— EDITORIAL —

Na edição de março do Conectados, como não poderia deixar de ser, a liderança feminina e a equidade de gênero são destaques em nosso conteúdo.

E discutir a presença e a igualdade de oportunidades para mulheres no trabalho e na nossa sociedade, de forma geral, não deveria ser uma tarefa restrita a este mês.

Com base nesta premissa, nesta edição, traremos três fantásticas entrevistas com importantes executivas do nosso setor. Estas entrevistas fazem parte de uma nova série, chamada “Liderança Feminina”, que passará a estar presente em edições do Conectados.

O objetivo da série “Liderança Feminina” é mostrar a personalidade de mulheres que, à frente dos seus times, investem esforços, entre os milhares de trabalhadores e trabalhadoras do setor, na construção da história da indústria de eletroeletrônicos, no país.

Se atualize, ainda, nesta edição, sobre a agenda da Eletros e conheça a composição do nosso Conselho de Administração, eleito para um novo período de mandatos.

Boa leitura!

 

O Conectados é um informe periódico da Eletros com o objetivo de reforçar, junto à opinião pública e formadores de opinião, a importância de nossa representatividade ao desenvolvimento econômico e social do país.

FIQUE LIGADO

SAIBA OS ÚLTIMOS ASSUNTOS QUE MOBILIZARAM A AGENDA DA ELETROS

NOVO CONSELHO

Um dos destaques da agenda da Eletros, neste mês, foi a realização de eleição para formação do Conselho de Administração da entidade, com mandatos que irão se estender pelos próximos 2 anos. E Edward Feder foi reeleito para mais um mandato na Presidência do Conselho.

As quatro vice-presidências do Conselho de Administração foram ocupadas por Eduardo Vasconcelos, em representação ao segmento de Linha Branca; Toshio Murakami, em representação ao segmento de Ar-Condicionado; Daniele Cardani,  em representação ao segmento de Linha Marrom; e Jacques Ivo Krause, em representação ao segmento de Linha Portátil.

Mais detalhes sobre esta nova composição do Conselho e sobre as principais agendas de cada vice-presidência você poderá acompanhar na próxima edição do Conectados.

PODER EXECUTIVO EM PAUTA – IPI 1

Em agenda cumprida no dia 08 de março, em Brasília, Jorge Nascimento, presidente executivo da Eletros, se reuniu com representantes da Receita Federal para tratar sobre a redução linear de IPI, estabelecida pelo Decreto nº 10.979 | 2022. A Eletros ressaltou a importância dessa política pública para o fomento da atividade industrial ao mesmo tempo que apontou para a necessidade de se atender a excepcionalidade aos produtos fabricados na Zona Franca de Manaus.

PODER EXECUTIVO EM PAUTA – IPI 2

No dia 14 de março, ocorreu outro encontro, desta vez realizado de forma virtual, com a Secretaria de Desenvolvimento de Indústria e Comércio do Ministério da Economia, Glenda Lustosa. Este encontro também foi destinado a tratar sobre os desdobramentos da redução linear de IPI, a partir do Decreto nº 10.979 | 2022. Em debate, soluções para a implementação da medida, enxergando os diversos polos industriais do país.

ICMS NA ZFM

O GT Tributário, grupo de reúne os especialistas em relações tributárias e fiscais das Associadas Eletros, recebeu nesta última quinta-feira, 31 de março, o sócio titular da área tributária do Demarest Advogados, Maurício Barros, para falar sobre a glosa de créditos de ICMS para operações originadas da Zona Franca de Manaus. Na apresentação, o advogado destacou os principais aspectos do entendimento administrativo do Tribunal de Impostos e Taxas (TIT) de São Paulo a respeito do tema e possíveis encaminhamentos para a questão.

LEI DA GESTANTE

A Lei da Gestante e a Medida Provisória do Teletrabalho entraram na pauta de discussões tratadas pelo GAL, Grupo de Assuntos Legislativos da Eletros. Na última sexta-feira, já dia 01 de abril, o advogado titular da área trabalhista do escritório Machado Meyer, Rodrigo Seizo Takano, discorreu sobre estes assuntos sob uma perspectiva bastante atualizada. Na oportunidade, os participantes debateram sobre os impactos nas relações e nos ambientes de trabalho, causados pela Covid-19, e como restabelecer as atividades laborais diante de um “novo normal”.

