11/03 – Fonte: Valor Econômico
Em eletrodomésticos como fogões e geladeiras, os reajustes variam de 4% a 15% entre fim de janeiro e início de março
Por Adriana Mattos — De São Paulo
Há um novo movimento de reajustes de preços da indústria de consumo ao varejo neste ano, depois da onda de aumentos de 2020. No segmento de eletrodomésticos como fogões e geladeiras, os reajustes variam de 4% a 15% entre fim de janeiro e início de março, a depender do modelo do produto, disseram duas fontes.
O preço do aço, que vem subindo consistentemente nos últimos 12 meses, pressiona o custo dos fabricantes. O aço pode responder por até 55% do peso de um refrigerador e 65% de um fogão.
“São repasses ‘picotados’ [às lojas], desmembrados no mês, que atingem 5% numa semana, 15 dias depois mais 3%, e assim por diante, e que vão se somando”, diz um diretor de uma fornecedora de fogões e micro-ondas. A demanda, mais aquecida em 2020, vem desacelerando desde o começo do ano, e os reajustes já contribuem para um desaquecimento nas vendas de produtos mais populares. Segundo varejistas e entidades ouvidas, as negociações se dão em um ambiente de consumo em baixa, com os “lockdowns” se espalhando pelo país.
A demanda vem desacelerando desde o começo do ano, e os reajustes já contribuem para um desaquecimento nas vendas de produtos mais populares.
Na segunda metade de 2020, as vendas de eletrodomésticos ganharam fôlego, atingindo altas mensais recordes de dois dígitos, após a reabertura gradual do comércio. Naquele período, a demanda foi sustentada artificialmente pelo auxílio emergencial, suspenso no fim do ano passado, e que deve retornar após março, mas em valor menor.
“Há mais variáveis para administrar ao mesmo tempo neste ano, que criam toda uma imprevisibilidade. Permanece a forte pressão de aumento nos insumos, inclusive com desabastecimento nesse fornecimento pelas usinas. E na outra ponta, fabricantes e lojas precisam lidar com uma demanda que perdeu força após a metade de janeiro”, disse José Jorge do Nascimento Junior, presidente executivo da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros). “No começo de janeiro, até dia 20, ainda víamos alguma atividade mais forte no consumo, mas isso já caiu”.
Segundo a Eletros, em reunião com as siderúrgicas e diversas associações de indústrias no começo do mês, noticiada pelo Valor em 5 de março, ficou acordado que haverá um esforço das usinas para evitar desabastecimento. “São movimentos seguidos, de 15% de alta [no aço], depois de 17%, com as usinas já dizendo que, apesar da necessidade de repassar o aumento, não haveria um compromisso de entrega, logo, sem garantias. Conversamos na reunião sobre uma maior previsibilidade, ou seja, que o abastecimento ocorra dentro de um planejamento a ser seguido”, disse Nascimento.
Neste momento, os repasses das fabricantes ao varejo, e por consequência ao consumidor, têm ocorrido apesar do risco de afetar a demanda já em desaceleração. A Via Varejo (dona de Casas Bahia e Ponto Frio) disse dias atrás que os reajustes foram repassados, mas a empresa não vê desaquecimento nas vendas.
“Os fabricantes não podem se permitir segurar os aumentos neste momento”, afirmou Clóvis Simões, diretor comercial da Atlas Eletrodomésticos. “São reajustes [de insumos] relevantes. A alta acumulada no aço em 12 meses supera 100%”, disse. “Em um fogão simples, a participação do aço na produção é de 47%. E são nesses produtos, mais voltados para a classe C, que sentimos um desaquecimento maior na demanda neste ano”. Segundo o diretor, na segunda metade do ano passado, as lojas precisavam receber produtos porque faltavas mercadorias no setor e aceitavam o reajuste que era colocado na mesa.
A Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul, observou em novembro que a indústria como um todo estava crescendo entre 25% e 30% em número de unidades vendidas no terceiro trimestre, e em torno de 20% no acumulado de 2020, por conta do “coronavoucher”, mas ressaltava que isso poderia não ser sustentável.
Link: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/03/11/eletrodomesticos-tem-nova-onda-de-aumentos.ghtml