— EDITORIAL —

É com imensa alegria que apresentamos a primeira evolução editorial do Conectados. Mais do que simplesmente um novo layout, projetamos um novo formato para tornar sua leitura mais objetiva por meio de notícias relevantes sobre a Eletros, assim como de todo o setor de eletroeletrônicos.

Em todas as edições teremos reportagens sobre nossas associadas, entrevista com executivos importantes do setor, assim como a análise de especialistas respeitados pelo mercado, pela academia e no universo político.

Esta iniciativa é a primeira de uma série de mudanças que implementaremos ao longo de 2020 na comunicação com nossas associadas e com os mais diversos stakeholders. Nosso objetivo primordial é tornar nossa interação ainda mais dinâmica e produtiva.

No Conectados, você ainda poderá acompanhar os assuntos mais importantes na agenda de trabalho da Eletros, assim como ter acesso à artigos de opinião assinados pela diretoria da entidade.

Boa leitura a todos!

 

O Conectados é uma publicação mensal da Eletros com o objetivo de reforçar, junto à opinião pública e formadores de opinião, a importância de nossa representatividade ao desenvolvimento econômico e social do país.

FIQUE LIGADO

CONHEÇA OS PRINCIPAIS FATOS QUE MOBILIZARAM A AGENDA DA ELETROS

ACORDO MERCOSUL X COREIA DO SUL

A Eletros participou de reunião na Embaixada do Brasil em Montevidéu, no dia 13 de fevereiro, sobre as negociações envolvendo o Mercosul e a Coréia do Sul. O tema é de grande importância para o setor.

53 ANOS

A Superintendência da Zona Franca de Manaus, a Suframa, completa 53 anos de existência em 28 de fevereiro de 2020. Em mais de 5 décadas a autarquia viabilizou a implantação dos três polos que compõem a ZFM – comercial, industrial e agropecuário – e vem contribuindo de forma singular para o setor produtivo nacional. Além de fundamental para nossa indústria – a Eletros tem 19 entre suas 33 associadas instaladas na ZFM – a Suframa vem sendo também decisiva para ao progresso sustentável da região por meio da atração de investimentos, geração de emprego e renda, além de impactar positivamente para o desenvolvimento socioeconômico local.

NOVO GOVERNO

Em viagem ao Uruguai, a Eletros aproveitou a agenda para se reunir com o embaixador brasileiro no país, Antonio Simões. O encontro, que aconteceu no ultimo dia 14, teve como objetivo se aprofundar sobre os projetos do novo presidente do país vizinho, Luís Lacalle Pou, que assume no próximo dia 01 de março.

CORONAVIRUS

Em virtude do grande interesse na mídia sobre o tema, a Eletros se posicionou em relação aos impactos do Coronavirus na cadeia logística de importação de insumos produzidos na China.

O país asiático é um fornecedor importante de componentes para nossas Associadas.

Confira nosso posicionamento na íntegra:

A Associação Nacional de Fabricantes de Eletroeletrônicos, a Eletros, que representa as maiores empresas do segmento de eletroeletrônicos e eletrodomésticos em operação no país, considera preocupante a instabilidade na cadeia logística de importação de insumos produzidos na China.

O país asiático é um fornecedor importante de componentes para empresas que fabricam produtos para a linha branca (fogões, geladeiras e máquinas de lavar); linha marrom (equipamentos de áudio e vídeo); e eletroportáteis (secadores de cabelo, sanduicheira, ventiladores, entre outros).

A entidade informa que os insumos que chegam ao Brasil por via aérea, considerados de maior valor agregado, são suficientes para abastecer a produção das indústrias por entre 10 a 15 dias. Em relação aos insumos que chegam ao país por via marítima, os estoques são suficientes para abastecer a produção por até 90 dias.

ASSOCIADA EM DESTAQUE

Samsung: compromisso de longo prazo com o Brasil

Nesta primeira edição da coluna “Associada em Destaque”, entrevistamos Gustavo Assunção, Vice Presidente da Divisão de Consumer Electronics da Samsung Brasil. O executivo compartilhou conosco a visão da companhia sobre o mercado nacional. Com 33 anos de presença no país e uma sólida relação com consumidor brasileiro, o executivo fala também sobre as perspectivas da Samsung para 2020.

