— EDITORIAL —
Na primeira edição de 2022 o Conectados apresenta uma análise sobre o cenário macroeconômico do país neste ano, marcado por eleições e uma provável superação da pandemia.
O informe traz também, um resumo dos destaques da agenda da Eletros de fevereiro, e, por fim, um artigo exclusivo do nosso Presidente Executivo, sobre o desempenho do consumo em 2021 e os impactos sobre os resultados das vendas para o nosso setor.
Boa leitura!
O Conectados é um informe periódico da Eletros com o objetivo de reforçar, junto à opinião pública e formadores de opinião, a importância de nossa representatividade ao desenvolvimento econômico e social do país.
FIQUE LIGADO
SAIBA OS ÚLTIMOS ASSUNTOS QUE MOBILIZARAM A AGENDA DA ELETROS
No dia 24 de fevereiro, a Eletros esteve presente na 302ª Reunião do Conselho de Administração da Suframa (CAS), representada pelo seu Presidente Executivo.
A reunião, além de marcar a comemoração dos 55 anos da Zona Franca de Manaus, também recebe, pela primeira vez, a nova Secretária da SEPEC, Daniella Consentino, que presidiu a reunião.
Na ocasião, também estiveram presentes o Governador do Estado, Wilson Miranda Lima e o prefeito de Manaus, Davi Pereira de Almeida
Em 16 de fevereiro, a Eletros recebeu o gerente de relações governamentais da CNI, Marcos Borges, em reunião virtual do Grupo de Assuntos Legislativos (GAL).
Dois assuntos concentraram os debates do encontro: a Agenda do Congresso Nacional e as prioridades do Poder Executivo Federal diante do Poder Legislativo para o ano de 2022.
A Reforma Tributária deverá receber mais atenção por parte dos parlamentares e do Ministério da Economia, por ser considerada um dos mais importantes temas da agenda de melhorias estruturantes para o país.
Por ser um ano eleitoral, projeta-se que, para o Poder Legislativo, o ano de 2022 promete ser de intensas atividades no primeiro semestre e no último trimestre, após as eleições.
Houve consenso entre os participantes da importância que parlamentares e membros do Poder Executivo atuem de forma ponderada, sobretudo no que se refere a ações que visem a promover uma retomada econômica, considerando o grande impacto que os investimentos para a superação da pandemia já trouxeram ao erário e aos brasileiros.
Outro tema trazido à conversa foram, propriamente, as eleições para a nova legislatura, que se inicia em 2023. A corrida eleitoral promete ser desafiadora, embora ainda não se conheçam exatamente quais serão os efetivos candidatos.
Em um cenário ainda em construção, o setor produtivo acompanha os desdobramentos deste contexto e deseja que a escolha dos brasileiros seja consciente e priorize as melhores propostas de soluções para o país.
A Eletros, através do seu Presidente Executivo, participou, no dia 23 de fevereiro, a bordo do Barco-escola Samaúma II, da prévia da 302ª Reunião Ordinária do Conselho de Administração da Suframa (CAS), presidida pelo superintendente da Suframa, general Algacir Polsin.
No debate, estiveram também presentes representantes da Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade (Sepec), do Ministério da Economia, e do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovações.
A reunião do CAS foi realizada em 24 de fevereiro, na sede da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), no distrito industrial.
A Eletros participou do Seminário RedIndústria, que ocorreu nos dias 01 e 02 de fevereiro, e que teve como propósito reunir os representantes da indústria para escolher as propostas que serão publicadas na Agenda Legislativa da Indústria 2022, a ser lançada no dia 29 de março. A equipe da Eletros acompanhou os grupos virtuais temáticos, que tiveram como destaque a legislação trabalhista, meio ambiente, infraestrutura, sistema tributário e relações de consumo.