ELETROS NAS REDES

Você está acompanhando a série “O que é a Eletros ” em nosso Instragram? Se ainda não viu, não perca tempo. Vá até nossa página e compartilhe.  A série faz parte de uma nova estratégia de posicionamento da Eletros nas redes sociais.

O objetivo é iniciamos uma nova abordagem mais estratégica com intuito de ampliar e engajar nossa base de seguidores trazendo maior proximidade às nossas ações, incluindo nossa agenda, iniciativas e nosso posicionamento sobre pautas de interesse para toda sociedade.

Acesse nosso Instagram:

LIDERANÇA FEMININA

Nesta edição de março, o Conectados destaca a presença da mulher em títulos de liderança no setor eletroeletrônico e debate a crescente participação das mulheres no mundo do trabalho.  A ascensão feminina nos mais diversos espaços da vida em sociedade passou a ser uma agenda de grande relevância em praticamente todos os países.

Apesar das estatísticas ainda apresentarem discrepâncias no alto escalão, é inegável que tem havido muitos progressos.  As mulheres, hoje, já são maioria no acesso ao ensino superior e em alguns setores os salários já se encontram equiparados. Entretanto, temos ainda um longo caminho para conquistar a tão sonhada equidade.

A indústria de eletroeletrônicos é feita por muitas mulheres. Na estreia da nossa série, vamos contar um pouco da trajetória de 3 grandes executivas, que vêm fazendo a diferença, de forma bastante positiva, para suas organizações e contribuindo para que nosso setor seja cada vez mais diverso.a

PATRÍCIA FROSSARD – PHILIPS

1 – Qual a sua a formação e como foi, resumidamente, sua trajetória profissional? Como você chegou ao setor de eletroeletrônicos e o que mais te atrai neste segmento?

 

Sou formada em Direito com especializações nas áreas corporativa, consumidor e trabalhista, por Mackenzie, FGV e recentemente finalizei MBA na USP. Uma curiosidade é que na área do Direito as mulheres têm ocupado um grupo cada vez maior, sendo até predominantes, diferentemente de outras faculdades, como informática e engenharia. Sendo assim, já tive contato com muitas outras mulheres desde o início da minha carreira para referência e aprendizado.

Logo em seguida à minha formação, entrei na PepsiCo, uma empresa de consumo de alimentos, ficando lá por treze anos e, após isso, resolvi ver como eu era fora daquela empresa em um novo desafio.

Num primeiro momento, busquei uma empresa que tivesse um nome no mercado, uma empresa que a marca falasse por ela, que você não precisa apresentar e foi isso que me atraiu até a Philips. Eu estava em uma multinacional americana, que também tem essa notoriedade e essa foi a única exigência que coloquei para mim mesma para essa movimentação.

Na Philips, eu cheguei pela área jurídica também, que era o meu background, jurídico e compliance. Fiquei nestas áreas até 2019, exclusivamente, e depois migrei para essa posição de country manager do Brasil. E a Philips é uma empresa que me encanta, o setor inteiro me encanta bastante, porque nada como você ter um produto que consome, você consumidor do seu próprio produto, que está na casa de todo mundo. Quando converso com as pessoas, vejo que elas se identificam, entendem o que eu faço e, por mais que elas não compreendam detalhadamente, sabem que contribuo para que esses produtos cheguem com qualidade na casa de cada consumidor. É bastante gratificante.

Então, assumo a liderança da área jurídica e de compliance no Brasil quando entro na Philips e depois migro para Latam, assumindo a mesma área na América Latina e, em maio de 2019, veio esse convite para a cadeira atual.

