17/02 – Fonte: Em Tempo
O Polo Industrial de Manaus (PIM) sofreu sua pior queda dos últimos quatro anos em 2020 e agora luta para se recuperar no primeiro trimestre do novo ano
VANESSA LEMES E MARIA EDUARDA OLIVEIRA
Manaus – Desde o início da pandemia, a produção industrial no Amazonas vem enfrentando obstáculos para se reestabelecer. Em dezembro, a indústria no estado apresentou queda de 3,7%, em comparação com o mês anterior, segundo dados do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatísticas (IBGE), divulgados em fevereiro. Representantes da indústria afirmam que, somente com a imunização completa da população amazonense através da vacina contra a Covid-19, o setor será capaz de se recuperar totalmente.
Além do último resultado mensal, no acumulado de 2020, a indústria no Amazonas sofreu uma queda de 5,5%, em relação ao ano passado, caracterizada como a pior dos últimos quatro anos, de acordo com o IBGE. O único resultado positivo recente foi o de novembro do mesmo ano, onde foi observado um crescimento de 13,06% no faturamento do Polo Industrial de Manaus (PIM). Contudo, em dólar, o desempenho foi inferior, com uma retração de 14,91% no mesmo período.
Com o saldo negativo, representantes da atividade industrial tentam visualizar as expectativas para 2021. Um deles é o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (Fieam), Antônio Silva, que mesmo acreditando que ainda é cedo para prever o faturamento no primeiro trimestre do ano, julga que haverá mais uma queda na produção.
Silva conta que as fábricas do PIM estão funcionando dentro do acordo de restrições feito pelo estado em função da segunda onda da Covid-19. Segundo ele, todos os segmentos industriais precisam se recuperar para lucrar como estavam antes da pandemia, porém, será um desafio diante das medidas restritivas impostas.
Insumos
Outra adversidade citada é a falta de insumos, que ainda continua sendo um problema para as fábricas. O presidente explica que, consequentemente, essa situação afeta o consumo, por ter que diminuir a produção. Para Silva, o setor só irá apresentar resultados mais satisfatórios por meio da contenção do vírus.
O presidente do Centro da Indústria do Estado do Amazonas (Cieam), Wilson Périco, também esclarece como o setor tem sido afetado pela pandemia. Ele conta que, com a segunda onda e o estado na fase roxa anteriormente, e agora vermelha, a falta de oxigênio diminuiu a produção do setor de Duas Rodas e do segmento de ar-condicionado, ambos vistos como peças chaves no faturamento do PIM.
Périco explica que uma das restrições é representada pelo trabalho noturno no Polo Industrial. Os colaboradores de algumas empresas iniciam o expediente antes das 19h e saem depois das 6h da manhã. Já outras, que tinham o terceiro turno com contrato temporário de mão de obra, acabaram deixando de renovar os contratos. “Agora vai depender muito do mercado, da demanda dos produtos, para saber se esse terceiro turno será necessário”, informa.
Segmentos que sustentaram o PIM
Mesmo em meio as perdas, alguns segmentos foram capazes de segurar o faturamento no PIM. O setor Eletroeletrônico apresentou os melhores resultados do ano, com um rendimento de R$ 27,20 bilhões e crescimento de 5,63%. Já o de Bens de Informática do Polo Eletroeletrônico, apresentou faturamento de R$ 29,15 bilhões e crescimento de 32,86% Essa área contribuiu, inclusive, com mais da metade do montante total faturado entre janeiro e novembro de 2020. O setor Químico também fez a diferença, apresentando rendimento de R$ 9,20 bilhões e crescimento de 6,78%.
De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros), José Jorge Nascimento Júnior, o setor se desenvolveu bem em 2020, dadas as circunstâncias, mas deve superar as expectativas neste ano. Com o retorno das atividades produtivas no dia 13 de janeiro, ele afirma que houve uma queda de 30% na produção. Entretanto, neste momento as empresas estão a todo o vapor tentando recuperar as perdas.
Para 2021, Jorge Júnior elucida que existe uma nova dificuldade em relação a importação de insumos, pois o frete internacional, que antes era de US$ 4 mil, passou para US$ 10 mil o contêiner. Além disso, ainda há o receio de uma segunda onda no país. “Com isso, teríamos o varejo bloqueado por conta de uma nova crise nacional e naturalmente local”, completa.
Maiores afetados
De acordo com o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do Amazonas (Sindmetal), Valdemir Santana, com a pandemia, os principais afetados foram os trabalhadores da indústria. Mesmo sem a paralisação das atividades produtivas em sua totalidade, os metalúrgicos enfrentaram dificuldades financeiras pela inflação do aluguel, da alimentação, do gás de cozinha e da energia elétrica.
Apesar do funcionamento parcial de algumas empresas, pela dificuldade de conseguir insumos e pelas restrições, Santana relata que não houveram tantas demissões desde o início da pandemia até dezembro de 2020. Contudo, a situação mudou em janeiro deste ano. “Na verdade, tivemos mais de 6,5 mil contratações de mão de obra temporária. O que aconteceu foi que algumas empresas não cumpriram a demanda de contrato por falta de materiais para a fabricação. […] No entanto, somente de janeiro para cá, já tivemos 1.800 demissões”, revela.
O presidente do Sindmetal conta também que muitos metalúrgicos morreram por conta da Covid-19 durante o ano passado e agora em 2021. Ele lamenta as perdas, mas deixa claro que os trabalhadores e suas famílias possuem plano de saúde.