28/02 – Fonte: Jornal do Commércio (Manaus/AM)
Assim como 2019, embora com menor ênfase, 2020 começou em clima de otimismo para a indústria eletroeletrônica. A expectativa do setor é que o ambiente econômico comparativamente melhor, em virtude da Reforma da Previdência e das medidas governamentais para azeitar a microeconomia nacional, daria o necessário empurrão na confiança e na demanda, em ano de Olimpíadas e eleições. O estrangulamento logístico global promovido pelo coronavírus e o breque na atividade fabril da China, Coreia do Sul e países vizinhos do Sudeste Asiático trouxe uma sombra de dúvida em relação à concretização desse cenário. Tratam-se justamente dos principais mercados fornecedores para o braço eletroeletrônico do Polo Industrial de Manaus e muitas fábricas ao redor mundo já sentem os efeitos da interrupção da cadeia global de suprimentos, ficando sem insumos para manufaturar bens finais. Na avaliação do presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Jose Jorge do Nascimento, o PIM ainda tem fôlego para atravessar até três meses de produção e não deve ter seus resultados do Dia das Mães, comprometidos por esse entrave. A data comemorativa é a segunda mais forte para o setor e só perde para o Natal. Mas, prossegue o dirigente, mantidas as atuais condições, as indústrias do Polo devem ter dificuldades em maio, em função do atraso nos atuais carregamentos. Outro obstáculo que se avizinha vem das incertezas em torno da Reforma Tributária em relação à manutenção das vantagens comparativas da ZFM. Na conversa com o Jornal do Commercio, o presidente da Eletros reafirma a confiança da entidade na defesa parlamentar do modelo e em sua perenidade para as próximas décadas, além de tratar de outros assuntos, como a indústria 4.0. Leia, a seguir, a entrevista na íntegra.
Jornal do Commercio – O coronavírus reduziu a produção de componentes no continente asiático e instalou uma quarentena logística global, afetando a atividade de fabricantes em todo o país, inclusive no Brasil. Qual é a atual situação nos estoques das fábricas de eletroeletrônicos do PIM? O que pode e está sendo feito?
José Jorge do Nascimento – Sobre a questão dos estoques, está tudo sendo administrado. Nos próximos dois meses e meio ou até três meses, não devemos ter problemas. A partir de maio é que talvez enfrentemos algum risco de realmente ficarmos sem insumos, em virtude dos navios que deveriam ter saído da China em fevereiro, mas não saíram. É uma média de três meses de viagem entre lá e aqui. Então, talvez tenhamos esse risco em algumas unidades do PIM, nesse período. Algumas empresas estão avaliando trazer esses componentes de avião.
JC – É verdade que, diante do avanço do dólar e do próprio coronavírus, os fabricantes de eletrônicos estão elevando suas compras de componentes locais e nacionais?
JJJ – Aquelas empresas que têm como adquirir mais produtos nacionais, fazem isso. Então, essa elevação vai depender do modelo de negócio de cada empresa. Só que nem todos os componentes são fabricados no Brasil e o verdadeiro problema está nos insumos que são fabricados exclusivamente na China.
JC – É cedo para falar sobre as expectativas do segmento para o Dia das Mães? Quais as projeções e quais linhas de produtos da ZFM devem se sair melhor?
JJJ – O Dia das Mães é o segundo Natal do ano em relação ao consumo e é uma data muito importante. Temos uma expectativa muito boa de ter um crescimento de até 5% nas vendas. Os produtos que mais se destacam são, sem dúvida alguma, linha branca, a exemplo de lavadoras e geladeiras, além de eletroportáteis de uso pessoal, como chapinha e secadores de cabelo.
JC – Em que estágio o PIM, e a manufatura brasileira como um todo, estão em relação à indústria 4.0?
JJJ – O segmento eletroeletrônico foi um dos primeiros que teve influência da indústria 4.0. E a grande maioria das fábricas do polo já adota procedimentos em processos da indústria 4.0. O que se produz no Polo Industrial de Manaus são produtos de ponta e eles têm que seguir a linha mundial. Então, de uma forma geral, as fábricas instaladas na capital amazonense estão adaptadas. Outras já estão se adaptando nesse sentido, para produzir em ordem global.
JC – O Congresso já montou uma comissão mista para a Reforma Tributária, na qual participam dois senadores amazonenses e apenas um deputado federal do Estado. Por outro lado, a comissão não é deliberativa e o governo ainda não apresentou suas fichas. Quais as chances da ZFM nesse jogo?
JJJ – A Eletros confia e acredita muito nos deputados e senadores do Amazonas, em relação à defesa da Zona Franca de Manaus. É importante termos os parlamentares da bancada do Estado – que são muito atuantes – nessa discussão. Nós acreditamos, sim, que as vantagens da ZFM serão mantidas na Reforma Tributária.
JC – A Zona Franca está completando 53 anos e o polo eletroeletrônico, além de ser o maior em faturamento, é um de seus pioneiros. Qual o balanço da Eletros em relação ao modelo, em termos do que deu certo e errado, bem como o que deve ser mantido e o que deve mudar? E, diante disso, quais as perspectivas da ZFM para os próximos 53 anos?
JJJ – O modelo de desenvolvimento da Zona Franca de Manaus é exitoso e o mais bem sucedido do país. Nós, do segmento eletroeletrônico, sempre fomos muito presentes no modelo, desde sempre. Um dos primeiros subsetores industriais a se instalar na capital amazonense foi o eletroeletrônico. Temos consciência e orgulho de ter dado grande colaboração para o sucesso da ZFM. Hoje, somos os maiores em faturamento e em geração de empregos, com produtos de ponta que são fabricados globalmente e também produzidos em Manaus. Esperamos poder ter ainda muitos anos de muito sucesso. Estamos em um momento de transição e mudança real. É mais uma nova fase que se inicia. E o segmento eletroeletrônico, liderado pela Eletros, tem enviado muitos esforços no sentido de fazer com que esse modelo se fortaleça ainda mais.