— EDITORIAL —

Os impactos da segunda onda da Covid-19, que, no final de 2020, eram projeções sem evidências reais, geraram análises com perspectiva de retomada para economia brasileira, na esteira de movimento semelhante do ponto de vista global.

Entretanto, em meados de janeiro, a partir do colapso do sistema de saúde em Manaus e o recrudescimento da crise sanitária, o cenário apresentou a sua reviravolta.

Para entender o atual momento econômico e o que podemos esperar daqui por diante, o Conectados entrevistou duas lideranças importantes do mercado financeiro que traçaram análises fundamentais para entendermos o comportamento dos juros, do câmbio e da inflação. 

Outro tema abordado nesta edição refere-se também aos impactos da pandemia, só que sob o ponto de vista da gestão de pessoas. É possível exercer liderança engajada sem empatia em um cenário de tantas mudanças e limitações de convivência social? Dois importantes especialistas em Recursos Humanos nos ajudam a compreender o assunto.

Além disso, trouxemos um artigo de uma advogada especialista em Direito do Trabalho, a respeito das Medidas Provisórias publicadas recentemente pelo Governo Federal. Nele, a autora reflete sobre como as MPs atuais são importantes, apesar de refletirem o contexto de 2020 e não 2021.

Boa leitura!

 

O Conectados é uma publicação mensal da Eletros com o objetivo de reforçar, junto à opinião pública e formadores de opinião, a importância de nossa representatividade ao desenvolvimento econômico e social do país.

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SAIBA OS ÚLTIMOS ASSUNTOS QUE MOBILIZARAM A AGENDA DA ELETROS

PAULO GUEDES PARTICIPA DE CAFÉ DA MANHÃ COM A COALIZÃO INDÚSTRIA

A Coalizão Indústria, representada por 15 associações setoriais, entre elas a Eletros, representada por Jorge Nascimento, Presidente Executivo, recebeu o Ministro da Economia, Paulo Guedes, no evento “Diálogos da Indústria” em 27/05. O Secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, também participou do encontro. Na oportunidade, o Ministro detalhou a estratégia do governo na condução da política econômica, tratou sobre a Reforma Tributária, Abertura Comercial e em especial sobre os desafios para redução do Custo Brasil. Além disso, reconheceu a importância do modelo Zona Franca de Manaus para o desenvolvimento regional assim como para o desenvolvimento da indústria. Ainda na ocasião, o Presidente do Conselho de Administração da Eletros e Diretor Geral da Elgin, Edward Feder, foi um dos executivos que tiveram a oportunidade de perguntar diretamente ao Ministro. Tratou sobre a oferta e o acesso ao crédito às empresas para enfrentamento da pandemia. Guedes posicionou que o governo está democratizando o acesso ao crédito e que espera que isso continue.

2ª REUNIÃO DO CONSELHO DE ASSUNTOS LEGISLATIVOS

A CNI (Confederação Nacional da Indústria) realizou, no dia 18/05, sua 2ª reunião do Conselho de Assuntos Legislativos. A Eletros participou do encontro que contou com a presença dos Deputados Luís Miranda (DEM-DF) e Neri Geller (PP-MT). Em pauta, os projetos de lei prioritários, reforma tributária e licenciamento ambiental.

ENCONTRO COM PREFEITO DE MANAUS

Participamos de reunião no dia 07/05, com o Prefeito de Manaus, David Almeida (Avante). Além da Eletros, participaram outras entidades representantes das indústrias instaladas no PIM. Foram debatidos temas pertinentes à Zona Franca de Manaus, como a modernização do Distrito Industrial e a Reforma Tributária. O encontro também marcou o início de um Projeto de Lei, liderado pelo prefeito, que busca garantir e ampliar os incentivos fiscais às empresas do PIM.

REUNIÃO COM O GOVERNADOR DO AMAZONAS

A Eletros esteve em reunião, no dia 06/05 com o Governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC-AM) e representantes da Abraciclo, Cieam e Fieam. O Governador tratou a prorrogação de incentivos fiscais estaduais concedidos às empresas instaladas na região. O objetivo é dar ainda mais segurança jurídica para as empresas e atrair novos investimentos para o PIM (Polo Industrial de Manaus).

SECRETARIA ESPECIAL DE COMÉRCIO EXTERIOR

No dia 05/05, ocorreu reunião com o Secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Roberto Fendt Júnior e com o Diretor de Gestão Estratégica do Ministério da Economia, Renato Agostinho da Silva, para tratar a prorrogação dos Atos concessórios de Drawback (regime aduaneiro especial) – isenção. Na ocasião, o Secretário mostrou-se favorável a prorrogação dos tributos e informou já existir uma proposta formada que deve acontecer via Medida Provisória, a fim de acelerar os efeitos.

No dia 05/05, ocorreu reunião com o Secretário Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais, Roberto Fendt Júnior e com o Diretor de Gestão Estratégica do Ministério da Economia, Renato Agostinho da Silva, para tratar a prorrogação dos Atos concessórios de Drawback (regime aduaneiro especial) – isenção. Na ocasião, o Secretário mostrou-se favorável a prorrogação dos tributos e informou já existir uma proposta formada que deve acontecer via Medida Provisória, a fim de acelerar os efeitos.

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DA SUFRAMA – CAS

Foi realizada, em abril (28), a 297ª reunião ordinária, do Conselho de Administração da Suframa. A Eletros acompanhou o encontro presidido pelo Secretário Especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia – SEPEC, Carlos da Costa. Foram aprovados 27 projetos industriais e de serviços, sendo 8 de implementação e 19 de ampliação, atualização e diversificação, somando aproximadamente R$ 950 milhões (US$ 174 milhões) em investimentos. Estima-se que gerarão 1.353 novos empregos no PIM (Polo Industrial de Manaus) em um período de 3 anos. Além disso, foi apresentado um balanço das principais atividades desempenhadas pela Suframa, que apontou crescimento de 13% no faturamento nominal em 2020 e geração de emprego crescente, chegando a 100 mil empregos diretos em janeiro, mesmo em um período de pandemia.

