O FUTURO DA INDÚSTRIA – RODOLFO ARRUDA CABRAL
RODOLFO ARRUDA CABRAL
A transformação digital deverá impactar positivamente a indústria e seu futuro, a exemplo de como já vem ocorrendo de forma acelerada no setor de serviços, em especial no pós-pandemia. Para compreender os principais fenômenos e fatores que serão determinantes para a evolução do setor produtivo industrial, conversamos com Rodolfo Arruda Cabral, da consultoria 4Intelligence que traçou um panorama completo de como a tecnologia aliada às novas competências profissionais poderão nos ajudar a construir um futuro de mais oportunidades focadas na inovação. Confira:
1.Como o uso de dados e a utilização de inteligência artificial podem contribuir para o futuro da indústria?
Vivemos a era dos dados. Hoje no mundo, o que não nos faltam são informações. Todos os dias somos bombardeados por notícias e números. Em paralelo, sob diversos aspectos, empresas falham ao não combinar dados com tecnologia e acabam por naufragar nesse mar caótico. Saber utilizar informações e possuir processos robustos de tomada de decisão é determinante para o sucesso da indústria brasileira no futuro.
Um primeiro passo para a otimização do uso dos dados em processos de decisão é entender a importância de se medir coisas de forma adequada e organizada. Devemos deixar que os dados sejam úteis. Se vamos utilizar dados na construção de regras de decisão, devemos cultivá-los e deixá-los em formatos aproveitáveis para gerar inteligência. O foco deve ser no que de fato agrega valor.
Um segundo passo relevante é a automatização e o desenho de processos. Mais do que ter os dados, devemos nos esforçar para que o seu uso ocorra de forma eficiente. São exemplos comuns de ineficiência: números amontoados em planilhas dispersas entre os mais diversos times, ausência de padronização de informações, processos manuais e repetitivos de coleta e tratamento etc. Quando lidamos com muitas informações, é necessário que utilizemos as ferramentas corretas para ganharmos agilidade.
Por fim, a inteligência. Não adianta termos um universo de dados organizados e prontos para uso se eles sozinhos não são capazes de responder perguntas relevantes do negócio. É aqui que entram o entendimento das necessidades do decisor, os conhecimentos estatísticos/econométricos e as ferramentas de inteligência artificial que propiciam a construção ágil de modelos que efetivamente auxiliam na resposta e empoderam o tomador de decisão.
Em resumo, a combinação de dados e inteligência artificial está se tornando um elemento essencial para o sucesso da indústria. Avançar no que tange à automatização de processos e facilitação das tomadas de decisão por meio da construção de informações relevantes é questão de vida ou morte. O tempo é escasso.
2.Para deixarmos mais tangível, você teria exemplos dessas informações relevantes?
Claro! Vou citar alguns tipos de perguntas que já tivemos o privilégio de ajudar a responder: 1) Quais seriam as projeções para minhas vendas, em bases mensais, até o ano que vem? 2) Qual é a importância da variável “X” nas minhas vendas? Se eu aumentar em 1% essa variável, em quanto eu aumento ou diminuo as minhas vendas? 3) Como deverá se comportar o preço do insumo Y ao longo do segundo semestre? 4) Tenho que abrir 50 lojas pelo país, onde posso abri-las? 5) Como posso otimizar o meu estoque tendo em vista o cenário econômico futuro? 6) Um investimento de R$ Z milhões de reais em determinada indústria gerará quantos empregos no total? 7) Qual seria a magnitude dos impactos econômicos provocados pela implementação de uma nova política de descarbonização? 8) Como posso utilizar imagens de satélite para fazer monitoramento de safra? 9) Como posso reduzir perdas e aumentar a chance de recuperação em minha política de crédito?
3.Aparentemente, dados econômicos são muito importantes para responder as questões acima, correto?
Correto. Variáveis econômicas são essenciais para quase todas aquelas perguntas. Nesse sentido, é importante que os dados econômicos provenham de um bom time de economistas. Conseguir compreender o contexto econômico e traduzi-lo para um determinado setor é fundamental.
4.Em um cenário econômico desafiador, variáveis como a gestão de custos e poder de compra da população são fatores importantes na estratégia de qualquer empresa do nosso setor. Qual a importância de se detectar novas necessidades e tendências para superar as adversidades do momento?
Exatamente. Mais uma vez temos a importância dos dados e da tecnologia. Saber como os preços dos insumos devem se comportar no horizonte próximo e também saber a influência da renda real das famílias sobre as vendas são questões-chave. O bom mapeamento dos fatores que impactam a demanda é fundamental para que se possa explorar necessidades e tendências e isso pode ser sim um componente importante para a superação de adversidades. Estar à frente no monitoramento de fatores relevantes e antecipação de movimentos pode ser um grande diferencial competitivo.
5.Em sua opinião, quais são os pilares para a manutenção da competitividade da indústria nacional?
Para além da resolução de questões estruturais no que concerne à infraestrutura logística, capital humano, regime tributário etc.; em uma perspectiva de médio e longo prazos, acredito que dois fatores sejam essenciais para a manutenção da competitividade: 1) Abertura Comercial. A indústria deve se apoiar na abertura como forma de se renovar e se inserir nas cadeias globais. Ressalto que tal processo deve ser feito de forma ordenada e sob uma estratégia de política industrial. O diálogo é essencial. 2) Automatização e inteligência de dados. A indústria deve se adaptar mais rapidamente às mudanças recentes e atacar mais contundentemente pontos de ineficiência em processos. Perdemos muito ao não conseguirmos utilizar os dados a nosso favor. Deixamos de vislumbrar oportunidades por não fazermos perguntas.