Não era algo que eu perseguia na minha carreira, pois naquele momento eu não tinha um plano de carreira no qual a minha ambição era ocupar um posto de liderança maior, porque quando você é gestor de departamento também tem um cargo de liderança importante, sendo que obviamente o tamanho das responsabilidades e do grupo de pessoas que você atua diretamente é diferente, mas são grandes obrigações. Mas foi uma mudança de cadeira, obviamente bem maior, uma posição que em num primeiro momento não esperava ter, que fui convidada e até pensei, será que comigo mesmo? Será que é isso? Eu tive que perguntar para as pessoas que me propuseram aquele cargo o porquê estava sendo escolhida e quais as expectativas ali.

Mas, compreendi quando percebi que as empresas têm momentos em que um CEO precisa ser um cara mais de marketing, outros em que ele precisa ser um cara mais de vendas e ela tem momentos que precisa, como no meu caso, de alguém que traga uma estabilidade para dentro. Estávamos tendo algumas mudanças, consolidando um portfólio de produto conectado ao nosso kit de health continuum, que significa estar desde a casa do consumidor até um tratamento pós hospital, pois você sabe que a gente tem uma gama gigante de produtos, então acredito que precisava-se ali de alguém de uma área que fosse neutra, que poderia ter uma visão mais holística de todos esses produtos e priorizações da mesma forma.

2 – Como foi para você lidar com os desafios de galgar um posto de liderança corporativa diante das conhecidas dificuldades enfrentadas pelas mulheres no ambiente de trabalho não apenas no Brasil, mas também no mundo?

 

Eu sempre penso que não estamos onde estamos só por nós mesmos. Temos uma dependência e conexão com todo um grupo de pessoas que nos acompanha e acompanhou, que nos deram oportunidades ao longo da vida. Quem te ensinou alguma coisa para o bem e até para o mal, porque você aprende também com o sofrimento. Desde meu professor do primário, até os líderes que eu tive, minha mãe, meu pai, meu marido, minha psicóloga, todos me ensinaram um pouco ao longo da minha vida e todos contribuíram para a formação do que sou hoje.

 

Ninguém é de ferro e, ao longo da vida, tive dificuldades, sim. Às vezes de me encontrar dentro da empresa nos momentos de transição de carreira; nos momentos de mudança diária, nos quais você se dedica um pouco mais no começo para conseguir entregar aquilo que você não estava habituada com a mudança de posição e naqueles momentos em que naturalmente você precisa correr um pouco mais até chegar no “voo de cruzeiro”.

Mas entendo que essas dificuldades são naturais do crescimento, então não vejo elas como dificuldades que tiveram o poder de me fazer desistir ou de pensar em desistir. Foi muito difícil, por exemplo, essa grande mudança depois de treze anos de uma empresa americana de consumo, principalmente de consumo de alimentos, para uma empresa também de consumo, mas de eletrônicos, com um ticket muito mais alto, um produto muito mais regulado, bem diferente no mercado e o público também é muito diferente tanto dentro, quanto fora da empresa.

O mercado de negócios da Philips é um mercado muito mais de relacionamento do que o mercado de alimentos, no qual você acaba saindo muito mais ali de uma briga de peso, de gondola, para uma conversa de marca, de inovação, em que você discute parcerias de longo prazo, modelos de negócio diferentes, como assinaturas e tudo mais que está vindo agora com os novos modelos digitais. Então foi um momento muito difícil para mim essa ruptura, principalmente no primeiro ano que trabalhava até tarde e só depois fui conseguindo me organizar.

Porém, hoje posso dizer que tenho bastante tranquilidade de fazer o que eu faço e de saber que estou presente também na minha casa. De saber que consigo agendar coisas com os meus filhos, com a minha família, minha academia, meus médicos, consigo colocar isso tudo dentro de uma agenda, dentro de um horário razoável, sem precisar ficar fazendo grandes loucuras.

Hoje atingi um momento no qual posso evitar algumas coisas, então é muito difícil que eu aceite algum convite para um jantar de negócios, por exemplo, falo que se as pessoas querem fazer uma reunião de negócios comigo, vamos fazer um café da manhã, vamos fazer um almoço. É muito difícil que alguém consiga me tirar da rotina, de jantar com a minha família, de ter esse período importante em contato com meus filhos, em manter essas práticas saudáveis que contribuem também para ultrapassar as dificuldades que venham surgir.