Qual a importância do mercado brasileiro para a companhia?

O mercado brasileiro é um dos mais importantes para a Samsung, tanto que modelos de todas as linhas recém-lançadas globalmente logo fazem parte do portfólio trabalhado pela marca por aqui. A Samsung construiu uma história de confiança com o consumidor brasileiro, e os varejistas e lojistas reconhecem o compromisso da nossa marca e os esforços para sempre trazermos ao mercado local produtos pioneiros, com recursos de ponta e de qualidade que trabalhem a favor do bem-estar dos usuários. O Brasil é uma das cinco subsidiárias mais importantes para a Samsung globalmente em volume de vendas e temos orgulho em trabalhar com um público que continua acreditando no poder da nossa marca. Completamos 33 anos de mercado brasileiro, empregando mais de 10 mil colaboradores em todo o país, com duas fábricas (em Manaus e Campinas), com um amplo portfólio e liderança nos segmentos de TVs e smartphones.

Os produtos têm ficado cada vez mais interativos com os seus consumidores. Quais inovações tecnológicas o mercado pode esperar nos produtos Samsung, para 2020? Quais serão as tendências de avanço tecnológico, para o futuro, na visão da Samsung, que serão oferecidas ao consumidor, em produtos eletroeletrônicos e eletrodomésticos?

Teremos muitos lançamentos em todas as categorias, o que nos dá confiança para os negócios em 2020. Na categoria de TV e Áudio, apresentaremos, ainda no primeiro semestre, uma renovação completa de recursos, destaque para inteligência artificial que permitirá melhor experiência e qualidade de imagem, além de mais design para o nosso portfólio de TVs e Soundbars, incluindo as nossas bem-sucedidas categorias de TVs QLED, QLED 8K, Telas grandes e TVs Lifestyle. Fortaleceremos também nossos produtos dedicados ao público gamer, através da renovação de nosso portfólio de monitores.

No caso de Linha Branca, renovaremos também todos os nossos produtos, alinhados ao nosso portfólio global. Teremos mais refrigeradores, lavadoras, condicionadores de ar e aspiradores de pó com menor consumo energético e conectados.

Como protagonista em todas as categorias de produtos, entendemos que é nossa missão ampliar o conceito de “Casa Conectada” no Brasil.

Em 2019, já inauguramos 13 espaços, em diferentes regiões e em parceria com diversos varejistas, para mostrar ao consumidor as funcionalidades dos nossos produtos: TV, lava e seca, ar-condicionado, refrigerador e aspirador robô são controlados pelo nosso aplicativo SmartThings.

Como foi o ano de 2019 para a companhia, no Brasil? É possível uma expectativa de crescimento nas vendas para 2020? Qual seria a projeção?

O ano de 2019 foi surpreendente para a divisão de Consumer Electronics da Samsung. Na categoria de TVs, pela primeira vez, o mercado cresceu sobre um ano de Copa do Mundo (2018), estimulado pelo interesse do consumidor por telas grandes e TVs mais sofisticadas. Na categoria de linha branca, notamos também um forte crescimento de vendas de nossos refrigerados e lavadoras, já que há maior compreensão das tecnologias mais avançadas de nossos produtos comparada às existentes no mercado brasileiro. Estes avanços alcançados em 2019 mostram amadurecimento do consumidor local, que começa a demandar produtos mais avançados, com menor consumo de energia, e que proporcionem a melhor experiência de uso, principalmente na parte de conectividade com demais aparelhos. Para 2020, temos as primeiras evidências de melhorias na economia, mas isso não é determinante em nossas decisões. Independente do cenário econômico, seguiremos com o planejamento de trazer ao País produtos e soluções que gerem valor a nossos parceiros, e entreguem a melhor experiência aos nossos consumidores.

Na visão da Samsung, qual o seu diferencial, para se manter como uma das líderes mundiais no mercado de TVs?

A marca tem uma relação de confiança com o consumidor brasileiro, tanto que há sete anos consecutivos é a vencedora do Prêmio Top of Mind na categoria Aparelho de TV. Esse reconhecimento é fruto dos 33 anos da Samsung no mercado nacional, com trabalho diário para trazer inovações que sejam significativas para a vida das pessoas. Sem dúvida essa relação próxima é um importante diferencial para com os concorrentes. Sem contar que somos líderes mundiais da categoria há 14 anos consecutivos. Sem dúvida, esses são diferenciais importantes que fazem diferença.

