário de pandemia, consideramos que a performance de áudio e vídeo foi boa ao longo de 2020 e nos dois primeiros trimestres de 2021.

6. Durante a pandemia o setor sofreu com o desabastecimento de insumos. Esse fator ainda tem prejudicado as indústrias do segmento?

Os principais insumos que afetam a produção de nosso segmento são os semicondutores, que conseguimos resolver de forma um pouco mais tranquila. Já no caso das telas de TV, existem quatro ou cinco fabricantes no mundo que produzem estes insumos, por isso temos que importá-las para fazer a montagem da TV.

Como são insumos globais, temos que brigar com outros mercados para garantir a reserva para o Brasil. Sem contar que a demanda por novos produtos, por novas TVs foi muito grande em mercados com poder aquisitivo mais alto como o mercado norte-americano e o mercado europeu, então ficou muito complicado garantir a entrega dos insumos no tempo desejado aqui no Brasil. Lembrando também que a parte do painel tem um problema adicional, todas as empresas são obrigadas a fazer o transporte deles, somente por navio, por conta do tamanho e do volume.

O que estamos discutindo em termos de produção hoje, é sobre uma TV que vai sair da fábrica daqui três, quatro meses ou até mais, dependendo do planejamento. Isso é muito complicado, porque fazemos todo o planejamento inicial e no meio do caminho podemos nos deparar com algum problema de disponibilidade do insumo, custo do transporte, custo do insumo etc. e por conta destes imprevistos, temos que rever todo o planejamento, isso complica bastante.

O SETOR ELETROELETRÔNICO E O 2º SEMESTRE

LINHA PORTÁTIL

Com certeza, o segundo semestre mostra-se bastante positivo, conhecemos agora melhor o que é uma situação de pandemia. A vacinação vai manter lojas abertas, possibilitando a economia girar para todos os setores”.

Jacques Krause, Vice-Presidente de Linha Portátil da Eletros

  1. Nos últimos dois anos, a pandemia se tornou o tema principal, tanto em relação a trabalho quanto a vida pessoal. Na sua opinião, quais foram os principais desafios no setor de eletroportáteis na pandemia?

Os primeiros meses da pandemia, principalmente de março e abril/2020, se mostraram realmente muito difíceis, devido ao fechamento das lojas. Mas, no Dia das Mães, data importante para o nosso setor, percebemos que as vendas no e-commerce estavam crescendo e suprindo parcialmente as vendas nas lojas físicas. Nesse momento, começou uma virada para os lojistas, no sentido de atender melhor pelo e-commerce. Depois, veio a ajuda do governo que foi muito importante naquele momento. Com as lojas físicas voltando gradativamente e o e-commerce operando em um ritmo acelerado para os parâmetros brasileiros, entramos em uma fase de crescimento importante. Neste segundo momento do ano passado houve crescimento de demanda muito forte para os eletrodomésticos portáteis. As pessoas sentindo a necessidade de produtos em casa, consumiram mais eletrodomésticos.

2. Na sua opinião, a queda da renda impactou nas vendas? Você acha que afeta o setor ou impacta mais em produtos maiores e mais caros, já que o setor de eletroportáteis tem produtos mais acessíveis?

Este é um ponto importante e que já aconteceu em outras crises em que o segmento de eletroportáteis foi menos afetado.

Por serem produtos de mais fácil acesso e de grande utilidade no dia a dia das pessoas os eletrodomésticos portáteis sentem menos os efeitos das crises.

A situação que nos foi imposta em 2020 onde tivemos que ficar mais em casa, trouxeram a necessidade de termos mais eletrodomésticos para facilitar os trabalhos cotidianos, tanto na preparação de alimentos quanto na limpeza das casas. Cuidados Pessoais Masculinos e Femininos tiveram vendas crescentes durante a pandemia.