ALMOÇO DA FIEAM

A Eletros esteve em um almoço promovido pela FIEAM (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas), com a participação do Dr. Jorge Luiz de Lima, Secretário de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do Ministério da Economia, no dia 19/04. Na ocasião, o Secretário explanou sobre o Projeto de Redução do Custo Brasil.

INVESTIMENTOS NO BRASIL

CENÁRIO ECONÔMICO: TUDO O QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2021 E O QUE ESPERAR DE 2022

Taxa de juros, câmbio, demanda e cenário eleitoral

A pandemia apresentou, pela primeira vez, desde o seu início, uma mudança de rumo importante na política econômica e monetária do país. Entender o que isso significa é fundamental para a estratégia das empresas do setor eletroeletrônico, assim como para todo setor produtivo. Para compreendermos a tendência de alta na taxa de juros e o que tem influenciado o comportamento do câmbio nos últimos meses, o Conectados apresenta duas entrevistas imperdíveis com Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos (companhia ligada à XP Investimentos) e Alexandre Almeida, economista da CM Capital Markets, uma das mais importantes corretoras do mercado brasileiro.

ENTREVISTA COM CAMILA ABDELMALACK, DA VEEDHA INVESTIMENTOS

Conectados: Nós tivemos, recentemente, duas altas pelo Copom, e há sinalização de que haverá mais altas até o fim do ano. O que provocou essa decisão? O que podemos esperar pela frente? Essa tendência de alta persiste a longo prazo?

Camila Abdelmalack: Na verdade, desde o segundo semestre de 2020 os analistas já estavam vislumbrando essa possibilidade de elevação da taxa de juros. No segundo semestre do ano passado nós começamos a ver toda a expectativa dos investidores com a retomada da atividade econômica, das economias desenvolvidas principalmente, por conta dos estímulos tanto monetários, quanto fiscais. Portanto, isso acabou desencadeando toda uma pressão no preço das commodities com a reativação da economia na China e nos Estados Unidos.

Não podemos classificar o Brasil como uma economia exportadora de alta relevância, porque quando olhamos o impacto da balança comercial no PIB, não é isso que faz a economia crescer. Mas, o fato é que nós temos exportação de commodities e isso acabou em um momento de descompasso entre oferta e demanda de insumos importantes, afetando o fornecimento não só do mundo, por conta da paralização da oferta, mas da nossa economia doméstica. Tivemos esse problema de abastecimento, essa pressão dos preços no atacado e o preço que estávamos acelerando para o produtor acabou se traduzindo em preços mais altos no varejo, com relação aos produtos industrializados.

Naquele momento, também quando tínhamos um auxílio emergencial numa magnitude maior, e grande parte da população recebendo, se traduziu em uma poupança, em parte em consumo de produtos industrializados. Assim, todos esses eventos se traduziram em uma inflação maior. Essa questão dos produtores com preços mais elevados e de um aquecimento provisório na demanda por esses produtos industrializados, foi em parte estimulado pelo auxílio e por conta de uma paralização de serviços. Com isso, tivemos grande parte da população consumindo, fazendo essa substituição, o que acabou gerando uma inflação mais alta ao consumidor.

Por mais que se visse que no varejo talvez fosse provisório, porque não tínhamos muita certeza de como ficaria a situação econômica no país com a retirada do auxílio, quando se olhava para os preços no atacado era possível observar esse diferencial do crescimento das economias periféricas e relação às economias desenvolvidas, e isso bateu muito forte nas commodities.

Existe também, a questão da nossa taxa de câmbio desvalorizada, que foi um ingrediente a mais no encarecimento de muitos insumos e ali começou-se a ver que provavelmente o Banco Central elevaria a taxa de juros. Não fazia sentido, por conta do cenário econômico, nós termos uma taxa de juros negativa igual uma economia desenvolvida.

Quando foi na virada do ano, o Banco Central fez uma sinalização muito clara, que foi tirar um instrumento que garantia que a taxa de juros ficaria estável naquele patamar de 2%. Ele fez uma indicação de que estava enviesado para fazer uma modificação na política monetária. Vimos o cenário político se deteriorando, e cenário político ruim é uma indicação de que provavelmente as reformas econômicas não andam, e que teremos dificuldades na tratativa da política fiscal, porque política fiscal depende do Congresso, e com cenário político ruim, nada anda.

Assim, começou-se a discussão do orçamento de 2021, que não terminava nunca, taxa de câmbio depreciando ainda mais, os investidores também pedindo mais prêmio para comprar uma dívida de um país que está todo enrolado. Para um investidor estrangeiro que olha para esse “abacaxi” aqui, não fazia sentido se não tivesse mais prêmio em nossa curva de juros. Tem que pagar mais para correr o risco. Com isso, o Banco Central começou a ver esse desencadeamento das expectativas de inflação. O que começou a acontecer no Boletim Focus semanalmente foi a revisão para cima do IPCA 2021 e depois no segundo momento do IPCA 2022.

Portanto, o Banco Central, inevitavelmente, acabou elevando a taxa de juros na magnitude de 75 pontos e indicou que na próxima reunião elevaria novamente em 75 pontos. E quando chegou nessa reunião de maio, ele já contratou mais 75 pontos. Então, em junho já teremos uma Selic de 4,25. O Banco Central está olhando para a inflação ao consumidor. Em 2021, a meta de inflação que o Banco Central tem que perseguir é 3,75. As projeções já estão em 5% no Boletim Focus.

Eu, por exemplo, tenho uma projeção de IPCA para final de 2021 de 5,3. Então, ele entende que para esse ano já não vai conseguir entregar essa meta, só que quer garantir que pelo menos não aconteça a mesma coisa com 2022. Assim, ele eleva a taxa de juros para conter essa expectativa da inflação para ano que vem. A meta de 2022 é 3,5 e já estamos com as expectativas bem próximas dessa meta, com a possibilidade de também ficar acima. Tenho trabalhado com uma projeção de IPCA mais próxima de 4% para 2022. Temos um cenário onde as commodities estão valorizadas, por mais que o petróleo tenha se desvalorizado um pouco, recentemente, é um cenário que ainda temos a economia norte-americana liderando esse processo de crescimento global. O Banco Central nessa última decisão de juros pontuou isso, que todo esse cenário de liquidez global, os principais bancos centrais mantendo a taxa de juros baixa, coloca um desafio a mais para as economias emergentes, ainda que recentemente tenhamos tido um processo de recuperação da nossa taxa de câmbio. Se pegarmos a taxa acumulada do ano em percentual, em março o real estava perdendo cerca de 12% em relação ao dólar. Na semana passada, já estava quase no zero a zero.