3 – Do início de sua trajetória até hoje as mulheres vêm alcançando cada vez mais igualdade de condições em relação aos homens, mesmo que haja enormes discrepâncias ainda.  Quais foram as principais mudanças de lá para cá que você considera importantes?

 

Eu te digo que já sofri assédio no início da minha carreira e acho legal falar diretamente, porque depois de um tempo você adquire uma maturidade e consegue tocar em assuntos delicados. Passei por isso no começo da minha trajetória e é muito ruim e muito difícil, porque quando você está começando a sua carreira você ainda não sabe como as coisas funcionam e isso passa a impressão de que elas são assim, porque você não conhece outra forma. Você está conhecendo o trabalho, e isto é como educar uma criança, pois se você educa ela falando que é bonito falar palavrão, e ela não conhece outra forma para que aquilo e não enxerga o erro, vai achar que é o correto.

Claro que, temos nossos princípios e sempre surge a questão do “isso não me parece correto”, mas tenho 24 anos de carreira e as questões de compliance e governança não existem desde esse período, são muito mais recentes. No Brasil, a lei de compliance e anticorrupção começou em 2013 e as empresas foram se adequar a partir daí. É claro que algumas multinacionais, como a Philips por exemplo, que atua nesse mercado muito regulado e tem bastante relações com o governo, já tinham políticas, pois já tinham importado isso de suas matrizes, mas outras empresas não tinham e a questão cultural que não podemos desconsiderar que existe no Brasil é forte.

Mas isso aconteceu, sim, no começo da minha carreira e foi uma questão muito difícil de lidar, porque eu não sabia até que ponto poderia falar disso, para quem eu contaria primeiro, porque não havia um canal de denúncia como tem hoje e por isso havia o medo constante da retaliação, medo de perder o emprego, perguntas como, “será que eu nunca mais vou conseguir trabalhar?”, “em todo lugar que eu for, vai ser assim?”. Então você acaba se recolhendo ao seu espaço, deixa aquilo na sua mente, foi um momento bem difícil.

É uma experiência que carreguei por muitos anos sem falar e só agora, recentemente, venho falando mais disso, porque eu acredito que é um assunto que precisa ser abordado, porque as mulheres ainda passam isso eventualmente em locais que ainda não estão adequados, adaptados, que não tem ainda suas linhas de denúncia e acolhimento.

Acredito que de lá para cá, as principais mudanças tenham sido essas adequações nos processos internos das empresas, maior crivo em compliance e governança, abertura de canais de denúncia, o aumento nos debates sobre conduta e respeito em todos os ambientes, mas temos sim um longo caminho a seguir.

4 – Na sua visão, quais políticas educacionais, corporativas e quais mudanças culturais são necessárias para aceleramos o processo de equidade de gênero nas companhias, tendo em vista que no Brasil o volume de mulheres com ensino superior, pós-graduação e mestrado supera o de homens?

 

Eu acho que tudo começa dentro de casa, na escola e no convívio social. Escuto ainda comentários que meu filho traz, por exemplo, “porque o pai do meu amiguinho falou que menino que é menino tem uma namorada em cada cidade”, então isso é cultural, isso se propaga.

Por isso, espero que cada vez mais comecemos a escutar coisas diferentes, propagar coisas diferentes. Eu acho que tem coisas que são muito absurdas, as mais críticas, como por exemplo, o caso que aconteceu com o deputado da Alesp recentemente, que são muito mais exponenciais e servem bastante para abrir esse canal, de revolta, de fazer as pessoas refletirem e repensarem seus atos.

Mas tudo, claro, é uma questão de tempo. Não dá para mudar a cultura de um país, de uma região – penso que a América Latina toda é bem parecida – de uma hora para outra, mas já vejo muitos avanços. Você não vê hoje em dia como a gente via antes, os homens mexendo com as mulheres no meio da rua, isso acontecia quando eu era pequena, lembro de ver.

