23/05 – Fonte: Jornal A Crítica (Manaus/AM) – Cenário Brasil – Página: A2
A experiência na fase mais aguda da pandemia serviu para abrir os olhos da indústria para a importância da pesquisa científica. De um lado, os subsetores mais fortes do Polo Industrial de Manaus responderam com resultados econômicos positivos apesar da precariedade da situação. Por outro lado, sobraram lições que podem resultar em mudanças de paradigmas na busca de alternativas mais sustentáveis.
Ao refletir sobre o momento atual da indústria, em especial a amazonense, para o Dia da Indústria, comemorado em todo o país na próxima terça-feira, 25 de maio, o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antonio Silva disse que é preciso proteger o setor que mais gera riqueza para o país. Na entrevista a seguir, além do enfrentamento à pandemia, ele fala de reforma tributária, bioeconomia e sobre o futuro do modelo Zona Franca de Manaus (ZFM).
Onde o modelo Zona Franca de Manaus se encaixa na proposta do governo de fazer uma reforma tributária em capítulos?
Atendo-se apenas à proposta do governo de uma reforma fatiada, que até o momento mantém intocada a Zona Franca de Manaus, a proposta de unificação do PIS e Cofins é vantajosa à indústria por possibilitar o desconto de gastos com insumos ao longo do processo produtivo.
Mantém os regimes diferenciados ou as exceções à regra, como a Zona Franca de Manaus, e assegura o direito às simplificações das normas e procedimentos que forem aprovadas.
Agora vamos aguardar a segunda parte da reforma que provavelmente apresentará questões referentes à simplificação e modificação do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Quando for apresentada, deveremos ter o máximo de atenção, a fim de que sejam minimizadas quaisquer repercussões negativas na atividade econômica da ZFM.
No lançamento da Agenda Legislativa da Indústria, em Manaus, no mês passado, o deputado Marcelo Ramos garantiu que nenhuma das matérias da reforma, em tramitação no Congresso, seria votada pelo menos neste ano. O senhor acha que essa perspectiva mudou com a nova proposta do governo? Comungo do mesmo raciocínio do deputado Marcelo Ramos, quando consideramos uma aprovação da reforma mais ampla, com a inclusão dos impostos estaduais e municipais, que dificilmente seria aprovada no corrente ano.
Porém a ideia do governo em fatiar a reforma, em que temas específicos fossem votados na medida em que os acordos fossem sendo feitos, talvez possibilite a aprovação de algumas propostas, entretanto, há um forte movimento no setor produtivo brasileiro para que as modificações possam ser mais amplas.
Os dirigentes da indústria amazonense têm dado importante suporte aos parlamentares da bancada federal em relação aos temas modelo ZFM e Polo Industrial de Manaus. Qual é a orientação agora que o governo demonstra interesse em aprovar uma reforma a toque de caixa?
Mais do que nunca estaremos atentos, vigilantes, compartilhando e dando o suporte necessário para os nossos parlamentares, independentemente de cor partidária, pois nessa questão estamos todos envolvidos e coesos para que os impactos negativos para a ZFM sejam eliminados ou minimizados.
O senhor acredita que, do jeito que a proposta vem sendo discutida, é a derrocada definitiva das temidas PECs 45 e 110?
Não creio, principalmente com a extinção da Comissão Mista, da qual foi apresentado o Relatório do deputado Aguinaldo Ribeiro. Não temos nenhuma definição de tramitação das discussões sobre a reforma daqui pra frente. Sendo apresentadas propostas fatiadas da reforma, como quer o governo, a cada momento teremos embates que podem trazer novamente as discussões à tona. Não podemos descuidar.
As garantias constitucionais da ZFM sempre geraram ciúmes e intrigas por parte de estados mais desenvolvidos, como São Paulo, além de medidas do governo em total desacordo com essas garantias. Como o senhor vê essa situação? Bastaria cumprir o que está na Constituição Federal?
Em tese sim, bastaria cumprir a Constituição. Na prática, entretanto, existem várias formas de atingir a ZFM, por meio de medidas normativas do Executivo e de aprovações de leis do Legislativo, que dificultam e oneram a produção e reduzem a viabilidade econômica dos empreendimentos aqui implantados, diminuem o atrativo e diferencial para novos investimentos produtivos. Isso pode ser feito sem mudar uma vírgula da legislação específica da ZFM. Já tivemos experiência negativa neste sentido. Por isso, a permanente vigilância.