Conectados: Você acha que no médio prazo a pressão inflacionária e o câmbio instável devem continuar?

Camila Abdelmalack: Quando olhamos para fluxo e para contas externas, essa taxa de câmbio já teria que estar mais valorizada antes. Só que temos um fator no Brasil imprevisível, o cenário político. Você consegue fazer projeção de indicadores, mas não consegue fazer projeção de comportamento humano, isso foge da previsibilidade. O risco Brasil é essa imprevisibilidade em relação aos acontecimentos políticos. Então, nosso prêmio de risco no câmbio se traduz por conta do cenário político. No Brasil hoje, “no news is good news”, não ter notícia já é uma boa notícia. Temos uma janela de oportunidades, porque estamos tendo um fluxo estrangeiro por conta de balança comercial, tanto que essas empresas exportadoras estão performando super bem na bolsa.

Por que nossa Bovespa aos trancos e barrancos recupera? Porque tem a questão micro dessas empresas exportadoras que são 1/3 do Ibovespa que ajudam bem. Esse fluxo justifica a valorização da taxa de câmbio. É razoável pensarmos em uma taxa de câmbio agora no curto prazo até se aproximando mais de R$ 5. Falando do comercial. Hoje temos esse R$ 5,26, R$ 5,25 e tem a possibilidade de uma valorização maior. Só que não temos grandes certezas quando olhamos para o segundo semestre, de que isso irá se manter.

Temos um movimento agora, no curto prazo, dos economistas e do mercado revisando essa taxa de câmbio para baixo, olhando muito para fluxo. Se as projeções de taxa de câmbio estavam se aproximando de R$ 5,40, R$ 5,45, agora elas já estão entre R$ 5,25 e R$ 5,30, por conta desse clima de curto prazo. Com uma taxa de juros maior, o pessoal vem para cá investir. Só que se o cenário político piorar, o investidor não vai vir ganhar diferencial de juros no Brasil.

Então, sou muito parcimoniosa quando falamos de taxa de câmbio e de tendência, porque ainda não enxergo uma tendência de valorização. O segundo semestre, acredito que será delicado, porque já temos uma movimentação em torno da eleição presidencial do próximo ano, e aí as coisas no Congresso começam a travar.

Conectados: Qual a perspectiva do investidor hoje sobre as reformas?

 Camila Abdelmalack: Na verdade, o mercado financeiro está precificado nesse momento com o andamento da Reforma Tributária por conta das últimas indicações do Deputado Arthur Lira (PP-AL). Ninguém sabe o que vai sair dessa Reforma Tributária, existem muitos formatos. Havia uma comissão especial ano passado que se reuniu para tentar agregar a Reforma da Câmara com a do Senado. Depois, chegou um outro texto diferente do que estava sendo discutido nessa comissão especial. Ninguém sabe ao certo o que vai ser.

O fato é, a maneira como a Reforma foi enviada algumas semanas atrás foi de tamanha complexidade, em um momento como esse, é justamente para que ela não ande. O mercado já estava feliz com a possibilidade de agregar os impostos federais, que era o esperado e que se tem consenso. Seria uma simplificação tributária, não seria uma grande reforma. É um assunto muito complexo, e ninguém tem muita certeza do que vai sair, mas o fato é que o mercado acredita que tem chance de isso andar. Se alguma reforma pode andar, é essa. Se não andar, vai voltar esse sentimento ruim.

Eu acho que no segundo semestre é justamente isso que vai acontecer, porque no curto prazo parece que deixamos de ter problema fiscal, mas na realidade não deixamos. O fiscal é como se fosse uma doença crônica que hora está mais aguda e hora menos. No curto prazo isso saiu do radar, só que vamos revisitar essa questão do orçamento daqui a pouco, porque ela é visitada bimestralmente.

Conectados: Como o mercado vê o orçamento?

Camila Abdelmalack: Só o fato de terem conseguido aprovar uma coisa que era para ter sido aprovada no ano passado já está razoável e bem endereçada essa discussão. Foi razoável porque eles conseguiram jogar panos quentes e diminuíram uma emenda ou outra. O mercado estava bem preocupado com essa questão das emendas parlamentares e do risco de infringir a lei de responsabilidade fiscal. E a equipe econômica junto com o Congresso conseguiu chegar em uma tratativa para reduzir esse risco.

O mercado não quer, nessa democracia recente do Brasil, falar em impeachment de novo em um momento de pandemia. Conseguiu-se chegar em um acordo fazendo uma lei complementar para comandar uma parte de gastos obrigatórios, que simplesmente deixaram de existir. Uma solução técnica foi alcançada. Porém, não conseguimos nenhuma tratativa no sentido da convergência do endividamento em relação ao PIB. Nada disso foi feito. Foi dada uma solução para reduzir esse risco alarmante de infringir a responsabilidade fiscal, mas em termos de comprometimento de convergência, de conseguir reduzir esse déficit fiscal, e esse endividamento, nada foi feito. E por isso, eu trago essa questão de novo, porque em agosto vai ser apresentado o orçamento para 2022, quando o Poder Executivo enviará para o Legislativo a Lei Orçamentária Anual.

Então, teremos essa discussão no segundo semestre que mexe com a taxa de câmbio. Por isso, que considero muito comprometedor falar em uma tendência, por mais que essa taxa de juros mais alta justifique a nossa taxa de câmbio não se desvalorizar tanto. Ainda assim, quando falamos do risco fiscal e político no Brasil, todos os fundamentos escapam e o prêmio é colocado na taxa de câmbio.

Conectados: E você acha que mesmo com todo esse cenário de imprevisibilidade, o mercado avalia bem a condução da economia?