Então eu já vejo uma evolução e isso faz parte da comunicação, da sociedade, que tem um papel importante através das redes sociais, do convívio social. Agora, dentro das empresas, as coisas são mais estruturadas, principalmente se você fala de empresas grandes.

Por exemplo, sigo sempre algumas regras em uma contratação: eu tenho que ter mulheres fazendo parte do processo seletivo, eu tenho que ter mulheres no processo de succession plan dos principais executivos, eu tenho que ter programas de inovação para desenvolver mulheres exclusivamente, então você cria regras dentro da empresa voltadas para que essas ações aconteçam.

Com isso, também, acho que o leque se abriu mais na cabeça das mulheres, porque você até oferecia posições para elas e algumas chegavam para mim dizendo “não quero porque eu adoro ser mãe” e eu fiquei triste porque eu também adoro ser mãe. “Eu acho que não vou conseguir controlar a agenda profissional”, então vamos lá, aqui estou para mostrar a você on the job que isso é perfeitamente possível.

Então eu acho que é uma questão também de exemplificarmos que isso é possível nas posições de liderança; a empresa obviamente tem um papel de responsabilidade, de dar flexibilidade, o home office abriu muito isso. Hoje não tenho problema nenhum em eventualmente ter que fazer mercado na segunda-feira de manhã, a minha agenda já está organizada para isso eu já sei quais são os meus entregáveis do dia e todo mundo passou a conviver com isso.

5 – Quais são as políticas da companhia para tratar sobre os temas de inclusão e diversidade no time? Vocês possuem algum programa de atração focado nesse aspecto?

 

Nós temos um comitê de diversidade e inclusão que é formado pelos funcionários, no qual eles se organizaram e o que fizemos foi dar espaço para que eles falassem em reuniões digitalmente, nas reuniões gerais da empresa, para que apresentassem a iniciativa. Eles apresentaram a iniciativa e convidaram mais funcionários para fazer parte desse grupo, por isso eu acho bacana que não é uma ação minha ou do management team.

É uma ação dos funcionários e dentro deste grupo existem pilares, como o de LGBTQIA+, o pilar das mulheres, um pilar de PCDs, o pilar de diversidade de raça, e aí dentro de cada um deles tem um líder da empresa que representa aquele grupo e que traz ações, palestras de conscientização e tem funcionado bem. Esse mês o foco é o women month, no qual temos focado as ações para mulheres, mas é dessa forma que funcionamos e está indo muito bem, principalmente porque são funcionários voluntários que estão liderando essas ações.

FRANCINE BOLUTAVICIUS – MIDEA CARRIER

1 – Qual a sua a formação e como foi, resumidamente, sua trajetória profissional? Como você chegou ao setor de eletroeletrônicos e o que mais te atrai neste segmento?

 

Me formei na faculdade de direito de São Bernardo do Campo, tendo me pós-graduado em Direito do Trabalho no Mackenzie e Direito Empresarial na FGV. Contudo, sempre trabalhei no mundo corporativo, sendo que minha experiência em escritório foi de um ano apenas. O que eu gosto do mundo corporativo é justamente a possibilidade de aprendermos com outros colegas de outras áreas e construirmos juntos um projeto, um negócio, então é possível você ver o valor agregado da atividade do Legal dentro de uma operação quando você faz parte de um jurídico interno.

Indo para minha carreira, eu já trabalhei em empresas de T.I. durante oito anos e depois fui para indústria, já trabalhando em indústria alimentícia, de equipamentos pesados, construção civil e agora estou na indústria de eletrodomésticos. Já tive posições fora do país também, no México como Head América Latina, o que é uma posição difícil para advogados, porque normalmente estamos restritos ao nosso país de formação acadêmica, mas tive essa experiência em uma de minhas operações e agora faço parte da Midea Carrer.

Cheguei na Midea a convite de um headhunter. Já estava há 7 anos no mercado de construção civil, no ramo de cimento, trabalhando no Rio de Janeiro, me deslocando de São Paulo toda segunda-feira e recebi uma proposta totalmente diferente de vir para a Midea. O que me encantou aqui? Eu sou responsável por uma operação regional, então cuido de toda a operação da América do Sul, onde temos plantas no Brasil e Argentina, além de uma importadora no Chile. Tudo que ocorre nestas operações, as vendas da Midea Carrer na região, são de responsabilidade de nossa equipe aqui no Brasil, então me chamou muito a atenção ser convidada para uma retomada de operações desse porte na região.