A Companhia atua nos mercados de Linhas Branca e Marrom. Entre as duas linhas, qual delas, na avaliação da Companhia, terá um desempenho mais positivo, em 2020? Já é possível mensurar? Por quê?

Por política da empresa, não podemos abrir esta informação. Mas podemos afirmar que a Samsung trabalha para ser referência em todas as áreas em que atua e temos conseguido alcançar importantes resultados em ambas categorias. Na categoria de televisores, somos há 14 anos consecutivos líderes de mercado globalmente. Neste ano o consumidor poderá ter acesso a nova linha QLED 8K, além de um extenso portfólio de TVs 4K e telas grandes, que será anunciado ainda no primeiro semestre. Ainda na categoria de TVs, fortaleceremos a parte de TVs Lifestyle com lançamentos de novos formatos e a linha The Sero, que foi recentemente anunciada na CES 2020. Em relação à categoria de Linha Branca, ampliaremos nosso portfólio de lavadoras conectadas e teremos nova versão do refrigerador Family Hub, com novos recursos de inteligência artificial e automação para a cozinha, e que tem revolucionado o segmento. O nosso objetivo sempre será o de aumentar o engajamento de nossa marca com os consumidores para, assim, aumentar nossas vendas, mantendo sempre uma posição otimista com relação ao futuro.

Qual a expectativa da companhia em relação à retomada mais acelerada e consistente do consumo em 2020? Existem investimentos previstos para o Brasil para os próximos anos?

Independentemente do momento, o nosso objetivo sempre será o de aumentar o engajamento de nossa marca com os consumidores para, assim, aumentar nossas vendas. A Samsung tem compromisso de longo prazo com o País. Variações macroeconômicas pontuais não interferem em nossas decisões de negócios no Brasil. Temos sempre uma posição otimista com relação ao futuro, e não será diferente em 2020.

LIDERANÇA SETORIAL

O Presidente do Conselho de Administração da Eletros, Edward Feder, tem 64 anos de idade e é Diretor Geral da Elgin. Engenheiro de formação e sólida trajetória no setor, o executivo é o primeiro entrevistado da seção Liderança Setorial, que a partir desta edição passa a fazer parte do Conectados. Mensalmente nossos leitores acompanharão entrevistas com personagens que ajudaram e seguem ajudando a escrever a história de nosso setor. Nesta entrevista, Edward compartilha conosco sua visão sobre os principais desafios e perspectivas do setor de eletroeletrônicos para 2020.

Conectados: No ano de 2019, o setor eletroeletrônico significou um crescimento de 5%.Esse crescimento atendeu às expectativas do setor?

R: De uma maneira geral sim, era um número esperado como objetivo no início de 2019.

Conectados: Isoladamente, em 2019, alguns segmentos dentro da indústria de eletroeletrônicos registraram bons resultados, como o segmento de linha branca, que cresceu 7,8%. A que o senhor atribui este resultado?

R: Acredito que o segmento da linha branca teve um crescimento mais significativo devido a demanda reprimida em anos anteriores.

Conectados: A que o senhor atribui esse fenômeno, considerando que a retomada do consumo vem acontecendo de forma mais lenta do que a indústria e o varejo gostariam?

R: No caso do ar condicionado além da demanda reprimida em anos anteriores, acredito que o calor mais constante durante o ano, bem como o fato de o consumidor brasileiro perceber que o ar condicionado não seja um bem considerado “não de primeira necessidade /supérfluo” e sim um bem com utilização importante para o seu bem-estar.

Conectados: Outro tema importante, a abertura comercial, vem ganhando espaço na agenda do governo e é um dos assuntos de maior recorrência nas falas do Ministro Paulo Guedes. Existe um caminho de se promover Abertura Comercial preservando nossas indústrias e, consequentemente, os empregos, tributos e todos os benefícios gerados ao país por uma indústria de transformação forte, comprometida com o desenvolvimento tecnológico local?