3. O que você espera para próximo semestre em termos de retomada?

Agora nós temos uma mistura de fatos. Nós ainda estamos com efeitos da pandemia no ar, aqui no Brasil estamos com 145 milhões de vacinados com a primeira dose, mas ainda com uma situação bem complexa. No mundo, temos a variante delta afetando mercados que já estavam se abrindo, mas esse efeito da pandemia já é administrável, pois não é mais algo novo ou desconhecido. O que vem nos preocupando são os constantes aumentos das matérias-primas que vieram até a faltar no ano passado, entre elas cobre, aço, alumínio e papelão, a maioria delas ficou mais cara do que na pré-pandemia. Outro efeito adverso, foram os aumentos dos fretes internacionais que já aumentaram em torno de 500% em 2021, isso está afetando muito a indústria do mundo inteiro, não é só do Brasil.  Essas situações forçam a indústria a repassar preços ao varejo neste segundo semestre.

4. Além desses aumentos de preços, como é que estão as entregas dos insumos? Ainda há atrasos?

O suprimento de matérias-primas está bem equilibrado neste segundo semestre de 2021, pelo menos para o segmento de eletroportáteis. Mas os custos tiveram aumentos importantes de forma generalizada.

5. Como vocês têm lidado com o e-commerce via marketplace?

O mercado de portáteis entrega para todos os clientes e na verdade o marketplace é uma operação entre os clientes. Hoje é muito comum vender a um lojista e esse lojista estar dentro do marketplace de outro. Esse é um entendimento entre eles e que funciona muito bem. Nesse contexto, a distribuição dos produtos é muito maior. Não vemos problema na venda via marketplaces, até porque, ela acaba ampliando a disposição dos produtos ao consumidor final.

6. Ainda em relação ao consumo digital, pensando na questão da abertura comercial e da entrada de produtos de fora, como você vê isso?

A abertura comercial precisa ter o controle das entidades públicas do Brasil. A entrada de produtos no país via compras no e-commerce internacional precisa ser controlada pelos órgãos controladores, a fim de evitar que produtos eletroportáteis não certificados e que possam causar acidentes tenham sua entrada no país barrada nas aduanas.

O pagamento de todos os impostos para entrada no país também precisa ser garantido para que não tenhamos concorrência desleal.

É uma situação que afeta todos os países e os governos estão buscando formas de controlar a entrada abusiva ou de produtos não certificados em seus países.

7. Os ventiladores costumam ser um dos produtos mais vendidos do setor de eletroportáteis, mas além dele, algum outro produto, na pandemia, fez com que produtos que não vendiam tanto começassem a vender mais do que antes?

Sim, o ventilador é um dos itens mais vendidos do Brasil, pois atende bem as necessidades do cliente Brasileiro.

Mas, há outros produtos que passaram a vender mais do que antes, um exemplo é o aspirador de pó robô e o aspirador Vertical, que tiveram vendas crescentes, porque as pessoas precisaram fazer tudo sozinhas, em família, naqueles momentos da pandemia e por passarem mais tempo em casa necessitavam da limpeza diária. Outro exemplo, são as panificadoras, para não sair todo dia e ir à padaria, tivemos aumento na venda das panificadoras, além destes produtos, a Air Fryer, também teve um importante aumento nas vendas pelo aspecto da saúde e praticidade. E, também, os secadores de cabelo, Escovas Secadoras e body groomers pois não se podia frequentar os salões de beleza. Muitos produtos da linha feminina e da linha masculina de uso pessoal tiveram um acréscimo de vendas durante o período da pandemia.

8. Voltando à questão do ventilador, para este ano o setor já tem observado algo sobre o calor? Se vai ser tão intenso como tem sido na Europa? O que se espera para esse produto?