 

Num segundo momento, também me chamou a atenção o tipo do negócio, já que eletrodomésticos estão dentro da casa das pessoas. É muito legal saber o quanto a tecnologia hoje em dia trabalha como uma facilitadora para que as pessoas tenham tempo ao que realmente importa. É empolgante trabalhar com esses robôs que fazem seu trabalho de maneira autônoma, a tecnologia IoT (Internet of Things) que já é muito comum em outros continentes, mas vem ganhando força no Brasil. Você consegue comandar seus produtos de fora de casa, deixando ambientes previamente refrigerados, por exemplo, ou colocando a máquina de lavar para funcionar antes de chegar em casa, então me inspira estar em um mercado que vem para facilitar e trazer comodidade para a vida das pessoas. É gratificante participar deste movimento de mudança de um segmento como um todo.

2 – Como foi para você lidar com os desafios de galgar um posto de liderança corporativa diante das conhecidas dificuldades enfrentadas pelas mulheres no ambiente de trabalho não apenas no Brasil, mas também no mundo?

 

Acredito que para mim seja um pouco mais difícil responder essa pergunta, porque considero que tenha vivido um processo mais natural, pois sempre tive muita sorte de encontrar pessoas muito boas pelo meu caminho, que sempre me apoiaram. Além disso, nunca estabeleci metas de curto prazo, de focar no crescimento dentro de uma empresa com objetivos pré-definidos, então os temas ou propostas sempre apareceram para mim de forma muito natural. Dizem que sorte na verdade é você ter a competência e estar no lugar certo na hora certa e acho que a minha carreira foi muito conduzida desta forma.

Tenho certeza de que enfrentei dificuldades por ser mulher, mas à medida que elas apareciam, eu simplesmente colocava elas de lado e seguia em minha carreira. Nunca quis colocar as dificuldades num primeiro lance ou como tema mais importante daquele momento. Minha percepção é que quando você trabalha forte, com um proposito e quando você está muito alinhado com os negócios, haverá sempre alguém olhando para sua carreira e as oportunidades irão surgir naturalmente.

Tive que desenvolver habilidades diferentes, ainda mais pela formação de advogada, tendo que sair de uma linguagem extremamente técnica para uma linguagem executiva, tendo sido também um grande processo e vejo que durante minha carreira, sempre fui muito atenta a feedbacks que vinham voluntariamente ou os pedia sempre que possível e todo esse retorno que recebi, utilizei em meu favor para que pudesse desenvolver as habilidades necessárias para chegar aonde cheguei.

3 – Do início de sua trajetória até hoje as mulheres vêm alcançando cada vez mais igualdade de condições em relação aos homens, ainda haja enormes discrepâncias.  Quais foram as principais mudanças de lá para cá que você considera importantes?

 

Vejo mudanças, sim, e acho que é notável o quanto as empresas se conscientizaram nos últimos anos em relação à necessidade de oferecer oportunidades iguais, não apenas para mulheres, mas para todo público que é considerado vulnerável. Então, vejo que as empresas estão desestruturando aquele conceito de que somente o homem branco com boa formação é a pessoa com habilidade capaz de ter uma carreira executiva.

No Brasil, ainda engatinhamos um pouco em relação a isso se nos compararmos ao que já existe em outros países, como por exemplo, países em que empresas já têm políticas para a contratação de pessoas com autismo, respeitando todas as limitações e explorando as potencialidades destas pessoas. Aqui, infelizmente, ainda celebramos muito quando vemos uma mulher em posição de liderança, o que mostra quanto estamos imaturos em relação a esta questão da igualdade de gênero ou em relação às pessoas vulneráveis. Mas temos que reconhecer, sim, que grandes passos foram dados e muitas empresas têm estas políticas.