R: Este é um outro tema que preocupa nossa Associação, se esta abertura comercial for feita sem uma preocupação com as indústrias locais, ou seja, de forma gradual e ouvindo as características de cada setor de nossa entidade , isto é, mantendo o diálogo com nossa Associação, podemos também ter uma ruptura da fabricação no Brasil com consequente desemprego.

Conectados: Na sua visão, de forma objetiva e pontual, qual seria o desempenho satisfatório para o setor, em 2020, considerando as perspectivas políticas e econômicas atuais? E nesse contexto, quais principais fatores precisam ser trabalhados, para que o setor alcance esse desempenho?

R: Gostaríamos que em 2.020 houvesse um crescimento médio entre 5 e 10%, o índice de confiança está mais alto. Os principais fatores são, um dólar estável de preferência na faixa de US$ 4,00 a US$ 4,10, as reformas administrativas e tributárias para que possa haver índices de confiança maiores, tanto de investidor nacional quanto do estrangeiro.

Conectados: Do ponto de vista macroeconômico, na sua visão, o Brasil está no caminho certo? Como o senhor avalia a política econômica, neste primeiro ano do governo Bolsonaro?

R: Do meu ponto de vista, o Brasil sim está no caminho certo, avalio como positiva a agenda macroeconômica do governo Bolsonaro, e gosto de uma frase que tenho ouvido muito por parte da equipe econômica que diz “não esperem grandes aumentos porém, mais importante não teremos voo de galinha  e sim um crescimento constante”.

Conectados: Como foi o ano de 2019 para a Elgin? A empresa acompanhou o expressivo crescimento do mercado de condicionadores de ar? Quais as perspectivas da empresa para 2020?

R: O ano de 2019 foi um bom ano para a Elgin, como fatos significativos destaco a compra da empresa Bematech e a implantação do sistema SAP. Com relação ao ar condicionado, tivemos um expressivo crescimento, praticamente seguindo o volume de crescimento do mercado. Em relação a 2020 nossas perspectivas na empresa são otimistas e pretendemos ter um crescimento de 02 dígitos.

Conectados: A indústria de eletroeletrônicos viu sua produção encolher, entre os anos de 2015 e 2017, em função da grave crise econômica enfrentada pelo país. Por outro lado, desde 2018, tem-se identificado uma retomada gradual destes indicadores, como ocorrera em 2019, mais uma vez. O senhor vê perspectiva, em médio prazo, de retomarmos o volume de produção em patamares parecidos com os registrados entre 2010 e 2012?

R: Sim, se o crescimento for entre 5 e 10% acredito que no médio prazo podemos atingir o volume de produção com patamares parecidos entre 2010 e 2012.

Conectados: Entre os principais temas na agenda da Eletros em 2020, a Reforma Tributária tem recebido status de prioridade no Congresso Nacional e no Governo Federal. E um dos aspectos mais sensíveis em discussão é o fim dos incentivos fiscais concedidos para modelos de desenvolvimento local, como a Zona Franca de Manaus. Qual é a posição do setor a respeito a esse respeito? A Eletros é absolutamente contra ou existe a possibilidade de se buscar um consenso entre os interesses das Associadas e as mudanças em discussão?

R: Este ao meu ver é um ponto crucial para a maioria dos associados da Eletros (nem todos os associados tem fábrica na Zona Franca de Manaus), ou seja, a Zona Franca de Manaus onde a maioria dos associados tem grandes investimentos e grande geração de empregos só sobreviverá se dentro da Reforma Tributária houver uma consideração especial a ZFM , por exemplo, a manutenção da alíquota do IPI para produtos fabricados lá (e a referida isenção na ZFM).

Se não houver esta manutenção/consideração, acredito que todos os fabricantes de lá virarão importadores.

VISÃO DE ESPECIALISTA

CIENTISTA POLÍTICO ANALISA AS PRINCIPAIS PAUTAS DO PAIS PARA 2020

Carlos Mello é professor e pesquisador do Insper, consultor e um dos mais importantes cientistas políticos da atualidade.

Durante 2019, o governo Bolsonaro investiu na aprovação da reforma da previdência e da tributária, que ficou para este ano. É possível entender que a reforma tributária vai influenciar para melhor o sistema tributário? Como isso impacta o cenário político? Como o senhor vê a coalisão do governo para aprovar essas reformas?

