29/07 – Fonte: O Globo
Com o avanço da vacinação, o setor prevê resultados melhores de junho a dezembro
Raphaela Ribas e Eliane Oliveira
RIO E BRASÍLIA – Depois de um início de ano vendo o recrudescimento dos casos de Covid-19 e o fim do auxílio emergencial, o varejo registrou resultados positivos entre abril e junho, graças aos dias das Mães e dos Namorados. Para este segundo semestre, com o avanço da vacinação, a perspectiva é de melhora, ainda que a inflação possa corroer parte da poupança acumulada durante a pandemia.
Livio Ribeiro, pesquisador associado do FGV/Ibre e sócio da BRCG consultoria, ressalta que a inflação vai pressionar a renda familiar, reduzindo o poder de compra.
– Houve uma retomada no primeiro semestre. A discussão é se ela volta para onde estava antes da Covid ou se cresce a partir dali. O cenário não é de contração, mas, provavelmente, de desaceleração – diz Ribeiro. – A recuperação completa depende do mercado de trabalho.
As administradoras de shopping centers começam em breve a divulgar seus dados de vendas. Mas executivos afirmam esperar recuperação de parte das perdas dos primeiros três meses do ano.
A Ancar Ivanhoe, com 24 shoppings no país, registrou salto de 84% nas vendas em junho, na comparação com abril, mês de reabertura do comércio. Segundo o copresidente, Marcos Carvalho, a expectativa é fechar 2021 com resultados próximos ao período pré-pandemia.
Já Jini Nogueira, diretora comercial da brMalls, com 31 shoppings, afirma que, com a vacinação e o afrouxamento das restrições, o fluxo de clientes está sendo retomado:
– Nos períodos de maior restrição, os clientes passavam em média 45 minutos conosco, sendo bastante objetivos em suas compras. Agora, ficam em torno de uma hora.
Vestuário e calçados
O economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, projeta que as vendas no varejo desacelerem no trimestre corrente, com alta de 0,5%. Ainda assim, o segundo semestre deve fechar com avanço de 4,5%.
Segundo um relatório semanal da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce) com a Cielo, desde a última semana de março, os shoppings registram recuperação nas vendas, com aumento no tíquete médio de compras em relação a 2020.
Calçados e vestuário, diz o presidente da Abrasce, Glauco Humai, têm sido os mais beneficiados, pois não tiveram o mesmo desempenho em vendas on-line que eletrônicos, por exemplo. Para este semestre, sua expectativa é de `otimismo com cautela`:
– Ainda estamos na pandemia – diz Humai.
Freitas, da CNC, também avalia que a venda de roupas ganhará força à medida que as pessoas começam a sair.
O setor calçadista projeta alta de 14,3% na produção este ano frente a 2020, com um desempenho ainda melhor em 2022. Mas condiciona esse avanço à vacinação.
– As perspectivas são boas, mas precisamos que a vacinação aconteça com toda a população, para evitar as variantes – diz o presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira.
A rede de calçados infantis Bibi, por exemplo, ganhou impulso com a retomada das aulas presenciais em várias cidades. A presidente da empresa, Andrea Kohlrausch, conta que, no segundo trimestre, as vendas cresceram 36% frente ao mesmo período de 2019 – ou seja, pré-pandemia.
O comércio de rua também vem se beneficiando. Antônio Carlos Viegas, CEO da marca Moldura Minuto, conta que, desde o início da pandemia, as lojas de rua venderem muito mais do que as dos shoppings:
– Antes era o contrário. Com o fechamento de shoppings e o fato das lojas de rua serem mais abertas, ventiladas, estas ganharam destaque.
Horizonte pós-pandemia
E, de olho no pós-pandemia, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) mapeou o consumo de 16 tipos de produto. A pesquisa aponta que, em um horizonte de 12 meses depois das medidas restritivas, os itens que mais devem ser comprados são roupas, calçados, alimentos nos supermercados e artigos de higiene pessoal.
Pela pesquisa, no pós-pandemia 62% pretendem aumentar os gastos com pelo menos um dos 16 itens. E 38% não pensam em gastar mais. Foram entrevistadas 2 mil pessoas entre 12 e 16 de julho.
Os 16 itens são roupas, calçados, alimentos no supermercado, artigos de higiene pessoal, produtos de limpeza, móveis, cosméticos, utensílios para cozinha, eletroeletrônicos, eletrodomésticos, bebidas não alcoólicas, alimentos prontos, remédios, produtos para pets, bebidas alcoólicas e serviços de streaming.
– No caso dos produtos de higiene e limpeza, o consumo aumentou e deve se manter estável, devido a mudanças nos hábitos dos brasileiros. Já o consumo de roupas e calçados, que caiu, vai aumentar – diz Marcelo Azevedo, gerente de Análise Econômica da CNI e responsável pela pesquisa.
O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, aposta no aumento do consumo, apesar de o desemprego continuar elevado:
– Acreditamos que a classe média fez uma poupança, quando deixou de gastar em muitos itens. Só não sabemos de quanto é essa poupança.
Já para os fabricantes de eletrodomésticos e produtos de linha branca, o cenário pós-pandemia é imprevisível. No último trimestre de 2020, o consumo desses produtos foi forte, segundo a Eletros, com as pessoas ainda investindo em suas casas. Com a vacinação, voltarão a sair e viajar, e o dinheiro terá outras destinações.
– No segundo semestre vamos crescer porque os juros ainda estão muito baixos e o crédito, muito fácil. O consumo das famílias, puxado pelo mercado reprimido, tende a ter um crescimento de 5,2% este ano, o que vai ajudar o PIB – afirma Freitas, da CNC.
Para 2022, ele projeta um cenário mais delicado, porque a expectativa é de uma Taxa Selic maior, com pessoas mais endividadas, o que deve elevar a inadimplência.
Mas, se para este ano as perspectivas são otimistas, para 2022, Freitas, da CNC, projeta um cenário mais delicado, porque a expectativa é de uma Taxa Selic maior, com pessoas mais endividadas, o que deve elevar a inadimplência.