O Brasil ainda tem potencial de crescimento importante em eletroportáteis, até mesmo para produtos que consideramos muito familiares, como o liquidificador, por exemplo, que ainda não está presente na residência de muitas pessoas e o ventilador não foge à regra. O ventilador ainda tem outra vantagem, que é poder ter vários em uma casa, um em cada quarto, é um produto que o brasileiro usa muito devido ao nosso clima tropical, portanto, este é um produto que tem vendas expressivas no Brasil. Quanto ao calor, depende de vários fatores e não temos percebido no Brasil esses excessos de calor que vem acontecendo lá na Europa. O que acontece no Brasil é mais a questão da intensidade das chuvas, que acaba interferindo nas vendas do ventilador. No período de agosto a março passamos por uma estação com ciclos de calor e chuvas e as vendas de ventiladores flutuam neste período, mas normalmente temos períodos importantes de calor que auxiliam na venda dos mesmos. Neste ano devemos ter o efeito La Niña e com isso deveremos ter um verão normal.

9. Este ano também teve muitas matérias na imprensa falando de produto que estava faltando. Essa questão já foi superada?

No ano passado tivemos faltas de produtos, devido às fortes vendas que ocorreram durante o período em que todos tivemos que ficar mais em casa.  A demanda no Brasil, por exemplo, por ventiladores, foi grande no último verão, porque o calor se repetiu por muitos dias consecutivos, e com isso, puxando as vendas. Já no início de 2021 as empresas foram ajustando a produção e ampliando a oferta de produtos ao mercado e neste segundo semestre não teremos mais problemas de suprimento.

10. Numa projeção de futuro para o “novo normal”, o consumidor deve voltar para as lojas ou o e-commerce vai se solidificar?

O e-commerce veio para ficar, é uma situação mundial. O Brasil estava atrasado em relação a isso até janeiro do ano passado. O país teve que se remodelar durante todo o ano, período no qual as vendas do e-commerce chegaram a passar de 60%, porque as lojas estavam fechadas. Mas, é claro que isso não é a situação normal, acreditamos que nessa fase de agora, com os dois segmentos trabalhando juntos (e-commerce e loja física), a tendência é as vendas melhorarem muito. Os mercados estão focando no e-commerce e montando seus Centros de Distribuição, pois o Brasil é um país grande e precisa de entregas rápidas. A junção dos Centros de Distribuição e Lojas Físicas é o que funciona melhor. É possível comprar no e-commerce e buscar na loja ou comprar no e-commerce e pedir para entregar; ir à loja ver o produto, caso não conheça a marca e depois voltar para casa e comprar via e-commerce, possibilitando a comparação de preços.

11. Em relação às políticas públicas, como você vê o trabalho governamental para incentivar a retomada da economia?

O que auxiliou na demanda por eletroportáteis em 2020 foi a ajuda do governo com as quatro ou cinco parcelas de R$ 600,00. A Ajuda em 2021 que se limitou a R$ 175,00 até R$ 300,00, fica mais limitada ao consumo de alimentos, não interferindo muito na movimentação de bens duráveis. Mas, as políticas públicas são realmente importantes para manter uma base social do país. Neste momento, não estamos tendo incentivo que possa ajudar essa área de bens de consumo. O Governo está promovendo a vacinação e com isso será possível mantermos as lojas abertas e voltarmos a nossa rotina normal.

12. E para finalizar, ainda no aspecto da projeção, visando uma mensagem de otimismo para o setor, para o próximo semestre, você acredita que temos bons ventos soprando em nossa direção?

Com certeza, o segundo semestre mostra-se positivo, conhecemos agora melhor o que é uma situação de pandemia. A vacinação vai manter lojas abertas, possibilitando a economia girar para todos os setores. Alguns aspectos ainda estão nos atrapalhando como a pressão sobre os custos. Esperamos um segundo semestre realmente positivo, onde o segmento recupere os patamares de 2019, e passe bem por ele, para termos um 2022 ainda mais positivo.