ENTREVISTA
Emerson Marçal, economista, coordenador do Centro de Estudos em Economia Aplicada e professor FGV EESP (Escola de Economia de São Paulo)
“PARA VOLTAR A CRESCER, BRASIL PRECISA IMPLEMENTAR AS REFORMAS”.
Em 2020, quando os casos de Covid-19 começaram a se multiplicar no Brasil e ainda não havia sido estabelecido um plano efetivo de combate à propagação do vírus, a previsão média de crescimento do PIB girava em torno de 2,3%
No entanto, com a publicação do relatório do Laboratório de Previsão do Centro de Estudos em Economia Aplicada da FGV EESP, no início de março de 2020, o mercado começou a rever os seus prognósticos.
O relatório, coordenado pelo economista Emerson Marçal, previa, em um cenário mais realista, uma queda de 4,4% no PIB brasileiro em 2020, com uma gradual recuperação até 2023. Segundo o IBGE, o PIB do Brasil caiu 4,1% naquele ano.
O Conectados entrevistou Emerson Marçal, coordenador do Centro de Estudos em Economia Aplicada e professor da FGV EESP – Escola de Economia de São Paulo, para analisar quais são as perspectivas para este ano.
Confira!
Conectados: Como o aumento dos casos de contaminação pela variável Ômicron, a Influenza e a campanha eleitoral podem afetar o desempenho da economia?
E.M: De 2020 para cá, muita água passou por baixo da ponte. Previa-se uma certa volta à normalidade, mais ordenada, mas parece que o contexto está um pouco pior. A questão da pandemia, que continua em aberto, infelizmente já está afetando a economia em 2022. Porém, há outros desafios que não foram resolvidos e até pioraram, como o ajuste fiscal, por exemplo.
Tanto o avanço da Ômicron quanto a campanha eleitoral não oferecem motivos para otimismo sobre o que vem pela frente. O Brasil está, neste momento, em uma certa estagnação e será difícil esse cenário ser revertido. A não ser que aconteça alguma boa, a tendência é que o país continue a apresentar números que não são exuberantes.
Um fator fundamental para a retomada do crescimento econômico é a agenda do próximo governo, que precisará tomar várias decisões que já deveriam ter sido tomadas e não foram. Uma hora a conta chega.
Conectados: O Sr. disse que algumas variáveis até pioraram. Qual a que mais piorou e requer mais cuidado?
E.M: A questão fiscal, que já era difícil antes da pandemia, não foi resolvida. Agora está ainda mais difícil. Ao mesmo tempo em que a dívida pública deu um salto, o governo está tendo dificuldade de fazer um ajuste fiscal.
Tem toda a discussão de teto de gastos e de reorganização da despesa pública. Essas decisões foram postergadas e devem ficar para o próximo governo. Enquanto não se consertar as contas fiscais, fica difícil acertar o resto. Porque a conta do governo brasileiro é salgada, ele não consegue tocar projetos de infraestrutura, projetos de investimento e não consegue ter um mínimo de eficiência nos gastos públicos.
Isso está atrapalhando principalmente o Governo Federal. Os estados receberam algumas transferências e uma certa ajuda logo após o início da pandemia, o que deu um certo alívio nas contas estaduais.
O Governo Federal acabou fazendo ajuste via inflação. A melhora do superavit primário via arrecadação é fruto de uma inflação forte que aumentou a receita, mas manteve as despesas relativamente congeladas, o que é o pior ajuste fiscal possível. Ganha-se um tempo, porém, mais para frente o país voltará a ter os mesmos problemas.
Conectados: É um ajuste que amplia a desigualdade, deprime o consumo, o que afeta também a indústria.
E.M: É difícil reduzir desigualdade numa economia estagnada, como também é difícil reduzir a pobreza e gerar uma melhora expressiva do país sem o crescimento econômico.
Mas, parte dos recursos que deveriam ser alocados para o crescimento econômico estão sendo alocados para outros destinos. É preciso promover uma revisão profunda do setor público brasileiro, que há décadas vem sendo postergado, e passar a olhar com mais cuidado para a estrutura do Estado no Brasil.
