Falta de conscientização afeta a logística reversa

29/06 – Fonte: Jornal Valor Econômico – Pág.: F12

 

Somente 3% das 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos descartados são reaproveitados, segundo a Abrelpe

Por Dauro Veras – Para o Valor, de Florianópolis

No Brasil, a logística reversa ainda funciona de forma tímida, por dificuldades de infraestrutura e de conscientização sobre sua importância. Somente 3% das 79 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados por ano são reaproveitados, segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Se a reciclagem chegasse a 40% do total, a atividade poderia movimentar mais de R$ 6 bilhões anuais, estimam especialistas. Além do benefício ao ambiente, o mercado do `lixo que não é lixo` pode aumentar a renda na cadeia de reciclagem, que envolve cooperativas de catadores, autônomos, fabricantes de equipamentos e startups.

Inovadora do ponto de vista socioambiental, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) que instituiu o instrumento da logística reversa, com responsabilização de empresas pela reciclagem dos resíduos de seus produtos, completa 11 anos em agosto. Ao longo da década, o Ministério do Meio Ambiente firmou vários acordos setoriais para lidar com a questão de forma coletiva com fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes.

O primeiro segmento do país a assinar acordo setorial foi o de óleos lubrificantes, em 2012. Sua entidade gestora, o Instituto Jogue Limpo, tem 49 empresas associadas, operando em 4,3 mil municípios de 19 unidades federativas. O plástico das embalagens é transformado em produtos como dormentes para vias férreas e materiais de construção. `Em 2021, nossa meta é reciclar 4,9 mil toneladas, 15% a mais que em 2020`, diz o diretor executivo Ézio Camillo Antunes. `Devemos cobrir todo o território nacional até 2025`. Os recursos da reciclagem financiam 15% da operação e o restante é bancado pelos fabricantes.

A Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (Abree), com 50 afiliadas e 1,5 mil pontos de coleta, é gestora da logística reversa das linhas branca (geladeiras, fogões e afins), marrom (áudio e vídeo), verde (celulares, computadores) e azul (eletroportáteis). Uma parceria firmada com a varejista Magalu pretende instalar mais 500 pontos até o fim do ano. `Estamos buscando startups que desenvolvam sistemas para agendamento da retirada de materiais`, diz o presidente da entidade, Sergio de Carvalho Maurício. O Brasil é o quinto país que mais produz lixo eletrônico no mundo, atrás de China, Estados Unidos, Índia e Japão, segundo o relatório Global E-waste Monitor.

Em 2020, o programa Prolata Reciclagem fez a logística reversa de 22 mil toneladas de embalagens de aço. Para este ano, a meta é chegar a 54 mil. Sua atuação, inspirada nos modelos da Suécia e Suíça, abrange 36 municípios de 12 Estados, com o apoio de 55 cooperativas, além de sucateiros credenciados e entrepostos de parceiros. `Temos um sistema de rastreabilidade e garantia de escoamento através de três grandes grupos siderúrgicos: Gerdau, CSN e ArcelorMittal `, conta a diretora-executiva Thais Faguri. Uma parceria com a startup Triciclo criou pontos de coleta interativa para troca de embalagens por pontos, que são convertidos em dedução nas contas de luz, crédito em transporte e outros prêmios.

Com cem afiliadas, a Associação Brasileira para a Gestão da Logística Reversa de Produtos de Iluminação (Reciclus) opera desde 2017. No ano passado, ela alcançou 2,1 mil pontos de coleta implantados no país e reciclou 1,7 milhão de quilos de lâmpadas que contêm mercúrio na composição. `Nossa meta é chegar a 3,8 mil pontos este ano`, diz o gerente de sustentabilidade Gabriel Monti. `Estamos em tratativas para incluir lâmpadas LED no acordo`. Desde o início do programa, 16 milhões de lâmpadas usadas deixaram de ser descartadas no lixo comum. O reaproveitamento na reciclagem chega a 99,9%.

O Instituto Brasileiro de Energia Reciclável (Iber) faz gestão do acordo setorial de baterias chumbo-ácido, assinado em 2019. `Anualmente as indústrias geram em torno de 400 mil toneladas de baterias inservíveis, e 78% desse volume já faz parte do nosso controle`, conta a diretora-executiva Amanda Schneider. `Nossa meta é chegar a 90% até 2022`, diz. Das 60 mil empresas que movimentam o produto no país, 247 estão filiadas à organização e respondem por 80% do volume total. O Iber fornece um certificado anual de regularidade às empresas que fazem logística reversa de baterias.