04/06 – Fonte: Em Tempo Online
Manaus – Diante da forte queda de 18,8%, que a produção industrial brasileira sofreu em abril deste ano, na comparação com março, representantes da indústria amazonense estimam que os prejuízos para o setor no Amazonas podem ser ainda maiores que março. Enquanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta quarta-feira (3), a pesquisa nacional. O resultado regional será disponibilizado pelo instituto somente na próxima terça-feira (9).
Nacionalmente, o recuo na produção industrial, sob os efeitos da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), atingiu o nível mais baixo desde o início da série histórica, iniciada em 2002, e é o segundo resultado negativo seguido, com perda acumulada de 26,1% no período.
Nesse cenário, representantes do setor no Amazonas afirmam que o número negativo pode ser ainda maior no resultado estadual. Eles lembraram que, em março, mês cujas paralisações da atividade produtiva começaram na segunda quinzena, a indústria do Amazonas apresentou uma queda de 11%.
O presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, afirma que em abril, a maioria das fábricas do Polo Industrial de Manaus (PIM) concedeu férias coletivas e entraram em paralisação parcial ou total. “Algumas até mantiveram essa paralisação ao longo do mês de maio e isso me leva a crer que poderemos apresentar uma queda ainda maior que a nacional”, estima.
Périco diz que as paralisações feitas pelo setor não foram por conta de decretos, mas sim por uma necessidade que os empresários sentiram de proteger os seus funcionários e, também, por conta da falta de insumos, que começaram a faltar por conta das paralisações ocorridas principalmente na indústria da China, também por conta da pandemia.
Na segunda semana do mês março, sete fábricas voltaram a funcionar no PIM com, aproximadamente, 15 mil trabalhadores como, por exemplo, a Samsung, com medidas especiais de proteção. Na semana seguinte, várias outras também deixaram de lado a paralisação e retomaram com suas linhas de produção.
“A atividade econômica está voltando aqui no Amazonas, mesmo assim ainda vamos sentir esses impactos negativos da pandemia por um bom tempo. Para esse ano não temos uma estratégia, somente estamos tentando garantir que os protocolos de saúde e as determinações das autoridades sejam seguidos dentro das fábricas, desde que voltaram a operar”, ressalta Périco.
Eletroeletrônicos
O presidente da Associação Nacional da Indústria de Eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge do Nascimento Junior, avalia que o segmento de eletroeletrônico, um dos principais do Polo Industrial de Manaus (PIM), também deverá sofrer forte queda. “Acredito que semelhante aos números nacionais ou até mais. Nesse momento, metade das indústrias do setor aqui no Amazonas ainda estão de férias coletivas. Só 50% estão operando normalmente”, afirma.
O recuo de 18,8% da atividade industrial, em abril, teve perfil generalizado de queda, alcançando todas as grandes categorias econômicas e a maior parte (22) dos 26 ramos pesquisados. Nesse contexto, os equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos apresentaram uma contribuição negativa relevante no total com o valor de -26%, segundo o IBGE.
Com isso, Jorge Junior informa que uma recuperação econômica para o setor e, no geral, para o Amazonas, será inviável ainda neste ano. “O número de desempregados deve aumentar com a crise econômica e o consumidor ainda deve estar receoso e não deve ir às compras na intensidade necessária para superarmos a estagnação. Acredito que somente em 2021 veremos amplos resultados positivos”, atesta.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, também não espera que os números sejam positivos no resultado estadual. “Não temos meios de estimar, mas sabemos que será um enorme baque na produção industrial em função do número de empresas que ficaram paralisadas e das que foram obrigadas a diminuir por falta de insumos”, encerra.
Indústria automobilística puxou o recuo do setor
A produção de veículos automotores, reboques e carrocerias no país desabou 88,5% na comparação com março e 92,1% na comparação anual, pressionada, em grande medida, pelas paralisações e interrupções na maioria das fábricas do país. Foi a queda mais intensa desde o início da série histórica. Considerando apenas a produção de automóveis, o recuou chegou a 99,9% na comparação com abril do ano passado.
A interrupção da produção de veículos impactou outros segmentos industriais, como metalurgia (-28,8%), produtos de borracha e de material plástico (-25,8%) e máquinas e equipamentos (-30,8%). Outros recuos relevantes no mês foram observados nas atividades de couro, artigos para viagem e calçados (-48,8%), bebidas (-37,6%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,5%), máquinas e equipamentos (-30,8%) e produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-18,4%).
Alta na produção de caixões e bicicletas ergométricas
O gerente da pesquisa destacou que, embora tenha apresentado queda de 30,6%, a atividade de produtos diversos registrou alta na produção de itens que estão relacionados com o consumo durante a pandemia. Entre eles, estão os caixões.
“Por questões de confidencialidade da pesquisa, não podemos informar a taxa de crescimento da produção dos itens individuais. Mas destaco que outros itens tiveram crescimento ainda maior que o de caixões, como as bicicletas ergométricas, o que pode estar associado à maior demanda por atividade física dentro de casa”, ponderou.