Conectados: Há décadas a economia brasileira vem apresentando um desempenho aquém de seu potencial. Além da reforma no setor público, o que é preciso fazer para termos um crescimento maior e mais sustentado da economia?
E.M: É preciso melhorar a infraestrutura do país. É preciso ter obras. Se o governo não consegue tocar, é preciso adotar uma forma mais agressiva, fazer parcerias com o setor privado. Isso já vem melhorando, mas ainda há muita coisa a ser feita
Também é necessário promover uma abertura econômica. O Brasil ainda é um dos países mais fechados do mundo. E isso é uma outra oportunidade perdida. O país passou décadas negociando o acordo com a União Europeia e, quando estava tudo fechado, o governo acabou se atrapalhando com a questão da Amazônia, o que deu motivos para que países europeus mais protecionistas, que não queriam o acordo, o brecassem na União Europeia. Desperdiçamos uma oportunidade e deixamos de ter acesso ao mercado europeu, que queria ter uma resposta rápida para dar uma solução ao Brexit. Esse contexto favorecia o Brasil, o acordo já estava fechado, mas para ser implementado, o Brasil vai precisar reformular a sua agenda ambiental.
Conectados: Qual a sua análise sobre o real? A moeda deve continuar desvalorizando ou deve haver uma valorização?
E.M: Depende do que vem pela frente. Se olharmos para os números frios do setor externo, vamos perceber que esta crise é diferente da dos anos 80. As contas externas estão relativamente equilibradas. Houve uma desvalorização no final do governo Dilma, mas que, bem ou mal, já passou por um ajuste. A dinâmica das contas externas brasileiras consegue proporcionar o fluxo necessário para a economia do país operar as divisas que precisa para manter-se funcionando.
No entanto, essa saída de capitais deixou uma sequela: ainda não foi restabelecido um clima de confiança em relação ao país. Muito pelo contrário. Estabeleceu-se um clima de pessimismo com o Brasil desde então, o que provocou o aumento da taxa de juros.
Para se restabelecer este otimismo, o próximo governo precisa apresentar um plano de voo crível e implementar este plano de voo de forma correta e que faça sentido econômico.
Se isso for feito, não só este movimento de desconfiança vai ser interrompido, como certamente a confiança pode voltar e a cotação nominal do dólar vai aumentar. A dúvida vai ser via inflação ou via valoração nominal da moeda. É preferível que seja pela segunda via.
Conectados: Pode haver algum elemento surpresa no comportamento inflacionário?
E.M: O Banco Central vai ter que apagar um incêndio que deixou se alastrar por um bom tempo. A consequência dessa demora no ajuste é o aumento dos juros. No fundo, é simples: é aplicar o livro-texto de economia. Enquanto a inflação não ceder, será preciso aumentar os juros. O Banco Central já está fazendo isso há algum tempo, mas o efeito dessa política ainda não aconteceu.
Seria mais fácil visualizar os efeitos da alta dos juros se ela viesse acompanhada do ajuste fiscal. Isso geraria uma combinação de juros mais baixos e crescimento mais alto. Mas essa combinação não vai acontecer tão cedo.
Conectados: Tanto aumento de juros e da inflação podem prejudicar o consumo?
E.M: Se o governo quer comer maior parte do bolo, alguém vai ter que comer menos bolo. Esse alguém é o consumo das famílias. Esse é o trade-off.
Como não conseguimos aumentar o déficit externo para financiar gastos acima do PIB por causa deste momento de mal-estar do Brasil com os investidores internacionais, a alta do câmbio serve para impedir que as pessoas gastem mais. O câmbio é um dos mecanismos que está contendo o consumo. Outro mecanismo é o aumento dos juros, que também está segurando o consumo.
A forma para que este remédio não fosse mais amargo, seria o governo diminuir seus gastos ou aumentar o superávit, o que abriria espaço para o aumento do consumo. Mas esse movimento não está acontecendo no atual cenário.