Camila Abdelmalack: Na verdade é o que nós temos nesse momento. Por mais que o Ministro Paulo Guedes não esteja conseguindo colocar em prática toda a promessa de um liberalismo econômico de privatizações, pelo menos ele é como se fosse um cheque caução para o mundo, de que não vamos perder o controle e não vamos virar uma Argentina. Por mais que ele seja limitado. Não adianta termos uma equipe super qualificada porque infelizmente, grande parte do que o Executivo precisa para colocar em prática, depende de o Legislativo aprovar. Então, você pode ter um super receituário, mas não consegue colocar em prática porque muito dele depende da aprovação do Congresso. Esse jogo político é complicado.

Conectados: O que o mercado espera para 2022?

Camila Abdelmalack: Nas conversas com analistas políticos e colegas, percebo que eles continuam vendo que a falta de outros líderes mantém o atual presidente Jair Bolsonaro como uma figura competitiva para a eleição presidencial em 2022, por mais que ele tenha se enfraquecido por conta de uma série de questões comprometedoras, como a condução da pandemia.

Temos que observar também, como será o posicionamento dos partidos mais de esquerda, que assusta um pouco o mercado. Já estamos em uma situação de saúde fiscal comprometida, e quando vemos a possiblidade de um viés como o que gerou essa situação na qual estamos, aumenta-se a percepção de risco.

E quando temos tantos fatores de incerteza, mostra o porquê de não podermos falar de tendências. O processo de vacinação é primordial para essa reabertura mais pronunciada da economia e para a volta do setor de serviços, que é muito importante para a atividade econômica no Brasil, tendo um peso de quase 60% no PIB. A expectativa é mais otimista para o segundo semestre, quando devemos experimentar alguma recuperação. Mas, ainda temos um cenário incerto pela frente por conta de todas essas variáveis que abordamos.

ENTREVISTA COM ALEXANDRE ALMEIDA, CM CAPITAL MARKETS

Conectados: Nós tivemos, recentemente, duas altas pelo Copom, e há sinalização de que haverá mais altas até o fim do ano. O que provocou essa decisão? O que podemos esperar pela frente? Essa tendência de alta persiste a longo prazo?

Alexandre Almeida: Conversar sobre juros é conversar sobre um histórico um pouquinho antes da pré-pandemia. Se voltarmos no tempo, para 2016 aproximadamente, a Selic estava batendo dois dígitos. A partir de 2017, nós começamos um processo de flexibilização monetária e já estávamos com indícios de uma alteração da política monetária vigente, de forma que todo esse período de flexibilização monetária foi até fevereiro de 2020, parando a Selic em torno de 4%. Isso é, no momento pré-pandemia, falava-se alguma coisa de Covid-19, mas ela ainda estava relativamente distante de nós. Corta para final de março de 2020, a pandemia chega com força aqui. Fechamentos, auxílio emergencial e começamos a ver, não só no Brasil, mas em outras economias também, sobretudo nos Estados Unidos, uma preocupação muito grande em relação ao nível de atividade, que forçou os bancos centrais a baixarem drasticamente as taxas de juros para estimular tomadores de créditos e ajudar na recuperação, ou pelo menos na estabilidade da atividade econômica.

Aqui, nós ainda demoramos um pouco para agir enquanto política monetária, mas nós o fizemos também. Não de uma vez só, fizemos reduções ao longo do ano passado até chegarmos à mínima histórica da Selic para o Brasil, que foi de 2% no final do ano passado. Quando a pandemia começou, em abril e maio, muitos economistas e analistas falavam em uma queda do PIB ao redor de 7% ou 8%. Projeções de câmbio ainda mais dramáticas. E quando o exercício final de 2020 chegou, tivemos uma queda importante, mas, menor do que era projetado inicialmente. Houve uma queda de 4,5% do PIB, só que tivemos principalmente no último trimestre no ano, uma recuperação mais forte da atividade econômica. Essa recuperação se dá por dois motivos: primeiro que, principalmente no último trimestre, já havia uma flexibilização cada vez maior do isolamento social e nós tínhamos claramente um efeito do auxílio emergencial compondo a renda da população que conseguia gastar mais; E segundo, aliado aos juros baixos, temos um incentivo para adoção de créditos, para vários instrumentos de consumo da população.

Em janeiro desse ano, o Copom assumiu a mesma estratégia que estava adotando ao longo do ano passado. A atividade econômica ainda está se recuperando e é preciso uma taxa de juros estimulativa para essa atividade econômica, porque foi um momento ímpar em nossa História, uma calamidade pública causada por um vírus. Então, esses juros baixos foram forçados para baixo por uma situação extraordinária. Isso foi na decisão de janeiro. Em março, 45 dias depois da decisão do Copom, nós tivemos uma guinada mais radical porque em janeiro desse ano eles não viam a inflação de 2021 como sendo tão ameaçadora. Previam uma inflação perto do centro da meta, e o que causava preocupação para eles era o horizonte a longo prazo, para 2022. Em março, quando começamos a ver que a inflação começava a bater com mais força, o discurso do Banco Central mudou radicalmente. Inclusive, a mediana das expectativas do mercado esperava uma alta de 50 pontos base na Selic, e o Banco Central não apenas superou essas expectativas como já havia adiantado em março que as duas reuniões subsequentes também teriam aumentos de 75 pontos base.

Isso tudo sinaliza para nós duas coisas bem claras: primeiro que a inflação que para eles em janeiro estava tão ancorada em 2021, em março, já começa a apresentar preocupações; em segundo, o plano já começa a observar que a atividade no ano passado já apresentava uma melhora. E esse patamar, quando fazemos esse desconto de juros com a inflação vendo os juros reais que nós temos, obtemos juros real negativo com o nível de inflação existente. Com isso, é necessária uma normalização da taxa de juros. Só que essa normalização veio mais agressiva do que o esperado para o mercado, que já se adaptou a essa nova rotina. A pancada maior de surpresa foi em março, e se for ver as movimentações das curvas de juros na decisão da semana passada, não teve tanta alteração assim, porque já havia sido amplamente antecipado, bem como para a próxima reunião de junho.