SUSTENTABILIDADE

Acredito que seja fundamental olharmos para os produtos do setor, não como consumidores de energia e água ou geradores de impactos ambientais, mas sim como geradores de impacto positivo, que entregam funcionalidades importantes, não somente para facilitar a vida das pessoas, mas também para possibilitar a redução de diversos impactos ambientais caso estes produtos não existissem.

João Zeni, Gestor do Grupo Técnico de Sustentabilidade da Eletros

  1. O Sistema de Logística Reversa está em funcionamento e a indústria já está trabalhando para cumprir o Decreto 10.240/2020, que estabelece metas para a logística reversa e a reciclagem dos produtos após o seu consumo. Como a indústria eletroeletrônica está se engajando? E como estão funcionando os trabalhos?

O setor eletroeletrônico como um dos atores do processo está trabalhando muito para cumprir as exigências do Decreto. Mas, entende que é importante a participação de todos os atores (importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores) para conquistar resultados relevantes. O setor tem se organizado para reduzir custos e fazer o processo funcionar de maneira efetiva.

O sistema de logística reversa possui uma governança que permite que as empresas façam um sistema individual ou coletivo. A maior parte das empresas do setor já aderiu ao sistema coletivo, que pretende mostrar a eficiência no processo e disponibilizar o máximo de pontos de coleta possível. Para organizar a gestão dos resíduos sólidos (pós-consumo), foram criadas entidades gestoras, entre elas, a Abree (Associação Brasileira de Reciclagem de Eletrônicos e Eletrodomésticos), que integra a maioria das Associadas da Eletros. Neste processo, há também, o relacionamento com os órgãos ambientais fiscalizadores e regulamentadores, e para isto também foi criado o Grupo de Acompanhamento e Performances (GAP), composto por representantes da Abree e da Eletros para supervisionar a implementação do sistema, entender os desafios e fazer a interlocução com estes órgãos ambientais. Estes trabalhos têm muitas frentes e exigem a cooperação e o engajamento de estados e municípios unindo esforços na destinação adequada dos produtos em fim de vida, para redução dos impactos ambientais.

2. Em sua opinião, os consumidores já estão familiarizados o suficiente com o tema? Como isso poderia ser melhorado? E o que isso implica nos resultados da logística reversa?

O maior desafio é a comunicação. O consumidor está ganhando consciência sobre esse tema, mas ainda não há um entendimento claro que os levem a uma mudança de hábitos. As empresas estão se mobilizando para se aproximar e fornecer informações aos consumidores, seja via Abree ou diretamente. O objetivo é informar sobre o programa, mas também, levar o entendimento sobre a destinação em locais adequados, onde há um tratamento específico, principalmente pelo impacto ambiental final. Temos muito a avançar em relação a este assunto, mas estamos trabalhando para isso.

3. Quais as principais ações já realizadas? E as que estão por vir?

Segundo a própria legislação, devemos chegar a 400 municípios, os principais em volume de habitantes, até 2025. Então, tudo isso será uma evolução gradativa.

Por esta razão, estamos trabalhando com um plano de comunicação forte para trazer o engajamento dos consumidores de maneira adequada, pois a legislação não prevê somente a construção das estações de coleta, por isso a Abree também trabalha em um plano de comunicação para engajamento dos consumidores.

Além disso, a Associação já tem investido na parceria com municípios que possuem suas próprias dinâmicas de coleta, mas muitas vezes não sabem o que fazer com os equipamentos. Também foram iniciadas parcerias com o varejo, onde pontos de coleta serão implantados, o consumidor poderá adquirir um equipamento novo e fazer o descarte do antigo diretamente na mesma loja. A consolidação e destinação final dos produtos serão de responsabilidade das entidades gestoras, que vão arcar com o sistema de coleta, realizando ações internas e discussões recorrentes para definir estratégias.

4. Quais são as principais práticas sustentáveis adotadas pela indústria de eletroeletrônicos e como estamos posicionados nesse campo em relação a outros setores?