4 – Na sua visão, quais políticas educacionais, corporativas e quais mudanças culturais são necessárias para aceleramos o processo de equidade de gênero nas companhias, tendo em vista que no Brasil o volume de mulheres com ensino superior, pós-graduação e mestrado supera o de homens?

 

O que sempre gosto de ressaltar, é que não depende só de as empresas terem boas políticas, mas também destas pessoas em relações de vulnerabilidade fazerem valer seus direitos, se comunicarem, se posicionarem em algum momento que se sentirem desrespeitadas no ambiente corporativo. Também se deve haver empatia dos homens neste círculo, à medida que percebem que uma mulher está sendo insultada em um evento, por exemplo, que tenham essa consciência de promover uma cultura de respeito e igualdade.

5 – Quais são as políticas da companhia para tratar sobre os temas de inclusão e diversidade no time? Vocês possuem algum programa de atração focado nesse aspecto?

 

Nós não temos uma política por escrito, mas temos muitos comportamentos que reforçam a preocupação da companhia nesta questão da igualdade. Nós tivemos nos últimos meses várias mulheres promovidas para cargos de liderança dentro de fábricas e costumo dizer que isso até é mais importante do que termos mulheres em postos executivos e corporativos, pois no escritório já atingimos um certo nível de equidade.

Aplicamos muitos princípios e valores em nosso dia a dia, como por exemplo, recentemente convidamos uma influenciadora para um evento, que fala muito sobre igualdade de gênero, defesa dos direitos da mulheres e tivemos uma aceitação muito grande do público masculino também em relação a este evento, então, além das atitudes que a companhia vem tomando com essas promoções, estamos nos dando o direito de verbalizar estas preocupações, trazendo à mesa os pontos que vemos como grupo que ainda temos possibilidade de melhoria.

Mas te digo ainda que, embora a indústria tenha um ambiente, à primeira vista, machista, temos visto que as mulheres estão sim conseguindo integrar comitês executivos, conselhos de administração, o que nos faz pensar que temos um futuro muito promissor nesse aspecto.

CRISTIANE CLAUSEN – BRITÂNIA/PHILCO

1 – Qual a sua a formação e como foi resumidamente, sua trajetória profissional? Como você chegou ao setor de eletroeletrônicos e o que mais te atrai neste segmento?

Eu me graduei em Administração, com ênfase em Comércio Exterior, mas desde o início da trajetória profissional fiz questão de explorar diferentes visões de diferentes áreas, para que meus conhecimentos fossem além da minha formação acadêmica. Antes de ingressar da Britânia, trabalhei nas áreas de Importação em empresas como Philip Morris e Renault. O que eu mais gosto sobre trabalhar na Britânia é que estamos tratando de produtos que permeiam a rotina do consumidor, facilitam suas vidas. Os eletrodomésticos e eletroportáteis fazem parte dos momentos reais da vida das pessoas, e isso traz um senso de propósito de sempre fazer o melhor trabalho possível e, dessa forma, trazer o melhor para a vida dos brasileiros.

2 – Como foi para você lidar com os desafios de galgar um posto de liderança corporativa diante das conhecidas dificuldades enfrentadas pelas mulheres no ambiente de trabalho não apenas no Brasil, mas também no mundo?

Foi na Britânia que alcancei cargos altos de liderança, e me sinto privilegiada em não ter me sentido afetada por essa desigualdade. Sempre percebi a Britânia como uma empresa muito aberta para as competências de mulheres, sem fazer distinção. Porém, tenho consciência que isso é uma exceção no mundo corporativo, e como sociedade ainda temos muitas barreiras a serem quebradas nesse universo.

3 – Do início de sua trajetória até hoje as mulheres vêm alcançando cada vez mais igualdade de condições em relação aos homens, ainda haja enormes discrepâncias.  Quais foram as principais mudanças de lá para cá que você considera importantes?

Percebo uma presença muito maior de candidatas, desde vagas de estágio até vagas de liderança. Isso demonstra que cada vez mais mulheres estão se especializando em diversas áreas, formando uma rede cada vez maior de mulheres qualificadas no mercado de trabalho.