O anúncio do Copom da semana passada não foi uma surpresa. O que causou um pouco de ruído nessa semana foi que no comunicado da semana passada havia um parágrafo em que eles deixavam “a porta aberta” para uma alta um pouquinho mais elevada na reunião seguinte, de junho. Só que a ata que foi divulgada em 11/05, já deu uma corrigida nesse discurso, trouxe de volta as expectativas de mercado para um ajuste de 35 pontos base em junho. Eu dei esse contexto todo porque é difícil falar de juros sem falar de inflação e atividade. Mas, o que estamos esperando é que o Copom deve aumentar mais 75 pontos base na reunião de junho, então hoje a Selic que está em 3,5, passaria para 4,25, e então, nós teríamos a partir de junho, aumentos menores de 50 pontos base até a última reunião, que se eu não me engano é em dezembro, quando teríamos um aumento menor de 25 pontos base, o que culminaria numa Selic de 6% no final desse exercício.

Acreditamos que a inflação vai recuar ao longo desse segundo semestre, mas, também, não podemos esquecer que da mesma forma que terminamos ano passado um primeiro semestre mais fraco por conta da pandemia, esse ano deve repetir essa movimentação. Assim, enquanto ainda temos dificuldades de romper esse isolamento, ainda temos muitos leitos de UTI com níveis de ocupação bastante elevados, e a vacinação ainda demora um pouco, acreditamos que a atividade econômica deva se aquecer mais rapidamente no segundo semestre, que também traria um ruído inflacionário, o que justificaria uma alta gradativa de juros até o final do ano.

Conectados: De acordo com seu raciocínio, o Copom quis dar uma previsibilidade para o mercado, o que acreditamos ser positivo. Que outras consequências positivas também tiveram com esse anúncio prévio e esse planejamento das evoluções da taxa base. E consequências negativas?

Alexandre Almeida: Essa questão da previsibilidade pode acabar se tornando uma armadilha. Em março de 2021 foi anunciado aumento de 75 pontos base e dois aumentos subsequentes. Agora em maio, foi confirmado um aumento de 75 pontos base. Mas, vamos supor que a situação lá em junho já não enquadre necessariamente um ajuste de mesma intensidade. O mercado já precificou e precifica fortemente esses 3 ajustes. Então, ele está literalmente preso a essa palavra e qualquer tipo de rompimento disso traria incertezas quanto a condução futura da política monetária. É como se ele estivesse preso a promessa que fez, porém ignorando o fato de que em junho pode ser que tenhamos uma situação completamente diferente. Em março, quando eles adotaram essa política de retorno da alta de juros, nós ainda não tínhamos um lockdown tão forte quanto nós tivemos em abril. Lá em janeiro, eles não imaginavam por exemplo, que a segunda onda de Covid seria tão intensa quanto foi de fato aqui no Brasil.

Apesar dessa previsibilidade trazer benefícios, ela também pode trazer malefícios quanto a dependência da instituição em cumprir o que foi planejado e não necessariamente com um contexto que seja adequado para tanto. Acredito que é uma armadilha que está posta, mas que depende de cenário também.

Conectados: Como você vê a relação do consumo com o aumento de taxa?

Alexandre Almeida: Já foi divulgado o Índice de Atividade Econômica, o IBC-Br, que é uma aproximação do PIB mensal. O PIB só sai a cada 3 meses. Então, nós observamos, principalmente dentro da ótica da oferta, os principais componentes da atividade. Quem são as pessoas, as empresas que oferecem serviços. Separamos 3 grandes grupos: o comércio varejista, os prestadores de serviço, que correspondem uma parcela muito importante da economia brasileira, e a indústria.

Observando principalmente os dados de varejo, quando fazemos uma comparação desde 2012, ou seja, muito antes da crise de 2015, ou mesmo da crise de Covid que nós estamos vivendo, nós vemos que 2012 foi o ápice no número de vendas de varejo. De lá para cá ele só foi caindo. Nós temos uma queda mais drástica em 2015, com a recessão, e agora, com a pandemia, a partir de abril do ano passado, nós sofremos uma queda bastante relevante. Quando entrou o auxílio emergencial, o número de vendas de varejo mais do que compensou a alta histórica de 2012. O que é uma situação curiosa, porque estamos falando de um período de um ano recessivo em que o PIB brasileiro caiu 4,5%, porém, de uma forma artificial, os dados de venda do varejo, principalmente no segundo semestre, mais do que superaram a máxima histórica dos dados.

Quando começamos a ver esses mesmos dados para esse ano, principalmente nos primeiros meses, que tivemos o encerramento do auxílio emergencial, esses dados voltaram a um patamar superbaixo. E é por isso que o dado que foi divulgado é bastante importante. O IBC-Br apresentou uma queda de 1,5% mais ou menos, menos que o previsto.

Esses dados de venda super crescentes são artificiais, porque foram feitos, grosso modo, através de endividamento público, ou seja, o governo cede empréstimos para as pessoas poderem fazer o seu consumo através de dívida pública, gerando uma outra questão fiscal que está também sendo fortemente debatida em Brasília. Mas, a questão é que agora nós estamos voltando para um patamar de restrição. O mês de abril praticamente inteiro apresentou fortes restrições de consumo, e dados de serviços, principalmente, são os que mais sofrem.

Os dados de varejo tendem a sofrer um pouco menos porque tivemos a evolução de vendas online. Portanto, dados de varejo de bens duráveis tendem a sofrer um pouco menos, mas ainda assim sofreu. E o componente principal da atividade pela ótica da oferta no que diz respeito a serviços ainda apresenta uma queda bastante significativa. Tentando imaginar isso para frente, esses dados têm uma defasagem de 2 meses, os números divulgados de serviços e de comércio essas semanas, foram relativos ao mês de março. Os dados do mês de março já apresentaram uma queda para nós. Os do mês de abril devem continuar apresentando queda, porque foi um período de restrição de circulação e ainda com uma devolução menor do auxílio emergencial. Este auxílio ainda está voltando para a população. Isso deve começar a retornar com mais intensidade a partir de maio, mas só deve ganhar tração de verdade a partir do segundo semestre, a depender principalmente do quadro de imunização a nível nacional.

Conectados: Qual a sua análise sobre o comportamento da variável cambial? O que, na sua análise, interferiu na variação, foi preocupação com a inflação de novo, o clima político?

Alexandre Almeida: Ano passado o real foi uma das moedas que mais se desvalorizou frente ao dólar. Isso está relacionado não só com a nossa situação brasileira em termos de atividade e em termos de Covid, mas, também, com a nossa política monetária.

