RICARDO MOURA

Ricardo Moura, diretor de customer success da GKF

Conectados: O varejo vivencia um período de retração de vendas no segmento de eletroeletrônicos.  Esse movimento se iniciou ainda em 2021, correto? Quais foram os momentos mais desafiadores?

Ricardo Moura: 2021 experimentou resquícios da pandemia, com o varejo físico sofrendo restrições, inclusive durante datas importantes como o Dia das Mães. Desde lá, talvez o início de 2021 tenha sido o momento mais desafiador, já que o varejo voltou gradualmente à normalidade a partir do segundo semestre de 2021. O mercado brasileiro, bem como os demais, foi afetado pela inflação / alta dos preços devido à ruptura na cadeia de fornecimento e isso reposicionou o ticket médio das categorias em menor ou maior grau, com resultado efetivo na demanda.

As vendas em unidades de janeiro até setembro de 2022 mostram que a retração para o segmento de eletroeletrônicos é de -14,7% se comparado com o mesmo período em 2019 (Jan-Set), antes da pandemia é quase -2% menor que o mesmo período, em 2021.

 

Conectados: Do ponto de vista do consumidor, quais foram os principais fatores que o levaram a diminuir o consumo ao longo deste período?

Ricardo Moura: Não há como desvincular as questões macroeconômicas do comportamento do consumidor. A pressão inflacionária e a alta dos juros foram as principais razões por trás do movimento de redução no ímpeto do consumidor, desde o início de 2021.

 

Conectados: Famílias brasileiras têm sido impactadas por um endividamento significativo. Sendo assim, é possível dimensionar o impacto da dificuldade de acesso ao crédito nos resultados de 2021 e de 2022?

Ricardo Moura: Com o aumento constante das taxas de juros, algumas categorias dentro do segmento de eletroeletrônicos, que tem maior tíquete médio, sofreram um impacto direto com as dificuldades relacionadas ao crédito; e esse passa a ser o grande desafio da indústria e varejo para 2023: incentivar o acesso ao crédito para que os consumidores continuem gerando demanda.

 

Conectados: O quarto trimestre de 2022 será marcado por três grandes eventos que costumam aumentar as vendas: Copa do Mundo, Black Friday e Natal. Os três eventos juntos, possivelmente, serão ainda mais raros de se repetir. É possível prever uma tendência de comportamento do consumidor para esse contexto?

Ricardo Moura: Estamos vivenciando uma oportunidade única de vendas. A conjunção destes eventos tende a alavancar todas as categorias de forma transversal, seja o futebol incentivando a venda de TVs, seja a Black November reaquecendo as outras categorias. O desafio aqui mora mais uma vez no acesso ao crédito, pois com a possibilidade de compra de mais categorias, há sim que se pensar como dar vazão a este desejo do consumidor.

 

Conectados:    É possível dizer se haverá preferência do consumidor por alguma dessas datas? Se sim, qual seria a tendência de maior adesão dos consumidores e com aquisição de quais produtos, respectivamente?

Ricardo Moura: Para o mercado de duráveis, a Black November já é a principal data de vendas, superando o Natal. No cenário atual de eventos, as categorias com maior apetite de compra por parte do consumidor são: Air Fryers, TVs, Smartphones 5G; além de adegas, cervejeiras, churrasqueiras elétricas e áudio, que envolvem em muito a questão de confraternização que essas datas de final de ano acabam incentivando.

 

Conectados: A partir do isolamento social, na pandemia, o consumidor passou a utilizar ainda mais as ferramentas de e-commerce para realizar as suas compras. E essa modalidade de transação vem ganhando expressividade. É possível traçar uma linha evolutiva do uso do mercado on-line? Ou seja, em que proporção essa ferramenta tem ganhado espaço nas vendas ao consumidor?

Ricardo Moura: Em 2019, as vendas online de eletroeletrônicos representavam 18% das vendas em unidades. Já em 2021, a representatividade do online fechou em 43%. Os dados parciais de 2022 (Jan-Set) mostram que esse percentual já atinge 45%, portanto, é notória a evolução do e-commerce e dificilmente retornaremos aos patamares pré-pandêmicos. Há mais investimento em modelos de varejo eletrônico, tanto por parte dos lojistas, quanto por parte da indústria, nas vendas D2C (direct to consumer), através de suas próprias plataformas online.

 

Conectados: Ainda sobre as vendas ao consumidor pelo meio digital e pelo meio físico, há diferença de produtos adquiridos num cenário e no outro? E, nesta esteira, o consumidor escolherá algum desses meios para realizar as suas compras nos três grandes eventos de consumo deste final de ano (Black Friday, Copa do Mundo e Natal)?

Ricardo Moura: Sim, dentro do segmento de eletroeletrônicos, há particularidades. Porém, todas as principais cestas observam o crescimento contínuo do online, desde 2019. Informática, por razões óbvias relacionadas ao teletrabalho, experimentaram um boom durante a pandemia e fecharam 2021 com 60% das unidades vendidas via e-commerce (em 2019, eram 26%). Dados preliminares de 2022 mostram que esse número já superou os 65%. Do outro lado do espectro, mas ainda assim mostrando crescimento acelerado, estão os eletroportáteis, que fecharam 2021 com 39% das vendas em unidades através do canal online, saindo de 17% em 2019. A expectativa é que a tendência prossiga durante os eventos de final de ano, mantendo o protagonismo do e-commerce.

 

Conectados: De modo geral, qual é a expectativa para os resultados das vendas de eletroeletrônicos em 2022? Já é possível construir esse balanço?

Ricardo Moura: Os dados acumulados entre janeiro e setembro de 2002  mostram uma leve retração tanto em unidades (-1,9%), quanto em valor (-6,3%), quando comparados ao mesmo período em 2021 (jan-set). Com o acúmulo de eventos importantes nos últimos dois meses, é esperada uma recuperação.

 

Conectados: Do mesmo modo, já se possui uma perspectiva sobre o comportamento do mercado consumidor para 2023? Podemos esperar crescimento?

Ricardo Moura: Há uma demanda reprimida em várias categorias de TCG, que são cobiçadas pelos consumidores de forma muito intensa; mas dependem de um cenário interno e externo que deem vazão a este desejo de compra. Assim, como o gasto médio em categorias de TCG é elevado, questões básicas como taxa de crédito, inflação e cenário externo terão impacto fundamental para o sucesso de 2023.