20/05 – Fonte: Valor Econômico
Embalados pelo aumento na confiança após as eleições, os consumidores se sentiram mais à vontade para gastar e foram às lojas para comprar produtos da linha branca no primeiro trimestre deste ano.
Segundo a Eletros, associação que reúne os fabricantes de eletroeletrônicos, as vendas da indústria para o varejo avançaram 11,7% entre janeiro e março, para 3,72 milhões de unidades nos três principais produtos da categoria
(refrigeradores, fogões e lavadoras). Nas lojas, a empresa de pesquisa GfK registrou avanço de 5% em unidades, com aumento de 10% no tíquete médio – reflexo dos repasses de custos feitos pelos fabricantes nos últimos meses e do
esforço para a venda de produtos com preços mais altos. As promoções que tradicionalmente ocorrem em janeiro e o mês de fevereiro com mais dias úteis tiveram influência positiva no desempenho.
A Whirlpool, líder do setor com as marcas Brastemp e Consul, teve alta de 20% na receita nos três primeiros meses do ano, para R$ 1,7 bilhão. “Nunca tivemos uma participação de mercado tão alta”, diz João Carlos Brega, presidente da companhia para a América Latina. Na divulgação do balanço do primeiro trimestre, a sueca Electrolux, segunda maior do setor no país, destacou que “o mercado está mostrando recuperação” no começo de 2019. O Carrefour também fez menção aos eletrodomésticos, indicando o “forte crescimento” nas vendas como um dos fatores para o desempenho de sua operação de varejo no período.
Mas o que poderia ser um sinal de alento para o setor – que, por conta da crise, está em patamar de vendas no nível de 2011 – não tem sido, exatamente, motivo de comemoração. Com a demora na aprovação da reforma da Previdência e a queda na confiança do consumidor em abril, as perspectivas para o segundo trimestre e para o restante do ano não são muito efusivas. “Vamos aguardar o fechamento e abril e maio para dizer se há retomada”, diz José Jorge, presidente da Eletros. A avaliação da entidade é que o avanço no primeiro trimestre possa estar ligado, em parte, à reposição de estoques do varejo por conta das boas vendas na Black Friday e no Natal.
Ele diz também que não há nenhuma sinalização por parte dos fabricantes de grandes volumes de pedidos entre abril e maio, o que leva a uma avaliação conservadora do desempenho no período. A estimativa da Eletros é que a indústria de eletroeletrônicos esteja operando com uma capacidade ociosa de 40%.
De acordo com Henrique Mascarenhas, diretor da GfK, a queda na confiança do consumidor – que recuou 7,1 pontos
percentuais até abril, para 89,5 pontos, menor patamar desde outubro, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV) -, os consecutivos cortes nas perspectivas de crescimento do PIB e a valorização do dólar criam um cenário nada promissor para os próximos meses. “Não vai ser ano bom e a indústria tem razão de estar reticente”, diz.
Na avaliação de Brega, o desempenho do mercado até agora está dentro do que foi planejado pela companhia. “Não tem milagre, como as coisas mudarem do dia para noite. Quem imaginou que a economia teria um crescimento robusto já no começo do ano fez uma análise rasa”, diz.