O correto para aumentar o consumo de famílias seria promover uma política fiscal e monetária adequada, o que traria otimismo para o Brasil, valorizaria o câmbio e permitiria o que o nosso déficit comercial aumentasse um pouco. Na prática, o consumo teria uma ligeira alta e seria o canal de alívio do consumo das famílias, mas isso não vai ocorrer no curto prazo.
Conectados: O que ocorrerá com a cadeia global de insumos?
E.M: A crise nas cadeias globais chegou com a pandemia e só deve ser resolvida com a superação da pandemia. O pior talvez já tenha ficado para trás. Muitos contratos chegaram a ser cancelados ou não foram renovados e a indústria de componentes migrou para a indústria de computadores. Agora, começa um movimento de renovação desses contratos, e os fornecedores, em algum momento, devem se voltar para a indústria novamente. Com isso, restaura-se o equilíbrio e os gargalos de fornecimento da indústria deverão diminuir.
Conectados: Como se avalia o impacto do Custo Brasil para 2022?
E.M: O grande custo para a economia brasileira é a bagunça tributária. Devia-se reformar o sistema, mas essa agenda não andou nos últimos anos. Medidas como a adoção de impostos mais neutros, a reforma do ICMS, tributação no destino e não na origem surtiriam resultados. Alguns consensos de reforma tributária poderiam ser implementados, o que já ajudaria a indústria a vencer seus desafios.
Na sequência, é preciso apontar também a necessidade de se melhorar o setor de obras e infraestrutura; a urgente necessidade de se qualificar melhor a mão-de-obra, que é um dos maiores custos advindos com a Covid-19 para a indústria. E, por fim, promover e incentivar a abertura econômica, para que a indústria tenha acesso a insumos novos, maquinário moderno, tecnologia de ponta. Quanto mais integração com o resto do mundo, melhor.
Conectados: O ministro Paulo Guedes sugeriu uma redução do IPI geral. Qual a tua avaliação?
E.M: Se vai mexer em parte do sistema tributário, devia-se alterar outras regras também. Uma reforma no ICMS também seria favorável a um aumento do consumo. São impostos que têm um funcionamento semelhante.
Também é preciso olhar para os gastos fiscais, porque o orçamento já não tem espaço para acrescentar mais despesas e diminuir receitas.
ARTIGO ELETROS
RETOMADA DO CRESCIMENTO DEPENDE DE UMA NOVA CONJUNTURA
Por Jorge Nascimento, presidente da Eletros
Os números consolidados de 2021 refletem aquilo que já vínhamos observando ao longo de todo ano passado, ou seja, um cenário macroeconômico marcado pela desvalorização do real frente ao dólar, inflação, custo Brasil elevado, encarecimento dos insumos e dos fretes internacionais.
Ainda que tivéssemos registrado um desempenho bastante positivo na primeira metade do ano, toda essa conjuntura desfavorável fez com que o consumo perdesse tração no segundo semestre e terminassem o ano com queda de 7,2%.
Mesmo com todos os esforços para conter os repasses de preço dentro de uma margem viável, as altas taxas de desemprego e a queda na renda em relação a 2020 tiveram influência na confiança do consumidor, que optou por não se comprometer.
Além disso, parte considerável destes consumidores passaram a retomar os gastos com serviços como lazer, turismo, entre outros, o que já era esperado e perfeitamente compreensível.
Para revertermos esse resultado em 2022 e retomarmos o caminho do crescimento, precisamos de uma significativa melhora nos indicadores econômicos, o que impactaria positivamente o mercado consumidor. Essa é nossa expectativa em relação ao Poder Público.
Da nossa parte, temos uma indústria local que é globalmente competitiva, geramos um volume consistente de empregos de qualidade e temos plena consciência de nossa responsabilidade em cooperar com o desenvolvimento do nosso país.