Historicamente, o Brasil sempre teve uma taxa de juros extremamente elevada. Nunca na História desse país nós tivemos uma taxa de juros tão baixa quanto a que tivemos no final do ano passado, de 2%. O Brasil, por si, apresenta muitos riscos jurídicos a investimentos. Porém, com uma taxa alta, ele se torna atrativo a trazer investimento especulativo estrangeiro.

Cada vez que essa taxa se reduz, como se reduziu no ano passado, é natural que quem esteja procurando taxas mais elevadas procure outros lugares para investir. No ano passado tivemos uma fuga relativamente grande de capital estrangeiro, e isso acaba jogando contra a nossa moeda. Mas, isso foi no ano passado. Esse ano, com uma maior previsibilidade da política monetária, já direcionando a juros mais altos e crescentes e olhando também para a política monetária dos Estados Unidos, já é de se vislumbrar uma alta relativamente expressiva na taxa de juros. Assim, ela se tornaria mais atrativa para investimento estrangeiro, fortalecendo o real em relação ao dólar. Essa é a principal correlação. O câmbio é uma variável sensível também a muitas outras coisas, como as commodities, que ano passado influenciaram bastante e esse ano seguem influenciando. Mas, para esse movimento que temos visto nas últimas semanas, eu acredito que o principal motivo seja justamente esse da política monetária.

Conectados: Gostaríamos da sua análise sobre as reformas administrativa e tributária. O Deputado Arthur Lira extinguiu a comissão da PEC 45. Como o mercado vê isso?

Alexandre Almeida: Vê isso com péssimos olhos. Toda essa questão de cenário macro conversa muito consigo mesma. O reaquecimento da atividade econômica no segundo semestre do ano passado se deveu muito em torno do endividamento público através do auxílio emergencial. Só que ano passado, tivemos orçamento de exceção por conta da pandemia e isso possibilitava gastos extraordinários. Para esse ano, essas condições não são tão satisfeitas. E o que se coloca, é que cada vez mais o nível de gasto se torna insustentável. Portanto, essas reformas se tornam cada vez mais importantes.

Entretanto, a reforma tributária não apareceu em 2021, e também não apareceu em 2020. Essa reforma tributária apareceu muito antes da Covid, inclusive. Se fala muito de um imposto unificado de consumo. Anos atrás, em 2017 ou 2018, essa proposta visava unificar todos os impostos de consumo, federais, estaduais e municipais. Essa proposta visava duas coisas: a simplificação do modelo tributário, e trazer maior transparência jurídica para quem quisesse investir de fato no Brasil. Porque hoje, para uma empresa ou pessoa de fora que queira investir em uma empresa, em máquinas, equipamentos, produzir aqui, é muito complexo de se entender o Sistema Tributário Brasileiro e é pouco incentivado que se faça. Então, essa reforma, com a unificação de todos os tributos de consumo, visava uma maior transparência das regras tributárias e uma simplificação da arrecadação para gerar uma otimização para o governo federal, estadual e municipal.

No ano passado ou em 2019, já se tentou desvincular o que seria os impostos federais, dos estaduais e municipais. Tanto que as propostas que estão em pauta hoje, dizem respeito apenas a unificação dos impostos federais. E cada vez mais que essa questão é discutida, alguma coisa acaba saindo ou desidratando. Então, a percepção que se tem disso é muito ruim porque tivemos uma piora considerável das contas públicas. Caso tenhamos a aprovação de uma reforma tributária, ela muito provavelmente será uma reforma fraca, que possivelmente terá que ser revista e que geraria mais custos e transtornos do que uma solução propriamente dita. Por tudo isso, acredito que o sentimento seja bastante negativo, principalmente em um momento tão ruim que nós estamos vivendo em termos de orçamento público. E a mesma coisa pode ser dita da Reforma Administrativa, que diz respeito sobretudo a reforma de pagamento do próprio funcionalismo público. Todo esse atraso e questões de desidratação dessas propostas acabam trazendo um sentimento muito ruim.

Conectados: Qual sua avaliação sobre a condução da economia, como o mercado está vendo? Haverá continuidade dessa política econômica em médio e longo prazo? Sobre os últimos acontecimentos acerca da Lava Jato e Moro, isso diz algo para o mercado?

Alexandre Almeida: O Ministro Paulo Guedes foi forte aliado do Presidente, quando ele ainda era presidenciável, e era o ponto de referência em termos de política econômica. Ainda hoje, quando perguntam para o Presidente alguma coisa um pouco mais técnica sobre economia ele basicamente reendossa o papel do seu ministro. O que acontece é que inúmeras propostas que foram colocadas no âmbito do Ministério da Economia acabaram não acontecendo. Eu acho que a grande vitória do Ministério foi a aprovação da Reforma da Previdência, que nós tivemos em 2019, porém, o programa de privatizações que era tão amplamente divulgado, acabou não acontecendo do jeito que se esperava e pouca coisa foi feita. Agora, estamos retomando a questão da Eletrobrás, coisa que se falava muito em 2019 também. Muito se falava sobre a reativação do mercado de trabalho e por diversos fatores acabou não indo para frente. Óbvio que não teríamos como saber que haveria uma pandemia pelo caminho, com isso, ajustes precisaram ser feitos.

Deste modo, cada vez mais o foco acabou virando para estancar buracos de fiscal e não deixar uma população desassistida. Então, eles atuaram em conjunto em relação ao auxílio emergencial, as propostas foram feitas, mas a questão da continuidade do plano de governo, acho que agora, estamos em 2021, às portas de uma nova eleição ano que vem. Principalmente em um cenário de recuperação do efeito Covid, acredito que o planejamento do Ministério da Economia, deva ser uma bandeira que eles sempre defenderam que é da recuperação da atividade econômica, dado a passagem final da pandemia.

Sobre a Lava Jato, há muito tempo não escuto que a Lava Jato tem um impacto no mercado, acho que o impacto, na verdade, foi quando removeram os entraves para o ex-presidente Lula poder se candidatar novamente. Com isso, acredito que o temor está menos vinculado à Lava Jato, e mais por conta dos riscos de alteração no quadro político-econômico que essa liberação poderia trazer no cenário de 2022. Isso corrobora até com a última pesquisa que foi divulgada pelo Datafolha.