O que ocorreu no ano passado e deve se repetir esse ano, é uma direção do Congresso Nacional sobre tudo o que acontece na Câmara dos Deputados com propósito de fazer algumas reformas, mas fazer reformas de acordo com a sua avaliação. A reforma que saiu da previdência e a reforma tributária, se sair, e eventualmente a reforma administrativa, se vier a ocorrer, sairá a imagem e semelhança desse grupo que hoje tem a hegemonia e o controle do Congresso Nacional.

Acho que isso deve acontecer também com a Reforma Tributária. O Governo Federal já compreendeu esta dinâmica, tanto que tem sido cauteloso em enviar a sua proposta ao Congresso Nacional. Nós temos chances de ter alguma Reforma Tributária, não será a reforma dos sonhos mas acho que que sai alguma simplificação do sistema, o que no caso do Brasil não é pouca coisa, já pode ser bastante relevante.

Por vários anos o agronegócio foi a locomotiva do PIB brasileiro, com mais negócios, desempenho, investimento em tecnologia, capital. Que outros setores você acha que têm potencial também para enriquecer as exportações na economia como um todo?

Nosso país tem uma vocação agropecuária e a gente desenvolveu tecnologia para isso. O apelo que se deu a EMBRAPA em todos esses anos surtiu efeito positivo e coloca o Brasil como a agricultura mais produtiva do mundo. Não podemos deixar de mencionar a profissionalização pela qual o setor passou nas últimas duas décadas.

Por outro lado, o turismo também tem um potencial enorme, você tem quilômetros de praias belíssimas no Brasil, um clima tropical que você pode fazer turismo o ano inteiro. No interior do Brasil, santuários ecológicos que são importantíssimos.

Então, temos de um lado a natureza nos beneficiando com a agropecuária e o turismo, e de outro o que nos resta: a possibilidade de construirmos uma indústria e um setor de serviços conectados com o mundo.

No caso da indústria, o Brasil ganhou muita experiência e conseguimos reunir segmentações importantes como é a indústria automobilística e mesmo o setor de eletroeletrônicos. Por meio de empresas cada vez mais globalizadas, conseguimos nos organizar para produzirmos o suficiente para atender as nossas necessidades do mercado interno e de nossos países vizinhos.  Há ainda maneiras de nos organizarmos para nos mantermos globalmente conectados.

Ao associarmos matérias primas que temos disponíveis em solo brasileiro com a produção de produtos acabados ou insumos para outras indústrias mais complexas, poderemos dar um grande salto.

Em relação ao setor de serviços temos avançado também, mas mais do que uma política, ou seja, um conjunto de ações envolvendo governo, sociedade e empresas, o desenvolvimento deste segmento depende de uma forte retomada econômica.

Levando a questão para um ponto sensível para indústria de eletroeletrônicos que é a zona franca de Manaus, a indústria espera um processo de transição nesse momento em que se critica a política de incentivos. Como o senhor acha que isso deve acontecer?

Na política, nada acontece aos saltos. A política já é, em si, por definição, um processo de negociação gradual. Eu acredito que o Congresso tende a fazer mudanças sim nessa questão da Zona Franca, mas eu não acho que isso vai se dar aos saltos, porque é natural do parlamento você ter algum tipo de negociação. Você tem ali conexões, bancadas na região norte do país que veem isso com importância, trocam interesses em outras questões com bancadas da região nordeste, com bancadas temáticas, enfim, o jogo se dará por meio de um grande processo de negociação.

O governo está tomando diversas medidas para construir acordos bilaterais, o Bolsonaro viajou recentemente pra Índia, especialmente para aqueles governos que ele identifica como ideologicamente próximos e por outro lado isolando o Mercosul um pouco, principalmente a Argentina, além de ter entrado na OCDE. Essas iniciativas podem contribuir de que maneira a flexibilização das tarifas de importação e exportação, para ampliar a abertura comercial também? Na sua visão, quais deveriam ser os movimentos do setor produtivo nacional para que as corporações sejam minimamente impactadas nas relações internacionais brasileiras?