Em 2020, apesar da pandemia, a indústria do Amazonas deu sinais de maturidade, ao evitar demissões e manter a produção, o que acabou resultando num faturamento até superior ao de 2019. Que lições o setor produtivo tirou dessa situação extrema?
As indústrias demonstraram o que em parte já se praticava na ZFM. Mostraram o quão eficientes podemos ser economicamente, com resultados impressionantes, apesar da precariedade da situação, enfrentando com equilíbrio e dentro das disponibilidades possíveis. O setor produtivo teve que se reinventar para se adaptar à nova realidade, com destaque ao valor humano. Demonstrando a importância de um corpo administrativo profissional, qualificado e construtor de soluções. Destacaram-se também as empresas movidas por um propósito que vai além do lucro. Ações foram feitas para ajudar quem mais precisava, com distribuição de cestas básicas, kits de higiene pessoal, equipamentos, máscaras e álcool em gel. A experiência serviu para abrir os olhos sobre a importân Frase “Conciliar a indústria 4.0 com o desenvolvimento industrial do PIM é um fator essencial para não ficarmos para trás na competitividade” “A proposta de unificação do PIS e Cofins é vantajosa à indústria por possibilitar o desconto de gastos com insumos ao longo do processo produtivo” cia das pesquisas científicas.
Lições que também podem funcionar como aceleradores para mudança de paradigma nos comportamentos da economia e dos governos, fazendo com que sejam buscadas alternativas econômicas mais sustentáveis.
Mas três lições foram muito importantes para as empresas: A necessidade de ter uma estrutura flexível, capaz de facilitar o processo de reinvenção frente a situações novas, adaptando processos com o uso da tecnologia; planejamento, indispensável no gerenciamento eficiente de um negócio, traçando metas, definindo caminhos a serem tomados para alcançar determinado objetivo; e adaptação rápida, adquirindo novos conhecimentos, repensando estratégias, dando continuidade aos processos, mantendo as engrenagens girando e desbravando novos mercados até então não considerados.
Que mensagem o senhor deixaria para todos aqueles que, direta ou indiretamente, são os responsáveis pela atividade industrial do Amazonas nos últimos 53 anos?
Longe de deixar uma mensagem, gostaria de enaltecer a resiliência demonstrada por esses bravos empreendedores que, vencendo todos os obstáculos, alcançaram êxito para o progresso e o desenvolvimento da indústria no nosso estado e na nossa região. A mensagem que eles deixaram para nós e para as gerações futuras é que perseverar no planejamento, na inovação e na reinvenção são predicados de pessoas, homens e mulheres que nunca desistem de seus ideais.
Quais as expectativas em relação ao futuro do modelo ZFM e do Polo Industrial de Manaus? Como esse modelo vai conciliar indústria 4.0 e bioeconomia?
Como otimista contumaz, sempre tenho boas expectativas em relação ao nosso modelo de desenvolvimento e ao crescimento e importância do PIM na economia, não só do nosso Estado, mas de toda a Amazônia Ocidental e do Brasil. Estaremos sempre trabalhando e lutando para que o êxito em alcançar o desenvolvimento sustentável seja alcançado, atrelado ao progresso socioeconômico de toda a região e a diminuição das desigualdades regionais.
Conciliar a indústria 4.0 com o desenvolvimento industrial do PIM é um fator essencial para não ficarmos para trás na competitividade, eficiência e qualidade tecnológica. Como será feita essa passagem?
No meu modo de ver com planejamento, investimento e capacitação de pessoal. Conforme já estudado na CNI, disseminando as oportunidades de negócios, com bioprospecção e mapeamento de novas espécies da biodiversidade, encontrando novos usos para produtos de origem biológica e desenvolvendo estratégias de bioconversão consorciada, além disso, alinhando os órgãos e usuários da biodiversidade, estabelecendo metodologias e critérios de reconhecimento tradicional associado. A indústria local, utilizando a bioeconomia, pode assim contribuir para saltos significativos de produção e inovação em setores de alto valor agregado, como o fármaco, químico e de bioinsumos. Ajudando no fortalecimento e manutenção da floresta em pé.