PERFIL DO NOVO LÍDER

OS IMPACTOS DA PANDEMIA NO FUTURO DAS LIDERANÇAS NAS EMPRESAS

Liderar remotamente traz desafios como engajar com empatia diante de tantas mudanças

Desde o ano passado a pandemia nos impôs mudanças severas a partir do isolamento social para preservação da saúde e contenção da propagação do vírus. Sem previsão para a volta da normalidade, pelo menos não enquanto boa parte da população estiver vacinada, os setores administrativos das empresas passaram a desde então atuar de forma remota em períodos mais ou menos alongados, de acordo com as taxas de contágio de cada cidade ou região do país. E mais: pesquisas indicam que daqui por diante o futuro deve ser híbrido, mesclando o presencial com o trabalho remoto.

Neste cenário, novos paradoxos surgiram como desafios às lideranças das empresas. Afinal, como gerir equipes trabalhando remotamente sem encontros para se discutir a real importância de processos? Como engajar e ao mesmo tempo ser mais flexível?

Para avançar nessa discussão, o Conectados conversou com especialistas de 2 das mais importantes consultorias globais especializadas em Executive Search e programas de Desenvolvimento de Liderança, Coaching e Assessment, Fernando Prestes Cesar, da Signium e Thiago Gaudencio, consultor da Page Executive.

 

Desafios do Home office

Compreender que os liderados também compartilham de problemas como o fato de se estar trabalhando num ambiente que nem sempre está adequado para o trabalho, é, na visão de Fernando Cesar, o primeiro passo para o restabelecimento de um ambiente organizacional harmônico.

“Em casa você tem família, crianças, animal de estimação, tornando o nível de pressão psicológica muito alto. As pessoas precisaram se acostumar a trabalhar dessa maneira. Então, de um lado existe a pressão que o indivíduo tem enfrentado, e por outro lado, a pressão sobre os gestores que estavam acostumados a conduzir o trabalho de uma maneira mais tradicional, focado em tarefas e na evolução e eficiência dos processos. Muito do que eles sabiam sobre como fazer essa gestão mudou. Principalmente para aqueles gestores que estavam acostumados no chamado “comando controle”, ou seja, olhar tarefa, eficiência, velocidade”, explica.

As empresas mais bem-sucedidas neste novo modelo estão direcionando o trabalho por meio de uma migração para direcionar os grupos ou departamentos para trabalhos por projeto, focando em um resultado específico, ou seja, projetos que estão associados a resultado e transformação do negócio. Com isso, as pessoas começam a ter que trabalhar de uma maneira diferente. Nesses grupos, as pessoas precisam se integrar remotamente para começar a criar fóruns de conversa e discussões internas e os gestores precisam se adaptar a isso.

É preciso ter muito mais confiança nas pessoas para atingir os resultados. Prova disso, segundo Thiago Gaudencio, consultor da Page Executive, é que as lideranças estão compartilhando seus próprios desafios antes da tomada de decisão. “Olha, estamos enfrentando isso. Ainda não sabemos como resolver. As medidas hoje são essas. E daqui 2, 5, 10 dias, a gente vai ter uma resposta mais efetiva sobre como tratar este tema específico”, exemplifica.

A participação cada vez mais integral das equipes nos processos, seja de tomada de decisão, ou de negociação, tem ajudado a reduzir um dos maiores problemas de nossos dias: a ansiedade. Compartilhar de forma transparente com liderados é parte fundamental de um processo que busca o entendimento mútuo, empatia, escuta ativa dos dois lados e tem sido essencial para se garantir, ao mesmo tempo, performance e bem-estar”, analisa.

 

Flexibilidade é empatia

Uma das características mais importantes para os profissionais hoje é a flexibilidade, a capacidade de adaptação e de enfrentar crises e a curiosidade em aprender novidades. Quem tem um maior nível de flexibilidade, automaticamente começou a analisar a situação e a criar mecanismos para melhorar a interação, para substituir o cafezinho, aquela conversa no corredor, aquele bate-papo na sala. O ponto é que essa flexibilidade é muito importante não só para a pessoa, mas para o negócio. “Se gestores e profissionais não têm ao menos a curiosidade de aprender e fazer algo diferente, já automaticamente vão se afastando do objetivo do negócio”, analisa Fernando Cesar.

“O papel do líder hoje não é ele ser um líder que deixa de liderar, de inspirar, de dar o exemplo, mas ele tem que ser uma pessoa muito equilibrada”, defende Gaudencio. O ponto é que na visão dos especialistas a flexibilidade é muito importante não só para a pessoa, mas para os negócios. Essa nova realidade de interação no ambiente de trabalho, que tudo indica caminhar para uma solução mais híbrida, ou seja, com o trabalho acontecendo de forma parcialmente presencial e remota, ressalta essas características nos perfis de executivos.

“Observando o mundo das empresas, existem casos em que as organizações e executivos se saíram muito bem, tomaram as iniciativas corretas e agiram rápido, e outros em que realmente foi decepcionante porque as pessoas não souberam enfrentar essa nova realidade”, destaca Cesar.

Com a “remotização” quase que obrigatória de todas as posições, principalmente as administrativas, o que a gente percebeu é que a empatia dos líderes realmente teve que ser muito praticada, justamente para entender o contexto pessoal de todo mundo, de toda a equipe, eventuais fragilidades, eventuais dificuldades, pessoas às vezes em situação mais vulnerável, muito por conta de temas de saúde ou até mesmo de estrutura dentro de casa.

 

Apoio psicológico

O volume de empresas que passaram a oferecer terapia saltou exponencialmente de 2020 para cá. Cresceram também as demandas por coaching e de exercícios de meditação. “É natural que as pessoas estejam cuidando mais do seu lado emocional, do seu lado afetivo e do seu lado espiritual também, em um momento difícil como o que estamos vivendo”, analisa Gaudencio.