Nós temos dois lados da moeda. De um lado temos a produção, onde temos diversas empresas com iniciativas ou metas em relação a questões como emissões de carbono, redução no uso de matérias-primas virgens, produtos mais eficientes entre outras iniciativas. Do outro lado, o nosso produto em si, também gera benefícios, por exemplo, e somente a título de comparação e indo para comparações extremas, se você não tivesse uma geladeira em casa, teria que se deslocar todos os dias para ir comprar alimentos, porque não teria como conservá-los, consequentemente, contribuiria muito mais para a emissão de CO2. Outro exemplo, é que sem uma lavadora de roupas, você tem que lavar as peças na mão, consequentemente o consumo de água é muito maior. Estes são exemplos simples de que os produtos também contribuem para a sustentabilidade, indo além, vale salientar que nos dias de hoje sabemos que as tecnologias proporcionadas pelo setor contribuem muito mais para facilitar o cotidiano e a vida dos consumidores dando ainda mais tempo para suas outras atividades.

Voltando ao âmbito operacional, muitas das fábricas das companhias do setor já possuem características importantes de práticas sustentáveis, como por exemplo os padrões ISO, sejam o ISO9000 (qualidade), ISO14000 (gestão ambiental), ISO50000 (gestão energética), ou fábricas zero waste, que enviam menos de 1% do que se produz para aterro sanitário, onde os restos ou são reciclados ou vão para coprocessamento.

Vale reforçar que a sustentabilidade é um processo de evolução, uma jornada, por isso que a maioria das empresas têm metas de ambição a longo prazo, 2030/2050, porque a transição não pode ser feita de uma hora para outra, muitas vezes ainda não temos a tecnologia desenvolvida para isso ou em outros casos, o custo para implantação ou uma transição imediata tornaria o valor final do produto inviável para o consumidor, por isto é importante o compromisso com a transição, algo que boa parte do setor já possui e demonstra avanços em suas comunicações e práticas.

Em relação a questões climáticas, há empresas do nosso setor que já estão com suas metas validadas pelo Science Based Target, que é uma tecnologia internacional que significa “metas baseadas em ciência”, que serve para calcular qual seria a meta de redução de emissões de CO2, para que a empresa contribua a não atingir o aumento de mais de 1.5 graus celcius até o ano de 2100. Muitas empresas já são signatárias da iniciativa global da ONU, Cool Coalition, que é compromisso para migração dos gases refrigerantes, para gases de baixo impacto climático até 2023, entre outras diversas iniciativas. Ou seja, existem muitos compromissos para que as indústrias executem suas estratégias de sustentabilidade, olhando para suas cadeias de valor, seja na escolha das matérias primas, relacionamento com fornecedores, ações de diversidade e responsabilidade social e entrega de produtos benéficos à sociedade.

5. Quais são os desafios da indústria com relação a eficiência energética, tema que ocupa um espaço importante na agenda do setor?

Os desafios hoje são com relação aos investimentos para conseguir fazer a transição de tecnologias, pois não é possível fazer qualquer mudança tão rapidamente. A questão aqui é que temos metas de longo prazo e trabalhamos constantemente para trazer evoluções sem onerar o produto para o consumidor. Esse é um equilíbrio necessário e buscamos colocar o consumidor no centro das decisões. A eficiência energética dos produtos já vem sendo trabalhada pela indústria há anos, independente da exigência regulatória, esse já era um compromisso das empresas.

Outro ponto é a medição da eficiência, pois há muita comparação com outros países que fazem as medições com temperaturas e metodologias diferentes das temperaturas do Brasil. Mas, há produtos de outros países, por exemplo, que não têm o desempenho necessário para o enquadramento na Classe Tropical e, por isso, não possuem a capacidade de manter as temperaturas na forma como é exigido pela regulamentação brasileira.