4 – Na sua visão, quais políticas educacionais, corporativas e quais mudanças culturais são necessárias para aceleramos o processo de equidade de gênero nas companhias, tendo em vista que no Brasil o volume de mulheres com ensino superior, pós graduação e mestrado supera o de homens?

Eu acredito que a busca pela informação e evolução de pensamento deve partir, principalmente, de cada indivíduo. Hoje temos muito acesso a informações, estudos, e não há razão para manter pensamentos retrógrados e excludentes. Uma empresa com uma cultura forte, integrada, que passe seus valores através de suas atitudes e, claro, suas contratações, não abre espaço para replicar comportamentos discriminatórios ou diferença de tratamento entre homens e mulheres.

5 – Quais são as políticas da companhia para tratar sobre os temas de inclusão e diversidade no time? Vocês possuem algum programa de atração focado nesse aspecto?

Não temos um programa formal sobre isso, nosso foco é principalmente demonstrar através da nossa equipe e da nossa cultura que não temos espaço para nenhum tipo de preconceito – seja de gênero, racial, orientação sexual. Priorizamos ter sempre um quadro diverso de colaboradores, e isso é estimulado através das nossas contratações e também do crescimento dos colaboradores dentro da empresa. Atualmente a Britânia possui diversos cargos de lideranças ocupados por mulheres.

REPORTAGEM ESPECIAL

AUMENTA A PRESENÇA DE MULHERES EM CARGOS DE LIDERANÇA E ESTEREÓTIPOS DIMINUEM

Ocupando cerca de 10% dos cargos de liderança nas empresas brasileiras, as mulheres vêm conquistando cada vez mais espaço no alto escalão.  É praxe em praticamente todas as grandes consultorias de recrutamento e seleção para cargos de alta gerência e direção apresentar no mínimo uma mulher entre os primeiros candidatos selecionados para uma vaga. A lista no mercado recebe o nome de short list.

A Signium, consultoria americana que há 70 anos atua neste segmento, conseguiu ampliar em 50% a contratação de executivas em 2021 para as vagas que fechou para posições C Level. A tática utilizada foi tão simples quanto bem sucedida. A empresa passou a excluir o gênero dos candidatos na seleção dos currículos.

Ao mesmo tempo que líderes mulheres passam a ocupar mais espaço, alguns estereótipos começam a desaparecer. Entre esses estereótipos mais comuns as avaliações equivocadas de que as mulheres são “duras demais” quando se exige delas firmeza de posicionamento.

Algumas executivas já sofreram esse tipo de preconceito. Este é o caso de Márcia Arah, que compõe o conselho da MasterSense, multinacional brasileira especialista em soluções para a indústria de alimentos e bebidas.

“Quando iniciei minha carreira, homens firmes eram vistos como algo esperado e positivo. À medida que as mulheres assumiam posições mais altas, era comum adotarem posturas mais firmes por seu próprio estilo ou pela forma como aprenderam com seus líderes. No entanto, os feedbacks negativos sobre esses posicionamentos eram muito frequentes para as mulheres”.  Mas, afinal, por que isto acontece?

“Há inconscientemente uma visão cultural que traz as mulheres como maternais. Como se todas devessem ser dóceis e cuidadosas. Este estereótipo está cada menor, mas ainda existe”, afirma Eduardo Drummond, sócio da Signium no Brasil, especializado em posições C-LEVEL para empresas do varejo, bens de consumo e tecnologia.

Caminhos a serem seguidos

 

Márcia Arah, da MasterSense, afirma que as empresas privadas têm papel fundamental na transformação da sociedade, já que “elas ajudam a moldar comportamentos e seus líderes têm muito poder de influência, mais do que imaginam.”.

Já Eduardo Drummond, da Signium, crê que as empresas privadas devem apostar também em programas de mentoria, coaching e desenvolvimento de lideranças femininas para que assim as mulheres se sintam cada vez mais seguras e pertencentes ao mercado de trabalho, sem precisar assumir posturas e atitudes consideradas masculinas para exercer bem seu papel de liderança.