Para Fernando Cesar, oferecer benefícios como apoio psicológico e coaching tem se tornado um diferencial importante na retenção de talentos e na geração de engajamento. ”As pessoas se sentem mais valorizadas”, pontua. Fernando e Thiago concordam sob o aspecto de que é impossível engajar hoje em dia sem se dar conta do impacto do bem-estar psicológico para a produtividade. “Convivemos com uma série de incertezas que não estão no nosso alcance resolvê-las, então as empresas e as pessoas têm buscado resposta desta forma”, finaliza Gaudencio.

VISÃO DE ESPECIALISTA

UM DEJÁ-VÚ: MPS 1045 E 1046 SÃO INSUFICIENTES PARA ATENDER AS NECESSIDADES DAS EMPRESAS EM 2021

O Poder Executivo editou as medidas provisórias 1.045 e 1.046, que legislam sobre os benefícios emergenciais disponíveis para melhorar as relações trabalhistas entre empresas e colaboradores neste ano. Entre eles, estão a suspensão do contrato de trabalho, a redução da jornada e salário, antecipação das férias e até mesmo o teletrabalho.

No entanto, logo que publicadas, em abril deste ano, um forte aroma de Dejá-vú foi sentido pelos profissionais que atuam no direito trabalhista. O conteúdo das normas não era diferente das divulgadas em 2020, logo no início da crise gerada pela pandemia da Covid-19.

Apesar de extremamente necessárias e importantes, reconhece-se que a repetição dos textos emitidos no ano passado não dialoga com o contexto atual. Os cenários são completamente diferentes. Em 2020, tivemos o impacto do lockdown, não tínhamos plano de abertura do comércio e operações e muito menos a previsão de vacina.

No entanto, desde o final de 2020, esse cenário inicial já começava a mudar. Apesar da crise ser crítica, o comércio e as empresas voltaram a operar, ainda que de modo parcial e escalonado; passamos a contar com a esperança de termos vacina para todos, mesmo que em um longo prazo; e, no que se pode dizer, passamos a conviver com uma “nova normalidade”.

Porém, esses não são os problemas principais.

A grande questão é que ao trazer medidas provisórias que refletem um contexto tão incomum como foi o de 2020, ignoram-se problemas atuais.

Entre eles, o principal é que muitas empresas ainda enfrentam as consequências das medidas adotadas no ano passado, como o impacto do adiamento do recolhimento do FGTS; o pagamento das férias, sem falar da necessidade das demissões sem cumprir o tempo de carência de 03 meses estabelecida na Lei nº 14.020/2020.

É preciso reforçar o fato de que as necessidades das empresas este ano são bem diferentes das do ano passado. Um exemplo é a antecipação de férias. Pode ter sido uma solução adequada em 2020, mas este ano pode não ser a melhor opção. Atualmente, a necessidade de aumento na produção pode ser mais prioritária que adiar o pagamento do terço constitucional para o final do ano.  É este tipo de percepção que deve nortear a edição de novas medidas.

A esperança é que tudo se encaixe dentro do “novo normal”. Porém, é importante observar que as questões trabalhistas são consideradas fundamentais para o bom funcionamento das empresas. Afinal, são eles que lidam com os recursos mais valiosos das corporações, que são as pessoas.

 Ana Manoela Caixeta, Advogada sócia do Ferraresi Cavalcante – Advogados, com mais de uma década de atuação na área trabalhista, Especialista em Gestão Trabalhista e Previdenciária; Especialista em Gestão Jurídica.

OPINIÃO ELETROS

INDÚSTRIA DE ELETROELETRÔNICOS CRESCE 11,27% NO PRIMEIRO TRIMESTRE

Resultado é reflexo da comparação com o mesmo período do ano passado em que a maior parte do varejo físico estava fechada diante das restrições sanitárias

A indústria de eletroeletrônicos fechou o primeiro trimestre de 2021 com crescimento de 11,27% nas vendas para o varejo em relação ao mesmo período do ano passado.

O resultado reflete uma retomada no comparativo com um resultado de queda acentuada registrada diante das restrições de funcionamento do varejo nos primeiros meses de 2020, cenário que não foi observado na mesma intensidade no ano vigente.

Os dados levantados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos, a Eletros, apontam crescimento nas vendas de ar-condicionado para o varejo que bateram a marca de 19,18%, nos 3 primeiros meses de 2021 contabilizando a venda de 1,11 milhão de unidades de aparelhos contra 936 mil unidades no mesmo período do ano anterior.

A linha de eletroportáteis também apresentou recuperação atingindo a evolução 17,29% com vendas que somaram 17,55 milhões de unidades de aparelhos em relação a 14,96 milhões de unidades no primeiro trimestre de 2020.

Na linha branca, segmento que congrega os fogões, máquinas de lavar roupa e refrigeradores, o crescimento neste mesmo período de 2021 foi de 11,64% com vendas de 4,03 milhões de unidades contra 3,61 milhões de unidades na mesma época do ano passado.

A linha marrom, que representa o segmento de áudio e vídeo. Em especial as TV’s, registraram pequena retração sazonal de 3%, tendo em vista que no último trimestre de 2020 as vendas do Natal e Black Friday foram bastante acentuadas. No primeiro trimestre de 2021, 2,80 milhões de unidades foram comercializadas, contra 2,87 nos 3 primeiros meses de 2020.

Para o presidente da Eletros, Jorge Nascimento, o resultado mostra a importância do funcionamento do varejo físico para o desempenho do setor. “Os números de 2021 mostram um cenário distinto ao que vivenciamos no ano passado. Mesmo com as incertezas sobre uma retomada sustentável da economia ao longo deste ano, observamos que os consumidores ao ter a opção de ir às compras no varejo físico. Segue gerando demanda “, analisa.

Para os próximos meses, entretanto, Nascimento prefere cautela ao projetar expectativas.  “Tivemos um agravamento da crise sanitária entre o final do primeiro trimestre e início do segundo trimestre, em especial nas regiões Sudeste e Sul, que têm grande representatividade para o consumo”, explica.

Para o presidente da Eletros pode ser que o ritmo de crescimento não se mantenha. “Além disso, a economia como um todo espera maior agilidade na vacinação para que a confiança do consumidor seja restabelecida de fato. Sem vacina para todos, dificilmente teremos o resultado que desejamos”, finaliza.

Jorge Nascimento, presidente da Eletros