Quando citei o objetivo de redução de CO2, para reduzir emissões, também é no sentido de reduzir o uso de energia do produto. São compromissos globais que estamos fazendo para reduzir o consumo de energia, trazendo benefício diretamente ao consumidor.

6. Há mais algum ponto que você queira acrescentar?

Gostaria de ressaltar mais uma vez que a existência da indústria tem um impacto muito positivo no cotidiano e na vida das pessoas. Produtos como a máquina de lavar louça, economiza muito mais água do que lavar na pia, uma lavadora de alta pressão, economiza 80% menos água do que uma mangueira, as tecnologias de uma geladeira ajudam a conservar mais os alimentos. Esses são alguns exemplos de que nossos produtos contribuem para o cotidiano das pessoas, causando menor impacto ambiental. Minha mensagem final é a reflexão de que a nossa indústria tem um efeito positivo para a sociedade. Acredito que seja fundamental olharmos para os produtos do setor, não como consumidores de energia e água ou geradores de impactos ambientais, mas sim como geradores de impacto positivo, que entregam funcionalidades importantes não somente para facilitar a vida das pessoas, mas também para possibilitar a redução de diversos impactos ambientais caso estes produtos não existissem.

VISÃO DE ESPECIALISTA

LEGISLATIVO EM FOCO: COMÉRCIO EXTERIOR É A NOVA BOLA DA VEZ?

Francisco Negrão
Camila Tonimatsu

Os anos de 2020 e de 2021 ficarão marcados na história brasileira e mundial como anos de mudanças, inúmeros desafios e de oportunidades. Nesse contexto, o Congresso Nacional Brasileiro viu-se imerso e confrontado por diversos temas novos (ou até então dormentes, mas que ganharam tração) em suas pautas, com especial foco no combate à pandemia da Covid-19 e na discussão de pautas reformistas que já estavam na agenda da atual Administração. Dentre os temas mais no spotlight, observamos um número crescente de Projetos que versam sobre questões aduaneiras e de comércio exterior, com potenciais impactos diretos e profundos nos sistemas vigentes – e que, portanto, devem estar no radar das indústrias e dos empresários que atuam ou pretendem atuar no Brasil.

Para ilustrar, destacamos brevemente 4 iniciativas que tramitaram ou tramitam no Legislativo desde o final de 2020, com grande repercussão ao setor industrial.

Para começar, mencionamos dois Projetos ainda em discussão no Congresso Nacional: o PDL (Projeto de Decreto Legislativo) no 575/2020 e o PL (Projeto de Lei) no 537/2021.

  • O PDL no 575/2020, apresentado à Câmara dos Deputados em 22.12.2020 pelo deputado Afonso Motta (PDT-RS) (em conjunto com os deputados Jerônimo Goergen (PP/RS), Orlando Silva (PCdoB-SP) e outros), para sustar determinados artigos do Decreto Antidumping (no 8.058/2013) e a íntegra da Portaria SECEX no 13/2020, ao argumento de que supostamente não teriam respaldo no Acordo Antidumping e na Lei no 9.019/95, e/ou não seriam claros e provocariam insegurança jurídica aos administrados, ao prever sobretudo a possibilidade de suspender ou de reduzir direito antidumping por razões de interesse público ou não, mesmo quando existirem elementos técnicos que o justifiquem. O PDL está em discussões na CDEICS (Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria, Comércio e Serviço da Câmara dos Deputados), na qual tramita sob a Relatoria da Deputada Alê Silva (PSL-MG), que inclusive já proferiu Parecer favorável ao Projeto. Será agendada Audiência Pública (em data a ser definida) para discussão sobre o referido PDL, a qual já conta com uma lista de pelo menos 10 palestrantes convidados, dentre eles o Presidente da Eletros, bem como representantes do Ministério da Economia, da Abimaq, Abividro, Abiquim, CNI, dentre outros.
  • O PL no 537/2021, por sua vez, dispõe sobre as condições e os limites aplicáveis ao Poder Executivo quando da alteração de alíquotas do Imposto sobre a Importação de Produtos Estrangeiros (II), tendo sido proposto em 23.02.2021 pelo Deputado Federal Marcelo Ramos (PL/AM). O PL prevê uma série de limitações e de critérios à atuação do Executivo quando da alteração de alíquotas do imposto de importação, alegadamente com vistas a garantir maior segurança jurídica e previsibilidade. Propõe, por exemplo, a realização obrigatória de consultas públicas sobre propostas de alterações de alíquotas do imposto de importação (o que hoje ocorre apenas em propostas de alteração permanente da TEC – a Tarifa Externa Comum do Mercosul), bem como o estabelecimento de limites cumulativos a cada 3 anos para as alterações tarifárias de cada linha tarifária. Foi realizada Audiência Pública em 22.09.2021 – que contou com palestrantes da Abimaq, Abiquim, CBIC, CNI e a Abinee, além de representante do Ministério da Economia. O Projeto, continua, atualmente, sob discussão perante a CDEICS da Câmara, sob a Relatoria do Deputado Guiga Peixoto (PSL-SP). Ato seguinte, o PL deverá passar ainda por discussões no âmbito das Comissões de Constituição e Justiça; de Cidadania; e pela Comissão de Finanças e Tributação da Câmara.