O Brasil levou vinte anos na tentativa de construir um acordo com o Mercosul e a União Europeia. Vários países da UE não têm muita simpatia por esses acordos, mas tiveram que aceitar porque chegamos numa situação limite. Acontece que o Brasil, em primeiro lugar, tem de alguma forma esgarçado suas relações no próprio Mercosul, portanto, perde a força aqui para fazer acordos multilaterais, e também a imagem do Brasil, seja do ponto de vista de política externa, mas também do meio ambiente, é um ativo importante, mas também muito problemático. Então, me parece que tem uma série de equívocos na política externa, em relação a OCDE.

É uma agenda de longo prazo. O Brasil vai ter que fazer tanta coisa ainda para poder ter efeitos de fazer parte desse clube, que vai levar tempo. Ao mesmo tempo nós abrimos mão de uma série de vantagens que nós tínhamos de regimes especiais por estar na OMC. É uma troca de status, mas eu não sei se é uma troca produtiva. Você pode dizer que faz parte da OCDE, mas você vai ter vantagens disso no longo prazo contra as vantagens a curto prazo em ser membro da OMC, por quê?

Hoje na política externa, há um viés ideológico muito forte, muito grande, pouco pragmático, do ponto de vista comercial, com pouca efetividade pelo menos no curto prazo e que sofre efeitos também de uma questão paralela que é a questão ambiental.

Esse alinhamento com os EUA é pouco produtivo, eles são um parceiro importante, mas não são os únicos e nem são os mais relevantes.  Desde o governo militar, o Brasil sempre teve uma postura no Conselho da ONU mais independente e de não alinhamento às grandes potências. Este cenário mudou no governo atual. Acontece que não podemos privilegiar alguns países em detrimentos de outro. Veja o caso da nossa relação com a Europa, que é um parceiro muito relevante.

OPINIÃO ELETROS

PERSPECTIVA 2020: INDÚSTRIA AGUARDA RETOMADA MAIS RÁPIDA DO CONSUMO.

Jorge Nascimento analisa o desempenho do setor no ano passado e apresenta os principais desafios para 2020,além das projeções do setor legislativo.

O setor de eletroeletrônicos fechou 2019 com uma perspectiva positiva nos revelando que o governo brasileiro vem acertando em muitos aspectos de sua agenda macroeconômica.

Os dados da Eletros indicam crescimento de 5% no volume de produção na comparação com os resultados verificados em 2018. Repetimos o desempenho registrado no comparativo entre os anos de 2018 e 2017 e nos mantivemos no piso de nossas projeções que indicavam crescimento de 5% a 10%.

Isoladamente, registramos crescimento de 7,8% na produção do segmento de linha branca, 6% na linha marrom e 17,8% em eletroportáteis. Nos chama a atenção o forte crescimento dos eletroportáteis por serem produtos mais acessíveis à uma maior fatia da população e a recuperação na linha branca que havia crescido menos de 1% no anterior.

Destacamos, ainda, que o crescimento de 6% na linha marrom não é nada mal se relativizarmos o fato de que no ano passado não tivemos a realização da Copa do Mundo, período em que tradicionalmente as vendas de televisores aumentam consideravelmente.

Ao compararmos os dados da indústria de eletroeletrônicos com os da economia brasileira, poderíamos até nos dar por satisfeitos, afinal os principais analistas do mercado financeiro estimam para 2019 um PIB positivo de 0,6% a 1%. Entretanto, não podemos desconsiderar que a indústria vem de uma série de anos difíceis, em especial a partir de 2015.

Somente uma economia mais forte, com uma maior oferta de empregos e maior capacidade de renda para as famílias é que promoverá uma mudança mais significativa para nossa indústria, ampliando a capacidade de nossas fábricas, aumentando a contratação de mão de obra e realizando investimentos mais substanciosos.

Se no ano passado tivemos a aprovação da Reforma da Previdência, neste ano alguns desafios igualmente importantes para o Brasil e para o setor fazem parte da agenda estratégica da Eletros. A Reforma Tributária, Reforma Administrativa, Abertura Comercial, e ações que visam a melhoria da competitividade de nossa indústria são temas prioritários.

Estamos preparados e confiantes para que 2020 seja um ano melhor para nossa indústria. Projetamos novamente um crescimento entre 5% e 10% para nossa produção, mas alimentamos a expectativa de que desta vez nos aproximemos mais do teto. Se isso se concretizar, poderemos ter a certeza de que vivenciaremos uma realidade socioeconômica mais positiva para toda população brasileira.