13/01 – Fonte G1 – Economia
Vendas do comércio caem 2,5% e setor tem pior março desde 2003
Alta nas vendas de atividades essenciais como supermercados limitou perdas do varejo em meio à pandemia. Setor fechou o 1º trimestre com queda de 2%.
As vendas do comércio varejista caíram 2,5% em março, na comparação com fevereiro, segundo dados divulgados nesta quarta-feira (13) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Trata-se do pior resultado para meses de março desde 2003, quando o setor caiu 2,7%, e da menor taxa mensal desde janeiro de 2016 (-2,6%).
Na comparação com março de 2019, o comércio recuou 1,2%. Foi a primeira queda na comparação anual após 11 meses consecutivos de altas.
O IBGE também revisou a taxa de fevereiro, em relação a janeiro, de 1,2% para 0,5%. Veja gráfico abaixo:
Com a forte queda em março, o comércio passou a acumular alta de 1,6% no ano e 2,1% nos últimos 12 meses. O patamar de vendas passou a ficar situado 7,4% abaixo do recorde alcançado em novembro 2014. Em fevereiro, essa distância era de 5,1%.
O resultado de março reflete a baixa demanda e a fraqueza da economia, e mostra os primeiros impactos da pandemia de coronavírus no país, com boa parte das lojas fechadas ou funcionando apenas no sistema delivery. Vale lembrar ainda que o início das medidas restritivas e do período de confinamento não atingiu todo o mês de março e que perspectiva é de um tombo ainda maior em abril.
Queda de 2% no 1º trimestre
Segundo o IBGE, o comércio encerrou o primeiro trimestre do ano com uma queda de 2% na comparação com o quarto trimestre de 2019. Foi a queda mais intensa desde o 1º trimestre de 2016, quando caiu 2,7%.
Vendas em supermercados saltam e limitam perdas do varejo
Segundo o IBGE, a queda só não foi mais intensa por causa de áreas consideradas essenciais durante o período de isolamento social, em especial as vendas de hipermercados, supermercados, produtos alimentícios e bebidas (14,6%) e do segmento de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos, de perfumaria e cosméticos (1,3%). Foram os únicos setores dos 8 pesquisados com avanços nas vendas frente a fevereiro.
Já os maiores tombos ocorreram nas vendas de tecidos, vestuário e calçados (-42,2%), livros, jornais, revistas e papelaria (-36,1%), outros artigos de uso pessoal e doméstico (-27,4%) e móveis e eletrodomésticos (-25,9%).
A pesquisa do IBGE mostra ainda que no comércio varejista ampliado, que inclui veículos e materiais de construção, o volume de vendas desabou 13,7% em março. Foi a queda mais intensa desde o início da série, iniciada em fevereiro de 2003. O tombo foi pressionado pelo setor de veículos, motos, partes e peças (-36,4%), enquanto material de construção teve recuo de 17,1%.
“Na passagem de fevereiro para março houve variação de dois dígitos em todas as atividades, com exceção de produtos farmacêuticos. Vale lembrar que hipermercados vendem não apenas produtos alimentícios, mas também vestuário, móveis e eletrodomésticos. Isso faz com que essa atividade tenha sofrido um rebate para cima, porque parte desses produtos tiveram as vendas transferidas das lojas especializadas para hiper e supermercados”, avaliou o gerente da PMC, Cristiano Santos, acrescentando que a participação do segmento no comércio estava abaixo de 50% e saltou para 55% em março.
Veja o desempenho de cada atividade do varejo em março:
- Combustíveis e lubrificantes: -12,5%
- Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo: 14,6%
- Tecidos, vestuário e calçados: -42,2%
- Móveis e eletrodomésticos: -25,9%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: 1,3%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: -36,1%
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: -14,2%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: -27,4%
- Veículos, motos, partes e peças: -36,4% (varejo ampliado)
- Material de construção: -17,1% (varejo ampliado)
O pesquisador enfatizou que das seis atividades com em queda, cinco foram diretamente impactadas pelas medidas adotadas por estados e municípios com o fechamento de comércio de serviços não essenciais. A exceção foi para a atividade que combustíveis e lubrificantes, que não foi impactada pelo fechamento de estabelecimentos, mas foi diretamente impactada pela menor circulação de pessoas e menor demanda.
Segundo o IBGE, do total de 36,7 mil empresas da amostra da pesquisa, 14,5% relataram impacto do isolamento social em suas receitas, que se iniciou em algumas capitais a partir da segunda quinzena de março.
“Quem relata impacto da Covid-19 apontou uma variação negativa de 23% nas vendas na comparação com fevereiro, enquanto aquelas que não reportaram impacto da pandemia tiveram uma variação positiva nas vendas de 1,5%”, destacou o pesquisador.
Vendas recuam em 26 das 27 unidades da federação
Na análise por regiões, houve queda nas vendas do varejo em dezembro em 26 das 27 unidades da federação, com destaque para: Rondônia (-23,2%), Amazonas (-16,5%) e Acre (-15,7%). Apenas em São Paulo houve alta (0,7%).
Já no comércio varejista ampliado, que inclui as vendas de automóveis e materiais de construção, houve recuo em todas os estados, com destaque para: Rondônia (-23,8%), Sergipe (-20,0%) e Acre (-19,4%).
Perspectivas
O mercado passou a projetar retração de 4,11% do PIB em 2020, segundo o último boletim Focus Banco Central. Já o FMI prevê queda de 5,3% do PIB do Brasil neste ano.
Na véspera, o IBGE mostrou que volume de serviços prestados no Brasil teve queda recorde de 6,9% em março, o pior resultado da série histórica iniciada em 2011. Com o resultado, o setor, que tem forte peso no PIB, encerrou o 1º trimestre do ano com uma queda de 3% na comparação com o quarto trimestre de 2019.
Já a produção industrial tombou 9,1% no mês de março – pior resultado para meses de março desde 2002. Com o resultado, a indústria registrou queda de 2,6% no 1º trimestre, na comparação com os 3 últimos meses do ano passado.
“Estes dados fechados apontam que a queda do PIB do 1º trimestre em relação ao 4º trimestre de 2019 foi de 1,7% e reforçam a perspectiva de uma queda do PIB em 2020 de pelo monos 4% na variação acumulada contra o ano anterior”, avaliou o economista da Necton, André Perfeito.