Em relação às concluídas, destaque-se, então, a MP (Medida Provisória) no 1.033/2021 e a MP no 1.040/2021.

  • A MP no 1.033/2021 buscava alterar a Lei nº 11.508/2007, que dispunha sobre o regime tributário, cambial e administrativo das Zonas de Processamento de Exportação (ZPE). Inicialmente, a MP se limitava a conceder, à época, estímulo tributário à comercialização de oxigênio medicinal no contexto da pandemia da Covid-19, tendo seu objeto sido ampliado quando foi transformada no Projeto de Lei de Conversão no 13/2021. Por meio deste Projeto, revogava-se por completo, dentre outros pontos, a obrigatoriedade de que as empresas localizadas em ZPEs exportassem ao menos 80% de sua produção – permitindo, portanto, que toda a sua produção fosse destinada ao mercado interno. A despeito de o Projeto não contar com o apoio de diversos setores da indústria brasileira, acabou aprovado e sancionado em 14.07.2021 (Lei no 14.184/2021).
  • a MP no 1.040/2021, por sua vez, versava sobre a modernização do ambiente de negócios no país. Enquanto estava em discussão perante a Câmara dos Deputados, recebeu a proposta de inclusão de um dispositivo (sob o art. 7º) sobre licenciamento não-automático de importações, com vistas a prever vedação expressa ao regime de licenciamento não-automático de importações com base em referencial de preço mínimo. Essa proposta gerou acaloradas discussões e inclusive aparente oposição de segmentos distintos da indústria brasileira. O art. 7º proposto foi, então, retirado do texto da MP para, nas palavras do Relator, não comprometer a MP como um todo. O Relator antecipou, contudo, que as discussões sobre o tema poderão ser retomadas futuramente em novo Projeto de Lei.

Pela relevância das iniciativas mencionadas, o acompanhamento atento e constante das iniciativas legislativas sobre temas aduaneiros e de Comércio Exterior é vital para um mapeamento mais preciso e prospectivo de eventuais riscos e oportunidades, sobretudo à indústria. Enriquece-se o debate e possibilita-se um planejamento mais seguro de ações fundamentadas junto a stakeholders sobre temas de interesse de setores diversos, com grande impacto para os investimentos e dia a dia de dezenas de agentes econômicos.

 

Francisco Niclós Negrão, advogado e mestre em Economia e Finanças Internacionais e Camila Emi Tomimatsu, doutoranda em Direito do Comércio Internacional e pós-graduada em Administração de Empresas.
Magalhães e Dias Advocacia.